sábado, 26 de fevereiro de 2011

O eurolusocídio

José Ribeiro e Castro
O Parlamento Europeu não nos defendeu e o Governo entregou-nos, traiçoeiramente, no Conselho.
Insisto há anos para conhecermos o valor económico da língua portuguesa. Vivemos tempos materialistas - vale pouco o que não pesa em percentagens do PIB. Às tantas, o Governo pareceu agarrá-lo e desencadeou uns estudos. É o caminho certo e novas iniciativas vão-no levando mais fundo.
Agora, a contracorrente, o Governo acaba de dar uma dentada valente precisamente no valor económico da nossa língua: consumou-se a primeira etapa de um "lusocídio" - a exclusão do Português do regime europeu de patentes. O Parlamento Europeu não nos defendeu e o Governo entregou-nos, traiçoeiramente, no Conselho, pela calada da manhã.
O debate parlamentar foi elucidativo. O alemão Lehne, relator, mostrou ao que vêm os entusiastas do regime trilingue de Munique (inglês, francês e alemão): "Se algum Estado - ditou ele - se acha tão importante para querer a tradução das patentes na língua nacional, pague-a!"
Do alto da sua arrogância, nem se apercebeu que o mesmo pode dizer-se para a Alemanha, numa frase que é uma barbaridade para a construção europeia, seus princípios e valores. Mostra a nova ideologia trilingue, que pode vir a ter vastíssimas consequências. Mas nem isso impressiona o Governo português na sua deserção, nem os eurodeputados, que se esquecem de defender o interesse nacional.
Este atentado a valores básicos da União Europeia vem convenientemente embrulhado em mistificações quanto aos "custos" a poupar, no meio de chavões sobre "competitividade", para impressionar quem quer ignorar a realidade. Em Estrasburgo, depois de loas à "competitividade europeia", a ministra Enikö Györi, pela presidência húngara, debitou o argumento conhecido: "Nos EUA, um inventor pode adquirir uma patente para todo o território pelo equivalente a 1850 euros. Na UE, o mesmo custa 20.000 euros para apenas 13 estados."
As coisas não são exactamente assim, mas deixemos os pormenores. Os espanhóis provaram, sem serem contraditados, que todos os custos registais não pesam mais de um a dois por cento dos gastos em I&D no desenvolvimento de qualquer patente. E, desde logo, se a Europa quisesse regime igual ao americano, optaria pela solução do English only, que poderia ser aceitável e que a Comissão e o Conselho abandonaram, com a cumplicidade de Portugal. Por outro lado, falando de competitividade europeia, é evidente que ela já não é uniforme; e ficará pior, se o mercado interno não proteger devidamente a igualdade e a não discriminação. Ora, com o regime de Munique nas patentes, os alemães ficarão ainda mais competitivos e nós, portugueses, ainda menos.
Se pensasse à comunitária, a Comissão deveria assumir para a UE a totalidade dos custos de tradução, como acontece em todos os domínios, em decorrência do multilinguismo dos tratados.
Mas a mistificação é maior. O custo médio de traduzir uma patente para português é de 1000 a 1500 euros, o que não é exorbitante para o trabalho que remunera e a segurança jurídica que proporciona. Aliás, esses "custos" de tradução não são burocracia, mas economia - correspondem a um sector de actividade profissional, altamente qualificado, que irá para o desemprego. E esta actividade económica tem real utilidade cultural e social, proporcionando a rodagem e actualização permanente da nossa língua como língua de ciência e tecnologia. Para Portugal, este sector significa exportações de serviços de 30 a 40 milhões de euros anuais, correspondendo metade às traduções - com o regime de Munique, isto irá perder-se e, em parte, ser substituído por importação.
Mais sintomática é a distorção mental: alemães e Comissão clamam contra "custos" de tradução, mas nada se importam com os custos da burocracia. O Instituto Europeu de Patentes carrega seis mil funcionários e paga-se caro. Se uma tradução custa 1000 a 1500 euros, um pedido de patente europeia custa tipicamente, só em taxas administrativas, cerca de 4000 euros! Com mais alguns requintes: se o requerente se atrasa um dia, apanha uma penalidade de 50 por cento do valor em falta; além do pedido, tem de pagar mais cerca de 1000 euros das primeiras anuidades; há actos muito caros, como, por exemplo, uma busca ou um exame (1800 euros cada) ou uma opinião técnica (mais de 3500 euros). E todas estas taxas para "mangas de alpaca" são principescamente actualizadas: subiram cinco por cento em 2010, um ano em que a inflação na zona euro não chegou a um por cento.
A garantia do Português é que incomoda, desprezando o facto de os "custos" corresponderem a economia, emprego, produção cultural, exportação de serviços. Mas o peso da burocracia de Munique, esse, não tem importância nenhuma! Há melhor evidência da má fé subjacente ao debate? E dos interesses reais que se jogam e impõem?
O Governo desrespeitou a Constituição e a lei de acompanhamento parlamentar. E, a nível europeu, pode arguir-se violação do Tratado de Lisboa. Por isso, a nossa esperança só pode ficar em os espanhóis honrarem a promessa e não darem tréguas no Tribunal de Justiça. Em Bruxelas e Estrasburgo, poucos são os portugueses em que podemos confiar nestas lutas. O Governo traiu. O presidente da Comissão Europeia age, às vezes, como português não praticante. E, no Parlamento Europeu, o retrato foi este: a favor do interesse nacional, só CDS (Nuno Melo e Diogo Feio), PCP (Ilda Figueiredo e João Ferreira) e dois PSD (Carlos Coelho e Graça Carvalho); contra o interesse nacional, todo o PS e a maioria do PSD.
Foi assim o eurolusocídio.

