O QUE É DITO E O QUE É OMITIDO
Heduíno Gomes
Passam hoje vinte e cinco anos sobre a morte de Carlos da Mota Pinto.
Grande professor – reconhecem uns. É obra ser reconhecido como competente, alguém que veio do nada e, apenas com a sua cabeça, se impôs aos fortes baronatos da sua área profissional.
Homem sério – reconhecem outros. Excepção entre políticos, todos sabemos!
Político com sentido de Estado – reconhecem ainda outros. Numa época onde o Estado serve amiúde para o negócio privado!
Já não é mau ser reconhecido com estas qualidades! E principalmente se estes reconhecimentos vêm até daqueles que, por razões menos nobres, combateram Carlos da Mota Pinto no campo político, tal é a força dessas verdades. Refiro-me, obviamente, aos seus opositores internos. Alguns desses até lhe fizeram esse elogio fúnebre – bem o previ e bem me lembro.
No entanto, as virtudes políticas de Carlos da Mota Pinto são normalmente omitidas. Até o 25.º aniversário da morte prematura de alguém que foi Presidente do PPD-PSD e ainda muito tinha para dar a Portugal e ao PPD-PSD passa completamente ao lado da atenção dos actuais dirigentes do PPD-PSD – como noutros aniversários com outros dirigentes – que se limitam, como convidados, a participar como jarrões numa iniciativa local.
Percebe-se porquê: são o seu inverso em toda a linha.
A questão é simplesmente esta. Carlos da Mota Pinto, para além das suas qualidades morais, possuía a consciência do domínio ideológico marxista ou marxizante na sociedade portuguesa da época, incluindo no interior do próprio PPD-PSD, assim como o plano para resolver este problema crucial. O plano de desmarxização passava pela formação política dos militantes. Ora isso chocava com os interesses obscurantistas dos barões e jovens barões de então, que, tal como hoje, desejavam um partido de cegos para poderem reinar.
E aí continuam eles.
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Mais Lusitânia publicará uma série de textos evocativos da efeméride, com o que contribuirá para a melhor compreensão da época histórica e do papel de Carlos da Mota Pinto.