sábado, 14 de junho de 2014

Uma de bola sobre a Espanha...


Heduíno Gomes

Ganda banhada dos holandeses! Apesar do penalti gamado que lhes deu o 1-0.

A Espanha ganhou o Mundial na África do Sul. Pois ganhou. Lembram-se da arbitragem a dar um jeitinho? E lembram-se daquela indirecta do Ronaldo sobre a causa da nossa derrota no fim do nosso jogo com eles? Os jornalistas questionaram-no sobre o motivo do mau jogo de Portugal. E ele respondeu: – Perguntem ao Queiroz!

O Bosque levou a medalha de melhor treinador do mundo. Pois levou. Lembram-se das aldrabices que vieram a público na votação?

Depois desta banhada, falta agora a III República espanhola correr com a monarquia e depois esfrangalhar-se em várias repúblicas.

E viva Olivença portuguesa!





sexta-feira, 13 de junho de 2014


Adriano Moreira e as suas tretas (1):

admirador de Hans Küng


Heduíno Gomes

A autoridade académica Adriano Moreira, nas suas deambulações sobre a harmonia entre os povos e entre as religiões (TVI24, 8.6.2014), conduziram-na a citar e louvar Hans Küng.

Quem é este padre e teólogo suíço?

Nada mais, nada menos, o tal que defende o fim da obrigatoriedade do celibato dos padres, a feminização da Igreja, e todas aquelas coisas que conhecemos dos chamados «católicos progressistas», bem representados pela seita «Nós Somos Igreja», da qual é um dos inspiradores.

Por alguma razão o padre Tolentino, colaborador de cá dessa seita, já concedeu a Adriano Moreira o «Prémio de Cultura Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes».

É assim o agora chamado «católico progressista» Adriano Moreira, sempre a falar na televisão como um rato de sacristia. Mas roendo a doutrina católica nos seus alicerces.

Hans Küng





quinta-feira, 12 de junho de 2014

O direito ao erro


Brad Miner

O novo livro de Robert R. Reilly, Making Gay Okay: How Rationalizing Homosexual Behavior is Changing Everything, fala da natureza, compreendida como o telos no sentido do qual todas as coisas criadas procuram a sua perfeição.

Fala também de sodomia, um comportamento claramente antinatural e que, como Reilly comprova meticulosamente, sempre foi visto como tal. Veja-se Sócrates, Platão e Aristóteles – todos gregos, claro, cuja cultura é frequentemente (e erradamente) descrita como homofílica – todos eles criticaram a sodomia como desordenada.

A prova do homossexualismo emergente na América tem estado diante dos nossos olhos há décadas, mas a maioria, tendo visto os sinais, simplesmente partiu do princípio que o objectivo final não seria muito mais do que a tolerância. Quem diria, há vinte anos sequer, que o movimento pelos direitos homossexuais procurava uma autêntica transformação cultural?

Aliás, há apenas dois anos podia-se dizer – com o que hoje parece um optimismo absurdo – que afinal de contas, sempre que os cidadãos tinham sido chamados a decidir sobre a questão do «casamento» entre pessoas do mesmo sexo, a iniciativa tinha sido chumbada. Mas depois vieram os tribunais, na sua sabedoria, para corrigir a vontade torta do povo. Como é que chegámos a isto?

A filosofia política ocidental dividiu-se em dois ramos distintos no século XVIII: Um radica em Edmund Burke e William Blackstone e atravessa a fundação dos Estados Unidos, desembocando no conservadorismo moderno; outro, com origem em Jean-Jacques Rousseau e a Revolução Francesa, levou ao liberalismo contemporâneo. Este segundo ramo, o liberal, continua sob a influência da visão antiteleológica de Rousseau e  foi reforçada pelo existencialismo, multiculturalismo e outros entusiasmos de esquerda. O primeiro ramo, o conservador, que manteve a teleologia, tem passado grande parte dos últimos dois séculos a tentar encontrar uma forma, que não o totalitarismo, de subjugar as paixões pagãs soltas pelo segundo.