Português excluído com a cumplicidade do Governo

António Justo
A gora que o Parlamento Europeu pôs na ordem do dia a votação das línguas a empregar no regime europeu de patentes muitos dos nossos deputados comportaram-se como mercenários de legiões estrangeiras.
O Português foi excluído com a cumplicidade do nosso governo. Ficou só a ser em inglês, francês e alemão.
Esta iniciativa desrespeita a igualdade e discrimina a capacidade de concorrência no mercado interno. Assim, os mais fortes ficam ainda mais competitivos. Facto é que o Instituto Europeu de Patentes tem seis mil funcionários… Os portugueses que paguem o serviço.
Fonte competente revela que votaram “a favor do interesse nacional, só CDS (Nuno Melo e Diogo Feio), PCP (Ilda Figueiredo e João Ferreira) e dois PSD (Carlos Coelho e Graça Carvalho). Contra o interesse nacional, votou todo o PS e a maioria do PSD”.
Os nossos boys são bem comportados. Depois os países fortes dão-lhes alguns tachos que os compensam do que roubam a Portugal. Depois queixam-se que Portugal vai mal. A democracia diminui em benefício da partidocracia.
Esperemos que os espanhóis levem a coisa a tribunal!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Católicos defendem a Catedral de Lima
contra provocação de invertidos

No sábado, 19 de Fevereiro, centenas de católicos reuniram-se no átrio da catedral de Lima (Peru) para rezar um terço pela paz, perante a provocação "Beijos contra a homofobia", na qual um reduzido grupo de invertidos e invertidas se beijaram na Praça Maior, localizada em frente ao principal templo católico do Peru.
Os invertidos tinham convocado este evento, realizado originalmente no sábado, 12 de Fevereiro, tendo sido desalojados pela polícia por beijar-se nas escadarias da catedral.
Para esta segunda edição, contaram com o apoio explícito da prefeita de Lima, Susana Villarán, que em diversas ocasiões expressou o seu apoio às uniões de invertidos.
Os invertidos e invertidas fizeram uma intensa campanha mediática para a convocação do evento do último sábado, 19, mas só conseguiram reunir 8 pessoas dispostas a beijar-se na Praça Maior.
Um recente inquérito da empresa CPI, realizada entre 1 e 6 de Fevereiro, assinala que 75 % dos peruanos se opõem ao chamado "matrimónio" de invertidos.