Porque se o Homem é a última fonte do sentido, se a humanidade não discerne os fins morais inerentes à Natureza, fixados pelo Deus da Natureza, então, como escreve Reilly, encontramo-nos diante de um paradoxo, sobretudo para os que defendem os «direitos homossexuais», isto porque...

… os proponentes da homossexualidade estão a defender uma causa que apenas pode vingar se obliterar a própria compreensão de Natureza da qual depende a nossa existência enquanto povo livre... A sua reivindicação de direitos subverte os direitos que reivindicam. Porquê? «Se a Natureza for negada, então a justiça reduzir-se-á necessariamente a aquilo que é desejado o que, por sua vez, se transforma na lei do mais forte».


Dizer que as uniões homossexuais são normais, após milhares de anos a acreditar no contrário, implica «pôr de lado Sócrates, Platão, Aristóteles, o Antigo Testamento e o Novo, Agostinho e Aquino». Reilly cita exemplos de mudança de normas culturais e de decisões judiciais recentes, através dos quais este pôr de lado já começou.

Claro que não é só a sodomia que tem sido libertada por este determinismo anti-teleológico, mas a contracepção e o aborto também, bem como o divórcio, sexo pré-matrimonial e em breve, quiçá, a pedofilia e o bestialismo.

Escrevendo sobre Lawrence v. Texas, a decisão do Supremo Tribunal de 2003 que considerou inconstitucional uma lei que bania o sexo «gay», Reilly pergunta: «Porque é que levou mais de dois séculos para que o tribunal descobrisse um direito à sodomia?» Responde que foi porque o Tribunal considerou que os fundadores simplesmente não tinham compreendido a liberdade e «as suas múltiplas possibilidades».

Pelos vistos o próprio tribunal também não o tinha compreendido no caso de Bowers v. Hardwick, 17 anos antes, quando declarou que não existia qualquer direito constitucional à sodomia.

Os juízes e os seus apoiantes nos media decidiram que a tradição é, frequentemente, um sinónimo de opressão. Quanto aos que se mantêm agarrados «aos nossos deuses e às nossas armas», as elites vêem-nos como perdidos naquilo a que Engels chamou «falsa consciência».

Robert R. Reilly
O Governo tem sido movido a agir não tanto por compaixão, mas mais por pressão dos media e dos lobbies. O mesmo tem acontecido através da cultura.

Foram essas pressões que levaram a uma campanha bem-sucedida, em 1973, para retirar a homossexualidade do Manual de Diagnóstico e Estatística, a bíblia de desordens mentais da Associação Psiquiátrica Americana, onde constava desde 1952.

A indústria do entretenimento tem feito todos os esforços para povoar os filmes, comédias e séries de personagens homossexuais, com o objectivo de nos dessensibilizar para o «amor que não ousa manifestar-se», agora conhecido como o «amor que não nos dá um minuto de descanso».

Making Gay Okay inclui capítulos curtos sobre o impacto e as consequências de parentalidade homossexual, «estudos» homossexuais e a influência do homossexualismo nas Forças Armadas, política externa e o movimento dos escuteiros.

Nos anos 80 estava num jantar em que um activista homossexual disse a umas feministas que os homens gay apoiavam absolutamente o aborto. Questionei-me na altura sobre a coincidência de interesses. Era demasiado bronco, ou ingénuo, para compreender a forma como partilham esta inversão da realidade.

Talvez porque, em mais novo, abracei brevemente (mas com vigor) a moda da «liberdade sexual», quem sabe, a primeira das inversões da verdade. Há muitos na minha geração que sentem relutância em criticar as escolhas sexuais dos outros, tendo tomado decisões tão erradas quando eram mais novos.

Chegou a hora de crescer.

Making Gay Okay é uma lição em filosofia, psicologia, história, direito, política e ciência. Para dizer a verdade, até vai aprender coisas que preferia não saber, como o significado de bug chasing, por exemplo. Mas para isso vai ter de comprar o livro.

(Publicado em The Catholic Thing e traduzido por Filipe Avillez).





quarta-feira, 11 de junho de 2014

Espanha

Viva la tricolor!


Heduíno Gomes

1 – Como consequência dos vários casos de corrupção em que está envolvido, o chefe da casa real de Espanha acaba de abdicar.  Era coisa esperada como tentativa de salvar a monarquia espanhola do imenso desprestígio em que caiu, o que veio reforçar as convicções republicanas já existentes.



2 – Apesar da corrupção do rei e familiares, a que a pouco recomendável Letizia se juntou, os espanhóis, principalmente os castelhanos, estavam de certa forma gratos a Juan Carlos por este ter feito sem sobressaltos a transição do franquismo para a democracia. Mas esta gratidão esgotou-se.

3 – Subsistindo o republicanismo entre castelhanos e principalmente entre as nações dominadas por Castela, os republicanos apenas aguardavam a boa altura de se tornarem mais activos do que até agora, como já se viu em prelúdio nas ruas de Madrid, Barcelona e noutras cidades.

4 – Com o novo rei, e com aquela rainha plástica que em compostura não chega aos calcanhares da rainha Sofia, veremos aumentar a contestação à monarquia. Esta contestação vai inevitavelmente provocar a queda da monarquia. É uma questão de tempo e de conjuntura política.



5 – Ora, sendo indubitavelmente a monarquia o cimento do Estado espanhol, com a queda desta, veremos em três dias a autodeterminação pelo menos da Galiza, de Euskadi e da Catalunha.

6 – O que convirá a Portugal? O que convém a Portugal é que aquilo, aquele Estado vizinho centralizador e agressor, se desmorone. Nas nossas relações bilaterais com cada um desses novos estados assim restaurados seremos mais fortes.


La tricolor, bandeira da República Espanhola
7 – Por esta razão, qualquer bom português monárquico deve ser republicano em Espanha. Contudo, a apreciar a situação vamos ouvir monárquicos de salão sem perspectivas e convivas politicamente correctos lamentar a crise da monarquia espanhola e defendê-la. É por serem mais monárquicos do que portugueses ou defenderem mais os seus interesses ou vaidades pessoais do que Portugal.

8 – E com a recuperação da nossa querida Olivença sempre presente.
Com monarquia espanhola ou com república castelhana.



A portuguesíssima igreja da Madalena





terça-feira, 10 de junho de 2014

Como foi desestabilizada a economia italiana


Agostino Nobile

Porque era o sistema económico italiano tão odiado pelos poderes do sistema Atlântico? Por ser o mais democrático, o mais lógico e, em última análise, o mais cristão, pois baseava-se na distribuição equitativa de rendas e riquezas pelas várias classes sociais. Após a Segunda Guerra Mundial, a Itália era um país totalmente destruído, não havia pão e a maioria das infra-estruturas tinham sido devastadas. Graças ao governo liderado pelo partido católico Democrazia Cristiana, nos anos 60-70 a Itália tornou-se a quarta maior economia do mundo e a lira, a moeda mais estável. A eficiência do povo italiano e do sistema económico adoptado pelo governo de inspiração católica, no entanto, causou alguma preocupação para os poderes que lideravam o sistema económico norte-americano e norte-europeu, chamado de «Atlântico».