Aumenta o número de católicos nos Estados Unidos


Nem de propósito, acerca das estatísticas de Francisco Teixeira da Mota (ver post anterior), veja-se a seguinte notícia.
O Conselho Nacional de Igrejas dos Estados Unidos e do Canadá informou que o número de paroquianos católicos nos EUA aumentou no último ano, enquanto que o número de seguidores de igrejas protestantes – de maior tradição no país – sofreu uma significativa queda.
Segundo o 79.º Relatório Anual do Conselho, no ano 2010 o número total de cristãos na América do Norte atingiu 145,8 milhões de pessoas.
O relatório, difundido pela Rádio Vaticano, detalha que a Igreja Católica é a que conta com o maior número de fiéis no país, com 68,5 milhões de pessoas e um crescimento de 0.57 por cento.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Pérolas dos nossos políticos e intelectuais (21)
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Francisco Teixeira da Mota a torto

Heduíno Gomes

No programa «A torto e a direito» (TVI 24, 19.2.2011), assistimos a mais uma triste figura do residente Francisco Teixeira da Mota. Sistematicamente preocupado com a ideia de defesa dos mitos da esquerda, o dito intelectual descobriu completamente a sua pobreza. Vejamos uns simples exemplos.
Discutindo-se a matriiz cristã da Civilização ocidental e a situação do islamismo, FTM, agnóstico ajuramentado, achou por bem largar esta: não se preocupa «que seja o cristianismo ou que seja o islão», «que haja mais cristãos ou que haja mais muçulmanos». Lá teve o cónego João Seabra de lhe explicar que os direitos civis e outros de que usufrui derivam da cultura...cristã...
Estando a ser criticado o relativismo, FTM, revelando total ignorância filosófica, sai-se com esta: «Não vamos diabolizar o relativismo!» É que ele não sabe o que é o relativismo e o papel que este desempenha como obstáculo à verdade e como factor de obscurantismo! Para este nosso intelectual, relativismo seria sinónimo de tolerância...
Falando-se de acréscimo e decréscimo de crentes, o nosso intelectual informa-nos que, nos Estados Unidos, são os evangélicos que estão a crescer mais. Quando afinal são os católicos...
Refira-se ainda que o nosso intelectual defendeu o multiculturalismo, o que já é habitual nesta esquerda oca.




Os Templários em Portugal

José Colaço, Revista Focus 13.6.2006

Extinta há quase 700 anos, a Ordem do Templo é quase um mito urbano, tornado ainda mais atraente por Dan Brown em 0 Código Da Vinci.
Entre as centenas de romances pseudo-históricos publicados nos anos mais recentes, tanto entre os que contêm uma vertente fortemente esotérica como naqueles que se pretendem mais realistas, há uma presença quase constante. Referimo-nos, claro está, à famigerada Ordem do Templo, cujos membros, os célebres cavaleiros templários, dão origem aos mais diversos mitos, especialmente depois do sucesso de O Código Da Vinci, de Dan Brown.
De autênticos santos, que deram a vida para salvar de um maquiavélico Papa o Santo Graal, até membros de uma sociedade secreta, capazes dos actos mais bárbaros para angariar poder e dinheiro, já tudo se disse a respeito dos membros desta ordem.
Claro que, com tantas nuvens a ensombrar a sua existência, ninguém sabe muito bem o que era, realmente, a Ordem Militar e Religiosa dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão. Dela se diz ter estado na posse do Graal, de uma biblioteca onde se destacavam tomos que sobreviveram à destruição da biblioteca de Alexandria e de um tesouro incalculável. Uma tal riqueza que ainda hoje, quase 700 anos passados sobre a sua extinção, são muitos os que continuam à procura do tesouro dos templários.
Outra questão curiosa diz respeito à fulgurante ascensão da Ordem do Templo. De pequeno grupo com apenas nove membros em 1118, em menos de dois séculos transformou-se na mais poderosa organização da Europa, com propriedades em vários países e com uma capacidade financeira que lhe permitiu, até, emprestar dinheiro a monarcas. Independente das hierarquias religiosas da época, na dependência directa do Papa, a Ordem do Templo gerou tantas invejas que não admira que, quando Filipe, o Belo, rei de França, resolveu persegui-la, tenham sido muitos os que a ele se aliaram.
E ainda cedo, porém, para falarmos da extinção dos templários. Deixemos isso para o final do artigo e analisemos aquilo que se passou nestes movimentados séculos da História da Europa. Para contar a história da Ordem do Templo é necessário recuar até Março de 1095, quando Alexius 1, imperador do sacro império romano do Oriente, enviou ao Papa Urbano II um pedido de auxílio contra a ofensiva turca. Surpreendido pela missiva em pleno concílio de Piacenza, Urbano vê nele uma rara oportunidade de fazer sarar as feridas deixadas pelo grande cisma de quatro décadas antes de voltai a colocar todos os cristãos sob a alçada do papado.