Este sistema era baseado na competição não regulada entre as empresas e as nações, no pressuposto de que tudo seria ajustado pelo mercado. Na verdade, não foi assim que aconteceu, porque o sistema Atlântico, exportado para todo o Ocidente, ao fim e ao cabo criou a crise actual. Incompetência? Parece que sim. O sistema Atlântico é baseado na desregulamentação, ou seja, numa economia que se opõe às regras e onde o Estado (os governos) só pode assistir como um mero espectador. Esta fórmula falhou por duas razões: a falta de ética económica criou monstros financeiros; o mercado, ao contrário de como o achavam os defensores do sistema Atlântico, não só não tem «ajustado» a financia, mas tornou-se uma selva financeira. O resultado  temo-lo à frente dos olhos: aumentos de impostos e empobrecimento dos cidadãos para encher os cofres dos bancos. Mas afinal, porque é que os poderes da finança Atlântica se preocuparam tanto com o sucesso italiano a ponto de o definir como «milagre económico»? (como se fosse um milagre e não uma escolha económica vencedora). Tal explica-o Ettore Bernabei no livro-entrevista A Itália do milagre e do futuro (livro já mencionado no meu artigo anterior). «Nos círculos ocidentais, desde há muito tempo, não se suportava mais que a Itália, um país liderado por um partido de inspiração cristã, se tornasse o quarto entre os sete países mais industrializados do mundo. Esse dado estatístico fez parecer quanto eram infundadas as acusações, de matriz protestante-maçónica, desde há várias décadas dirigidas aos católicos de serem incapazes de assegurar o bem-estar e liberdade dos seus povos. O «milagre italiano» tinha porém desmentido todos esses preconceitos».

Porque era o sistema económico italiano tão odiado pelos poderes do sistema Atlântico? Por ser o mais democrático, o mais lógico e, em última análise, o mais cristão, pois baseava-se na distribuição equitativa de rendas e riquezas pelas várias classes sociais. O modelo económico italiano inspirava-se na Doutrina Social da Igreja, que tem as suas raízes na encíclica Rerum Novarum (15 de Maio de 1891 – portanto, 26 anos antes da Revolução Bolchevique) do Papa Leão XIII. «O sucessor de Pedro – escreve-se na introdução do livro – deseja direccionar o pensamento dos católicos na economia (...) para defendê-los das ideologias ateístas que circulam na Europa». Assim o sucesso da política económica italiana teve que ser eliminado de todas as maneiras, caso contrário teria sido capaz de expandir-se noutros países, retirando o poder económico preponderante ao sistema Atlântico. Como muitas vezes acontece na história, o primeiro passo era destruir internamente o equilíbrio social. A quinta coluna, ou os idiotas úteis, dependendo do ponto de vista de cada um, foram os meios de comunicação e os intelectuais de esquerda, que nos anos 60/70 deram início a uma campanha difamatória contra o governo democrata-cristão. Desde os anos 70, as Brigadas Vermelhas ensanguentaram a Itália durante 25 anos. O seu trabalho criminoso, que teve como objectivo o abate dos democratas-cristãos, terminou com o sequestro e assassinato do presidente da Democrazia Cristiana Aldo Moro. Os meios de comunicação descreveram as Brigadas Vermelhas, de matriz marxista-leninista, mais ou menos como heróis que lutavam a favor do proletariado. Na verdade, os juízes que processaram os líderes das Brigadas Vermelhas não tinham quaisquer dúvidas. As Brigada Vermelhas, como sublinha Bernabei, eram «conduzidas pela agência Hyperion, que tinha a sua sede em Paris, sob a fachada de uma escola de línguas, agindo em conexão com a organização terrorista alemã da R.A.F.A agência Hyperion (...) sendo-lhes fornecidas armas, provenientes principalmente do Líbano. O objectivo principal do terrorismo em Itália – continua Bernabei – foi sempre o de criar dificuldades à Igreja Católica».
 Em 2007, o norte-americano Steve Pieczenic no livro-entrevista Matámos Aldo MoroA Verdadeira História do sequestro de Moro, Ed.Cooper, afirmou: «Eu esperei 30 anos para revelar esta história. Espero que isso venha a ser útil. Sinto muito pela morte de Aldo Moro, peço perdão à sua família e lamento muito por ele. Acho que eu e Moro iríamos ficar de acordo, mas tivemos que instrumentalizar as Brigadas Vermelhas para matá-lo».

Até hoje as palavras do senhor Pieczenic não foram desmentidas. Moro foi assassinado por interesses políticos, porque os americanos e os soviéticos eram contrários à abertura que Moro deu ao partido comunista italiano, para formar um governo de coligação, definido como «compromisso histórico». Aos motivos económicos somavam-se assim os geopolíticos. Bernabei, que conhece os documentos dos processos, sublinha: «Foi calculado que um brigadista vermelho ganhava vários milhões de liras de salário por mês (uns milhões de liras corresponde a 1 000 euros actuais), além de alojamento e alimentação, com muitos extras para a ‘dolce vita’».

No início dos anos 90 na RAI (Rádio Televisão Italiana) foram demitidas 1 200 pessoas da liderança médio alta. «Destes – lembra Bernabei, que de 1960 a 1974 foi director geral da RAI – cerca de 1 000 eram católicos (...). Era então considerado um ‘pecado’ ser católico. Foi um verdadeira operação de ‘limpeza étnica’». Dois anos depois, com a operação «Mãos Limpas», alguns juízes de esquerda, através de processos sumários que levaram ao suicídio de alguns empresários, eliminaram definitivamente o Partido Democrata Cristão. A partir dos anos 90 até hoje, muitas indústrias e empresas italianas caíram nas mãos de holdings estrangeiras, que se apropriaram também da maioria do artesanato, enfraquecendo as raízes económicas italianas.





domingo, 8 de junho de 2014

Passos Coelho e a Tecnoforma


Fernando Madeira, o ex-sócio maioritário da Tecnoforma, conta em entrevista à Sábado: «trabalhávamos sobretudo em Angola e começámos a sentir que havia problemas em avançar com alguns projectos na área da formação profissional.» Melhor do que falecer: recorre aos serviços do Pedro e cria uma ONG.

Estávamos no ano de 1996. Num restaurante no Porto Brandão, foi explicado ao Pedro o que se pretendia com esta organização não governamental (ONG) que viria a designar-se como Centro Português para a Cooperação (CPPC): «O objectivo era explorar as facilidades de financiamentos da União Europeia para projectos em Angola ou nos PALOPs [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa].» O Pedro não se intimidou com a circunstância de uma organização de solidariedade e sem fins lucrativos poder não passar de uma forma expedita de conseguir negócios para a Tecnoforma: «Só posso dizer que ele foi receptivo ao que ouviu e disse logo que tínhamos de arranjar estas e aquelas pessoas e arranjou. Arranjou pessoas que eu não conhecia

Quem eram as pessoas que fariam parte desta ONG (testa-de-ferro da Tecnoforma)? «Pessoas com influência.» Luís Marques Mendes, então líder parlamentar do PSD (no consulado de Marcelo), Ângelo Correia e Vasco Rato (nomeado recentemente pelo Governo para presidir à Fundação Luso-Americana), mas também Eva Cabral, na altura jornalista da famosa secção laranja do Diário de Notícias e hoje assessora do alegado primeiro-ministro.

Com um agradecimento à revista Sábado, eis algumas passagens da entrevista (que merece ser lida na íntegra):

– No seu entender, Pedro Passos Coelho queria no CPPC gente com influência para quê?

– Que pudessem de facto, sei lá, movimentar, abrir ou facilitar a vinda de projectos para a ONG no âmbito da formação profissional e dos recursos humanos e que depois esses projectos pudessem ter a participação da Tecnoforma.

– Volto a perguntar, Passos Coelho sabia que esta ONG era criada com esse intuito?

– Tanto é assim, que eu cheguei a ir com ele a Bruxelas para um encontro com o comissário europeu João de Deus Pinheiro [militante do PSD, ex-ministro da Educação e dos Negócios Estrangeiros em três governos de Cavaco Silva e Comissário Europeu entre 1993/2000].

 E foram lá fazer o quê exactamente?

– Fomos lá apresentar o CPPC, o que nos propúnhamos fazer e saber da sensibilidade dele, nomeadamente que possibilidades de financiamentos havia para os PALOPs. E o João de Deus Pinheiro até nos deu logo uma ideia, dizendo que a Comissão Europeia estava a pensar num projecto para Cabo Verde, que era a criação de um instituto para formação de funcionários públicos. E que este instituto deveria servir também para formar pessoas para os outros PALOPs porque os quadros deles da administração pública eram muito deficitários. Disse-nos ainda que seria bom que criássemos um instituto em Cabo Verde e que a Comissão Europeia estava disposta a apoiar financeiramente uma coisa dessas.