Oito meses são necessários para que o Vaticano defina a sua estratégia. Em Novembro do mesmo ano, no concílio de Clermont, Urbano profere um discurso apaixonado para nobres e sacerdotes, no qual exige o envolvimento de todos para libertar a cidade santa de Jerusalém das mãos dos infiéis turcos.
Para além dos propósitos religiosos, esta operação teria, ainda, as vantagens de reduzir a densidade populacional em França (considerada à época um grave problema) e de dar à nobreza algo com que se ocupar (as questões intestinas entre nobres eram cada vez mais frequentes e não raramente tomavam-se crimes). “Permiti que os ladrões se tomem cavaleiros! “, afirmou o sumo pontífice.
Naquele que é considerado um dos mais importantes discursos da História da Europa, o Papa logrou reunir um continente inteiro sob a mesma bandeira e com idêntico objectivo (ainda que com diversidade de razões). E assim, a 15 de Agosto de 1096, tinha início a Primeira Cruzada (embora meses antes tivessem já partido milhares de peregrinos de escassas posses, que viriam a morrer na sua quase totalidade vítimas da doença, da fome e dos ataques de saqueadores).
Encontrando pela frente um inimigo dividido e pouco organizado, a cruzada transformou-se num autêntico passeio para os nobres europeus. Ainda por cima armaduras revelavam-se virtualmente incapazes contra as armaduras e cotas de malha dos cavaleiros, que menos de três anos após a partida estavam já a organizar o cerco à cidade santa. Em clara superioridade numérica e tecnológica, os cruzados conseguiriam tomar Jerusalém em Julho de 1099.
A tomada de Jerusalém foi extremamente sangrenta. A quase totalidade dos habitantes – muçulmanos, judeus e, até, cristãos orientais – foi massacrada. Segundo a Gesta Francorum, um livro de autor anónimo que se crê ter sido escrito por um cruzado, diz que “a carnificina foi tão grande que os nossos homens caminhavam em sangue até aos tornozelos”.
Tomada a cidade, o poder foi entregue a Godofredo de Bolhão. Depois de recusar o título de rei, dizendo que jamais usaria uma coroa de ouro na cidade onde Nosso Senhor usara uma coroa de espinhos, viria a aceitar apenas o título de Protector do Santo Sepulcro. Infelizmente, porém, o “reinado” de Godofredo durou pouco. Uma estranha doença, que muitos consideraram consequência de um envenenamento, matá-lo-ia em 1100. Desta forma, foi o seu irmão Balduíno a assumir o poder. Sem os pruridos de Godofredo, aceitou a coroa e o trono de Jerusalém como Balduíno I.
Após a morte sem deixar descendência de Balduíno I, o reino de Jerusalém atravessou uma fase complicada. A primeira ideia foi entregar a coroa a Eustáquio, irmão mais velho de Godofredo e de Balduíno. As movimentações de Joscelin de Courtenay, porém, levaram a um volte-face. No trono acabaria Balduíno de Bourcq, primo dos dois irmãos, que reinaria como Balduíno II.
Seria este monarca a receber, logo no seu primeiro ano no trono, a visita de Hugo de Payens que, com outros oito cavaleiros do condado de Champagne, se foi oferecer para garantir a segurança nas estradas para a Terra Santa dos peregrinos cristãos que, provenientes da Europa, pretendiam chegar a Jerusalém. Os ataques dos salteadores (não apenas muçulmanos mas, em muitos casos, também cristãos) faziam inúmeras vítimas e, apesar de múltiplas tentativas, nunca os cruzados tinham conseguido garantir a segurança da costa até à cidade santa.
Balduíno aceitou a proposta e entregou aos nove cavaleiros instalações no Monte do Templo, no local onde, diz a tradição, estariam instaladas as cavalariças do rei Salomão. A localização das suas instalações originais viria a justificar parte do nome da ordem.
Logo nos seus primórdios os mistérios começam a adensar-se em tomo dos templários. Durante os nove primeiros anos de existência da ordem, nem um só cavaleiro se alistou nas suas fileiras. Segundo os que crêem em explicações místicas, isto deveu-se ao facto de os membros originais da ordem se terem dedicado a buscas incessantes no local onde se erguera o Templo de Salomão. Levando esta possibilidade ao extremo, os templários teriam encontrado (pelo menos) parte do grande tesouro de Salomão, incluindo a Arca da Aliança, e justificando a rápida angariação da sua fortuna. Mais racional é a justificação dada pelas ordens que se dizem herdeiras dos templários – nos primeiros anos, os votos da Ordem do Templo (castidade, pobreza e obediência) desmotivavam quaisquer interessados.
É em 1127 que se assiste a um enorme progresso por parte dos templários, em grande parte devido aos esforços do abade cisterciense Bernardo de Claraval. Para além de escrever os estatutos da Ordem do Templo, com base nos da de Cister, Bernardo envia a Hugo de Payens uma carta que garantirá aos templários o apoio de toda a cristandade. Esta missiva, com o título De Laude Novae Militia (Elogio à Nova Cavalaria, em tradução livre), correria mundo e angariaria inúmeros recrutas entre a nobreza, para além de uma enorme quantidade de donativos em dinheiro e terras, provenientes de nobres que, por um ou outro motivo, não podiam juntar-se à ordem.
Por estranho que pareça, esta generosidade de nobres e monarcas para com os templários começa a fazer-se sentir em Portugal antes mesmo de Bernardo de Claraval dar início à sua campanha de marketing em favor da ordem. O historiador André Jean Paraschi, na sua História dos Templários em Portugal, admitindo a possibilidade de doações anteriores, refere a oferta, ainda em 1126 e por parte da rainha D. Teresa (mãe de D. Afonso Henriques), da vila de Fonte Arcada, perto de Penafiel, para além de herdades, quintas e solares ofertados por outros proprietários.
Segundo o frei Bernardo da Costa, na sua História da Militar Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo publicada em 1771, foi na Fonte Arcada que os templários instalaram a sua primeira sede em território português. Tal facto leva a colocar em dúvida a possibilidade de, nessa primeira fase, o seu principal papel ser militar – já que Penafiel ficava bastante longe da frente de combate contra os mouros.
Dois anos volvidos, a sede dos templários muda de local e, agora sim, parece ter já um papel militar. As instalações ficam, agora, no castelo de Soure, também doado por D. Teresa. Situado na confluência de três rios (Arunca, Anços e Arão, todos afluentes do Mondego), Soure funciona como guarda avançada à cidade de Coimbra. Por curiosidade, será às portas deste castelo que, em 1144, os templários sofrem uma das suas mais pesadas derrotas em Portugal, perante as tropas de Abu Zakaria, vizir de Santarém.
A lista, a partir daqui, engrossa rapidamente – muito em especial após a independência e a subida ao trono da dinastia de Borgonha. Esta simpatia dos descendentes do Conde D. Henrique pela Ordem do Templo poderá estar relacionada com a proximidade entre a nobreza da Borgonha e a de Champagne – de onde vieram os templários originais – ou com o facto de o grande ideólogo do templarismo, Bernardo de Claraval, ser ele próprio um borgonhês de nobres famílias.
Enquanto a nobreza portuguesa ia dando aos templários quintas e herdades a um ritmo alucinante, contribuindo decisivamente para o enriquecimento da ordem e para o incremento das fontes de receita, D. Afonso Henriques e os seus sucessores seguiam uma estratégia distinta: as suas doações, em terrenos ou fortificações, situavam-se em zonas estratégicas do País. Os reis reconheciam o poder militar dos templários e atribuíam-lhes funções de primeira linha de defesa contra possíveis ataques de muçulmanos ou castelhanos.
Mas os templários não se limitavam a um papel defensivo. Na maior parte das batalhas da Reconquista, os reis de Portugal puderam contar com soldados da Ordem do Templo entre as suas forças. Até durante o cerco de Lisboa, quando um exército muçulmano tentou, a partir do exterior, romper as linhas cristãs, foram os templários que estiveram nas zonas mais quentes de combate, prestando um apoio decisivo para repelir o inimigo.
Se olharmos para o mapa de possessões templárias em Portugal no final do século XII, verificaremos não apenas a grande quantidade de propriedades, mas, sobretudo, a distribuição lógica e estratégica das suas instalações militares. Pode dizer-se que Portugal foi, de facto, um dos primeiros locais onde o empório templário começou a estabelecer-se. No entanto, e ao contrário do que aconteceu noutros países (mormente em França), as relações entre a coroa e a Ordem do Templo foram sempre muito estreitas, sem que se conheçam quaisquer situações de tensão.
Uma das mais importantes doações feitas por D. Afonso I à Ordem do Templo foi, por alturas de 1159, a do território de Nabância. Seria aqui que nasceria Tomar, considerada a mais templária de todas as cidades. Com o seu magnífico castelo e com uma das mais importantes igrejas puramente templárias erigidas no Mundo (Santa Maria do Olival), Tomar terá sido, a par de Chipre, a capital oficiosa da Ordem do Templo. A sua importância era de tal forma grande que mereceu estrutura defensiva própria – que incluía os castelos da Cardiga, de Bode, de Zêzere, de Almourol e da Sertã, para além de fortificações em Pias e Domes.
Apesar de Portugal ter sido sempre um refúgio para os templários, devido às estreitas ligações que a ordem tinha com os monarcas, a sua presença entre nós não foi sempre pacífica. Logo durante a reconquista, o primeiro bispo cristão de Lisboa, o inglês Gilberto de Hastings, tentou convencer D. Afonso Henriques a colocar travão na autonomia templária (os seus mestres não respondiam senão perante o Papa), mas os seus intentos sairiam gorados.
Quando, a 13 de Outubro de 1307, Filipe, o Belo, rei de França, com a conivência do Papa Clemente V, logrou concretizar a extinção dos templários, vários monarcas europeus obedeceram às instruções papais. Não foi o caso de D. Dinis. O rei português exigiu, em troca, que o Vaticano o autorizasse a criar uma nova ordem militar e religiosa, que recebeu o nome de Militar Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Temendo que, caso não acedesse à solicitação do rei português, Dinis permitisse a permanência dos templários no seu território, Clemente V aceitou. Aquele que ficou para a história como rei-poeta mas que não era, por isso, menos competente em termos políticos, não perdeu a oportunidade. Transferiu os bens templários para a novel ordem, evitando que caíssem nas mãos papais, e integrou os cavaleiros da Ordem do Templo que o desejassem na Ordem de Cristo, permitindo-lhes escapar à perseguição do Vaticano. Graças a estas medidas, Portugal manteve a capacidade militar e a cultura dos templários, ainda que agora ocultas sob outro rótulo. Seriam os templários a sugerir a plantação do Pinhal de Leiria, para drenagem das áreas pantanosas e para obter madeira para a construção de uma frota. E não foi por acaso que, quando partiram para os Descobrimentos, as naus portuguesas ostentavam nas velas a cruz templária. Mas isso são contas de outro rosário…