– Esse encontro com João de Deus Pinheiro foi combinado por Passos Coelho, que era então vice-presidente do grupo parlamentar do PSD?

– Claro, eu não conhecia o Deus Pinheiro.

– Em Bruxelas, reuniram onde?

– Fomos ao gabinete dele, na sede da Comissão Europeia. O Pedro é que o conhecia, o Pedro é que abria as portas todas.

– E esse projecto chegou a avançar?

– Ainda fomos a Cabo Verde, mas não avançou. Reunimos na cidade da Praia com uns directores do Ministério da Educação, mas acho que eles estavam era interessados em criar pólos universitários e não institutos intermédios de formação profissional. As coisas não funcionaram.

– Foi a Cabo Verde também com Passos Coelho?

– Sim e com um cantor, o Paulo de Carvalho.

– Porque é que ele foi com vocês?

– Isso aí é outra história de que não quero falar. Ele apareceu no aeroporto de Lisboa. Acho que ele foi também para desbloquear, para tentar, mas dá-me a impressão que havia uma segunda agenda entre eles. Em Cabo Verde, depois das reuniões, eles foram depois para outro lado.

– Já conhecia o Paulo de Carvalho?

– Não, não, só da televisão.

– Marques Mendes esteve na escritura do CPPC?

– Sim, esteve lá. A única coisa que lhe digo é isto: paguei muitos almoços e jantares. Eu estava com o Pedro talvez de 15 em 15 dias ou uma vez por mês. Ele também aparecia na sede da Tecnoforma, mas era mais em restaurantes. Ou então íamos beber um copo. Ele vivia ainda em Campo de Ourique com a Fati [Fátima Padinha, do grupo as Doce e primeira mulher de Passos Coelho].

– Também se encontrava com ele na Assembleia da República?

– [Pausa] Encontrei-me com o Pedro várias vezes no parlamento, acho que era no grupo parlamentar do PSD.

(…)

– Mas pode dizer-me quem financiava o CPPC?

– Vinha tudo da Tecnoforma.

– O CPPC tinha um orçamento anual formal?

– A Tecnoforma pagava as despesas que aparecessem. As instalações do CPPC eram também na Tecnoforma, pois ficavam na sede da empresa, no Pragal [Almada].

– Ainda não me disse o que é que o CPPC concretizou durante os vários anos em que Passos Coelho lá esteve como presidente?

– Até 2001, só me lembro de um projecto de formação profissional no bairro degradado da Pedreira dos Húngaros, em Oeiras. O projecto nasceu de uma ideia do governo de Cabo Verde [muitos habitantes do bairro eram cabo-verdianos] e a partir de uma reunião qualquer que houve entre o Pedro e já não sei quem.

– Foi um projecto arranjado por Passos Coelho?

– Recordo-me que houve uma reunião entre nós para definir o que era preciso fazer, mas o projecto precisava também da aprovação do Isaltino Morais, que era o presidente da Câmara de Oeiras. O Pedro desbloqueou isso, fez o papel que se esperava dele. E tivemos uma reunião com o Isaltino Morais, que aprovou o projecto e isso foi essencial para a candidatura a um programa financiado pela União Europeia.

(…)

– Depois de vender a Tecnoforma em 2001, e de Passos Coelho ter sido contratado para consultor e depois para presidente da empresa, a facturação da Tecnoforma aumentou bastante em Portugal. Um dos projectos responsáveis por isso foram as acções de formação financiadas pela União Europeia, como o programa Foral, um caso que está a ser investigado hoje pelo Ministério Público (MP).

– Disso já não sei nada.

Tratou-se aparentemente de uma entrevista muito viva. Fernando Madeira, o ex-sócio maioritário da Tecnoforma, só embatucou quando a Sábado o questionou acerca das remunerações de Pedro Passos Coelho: «Eh pá, isso já não me recordo. É um bocado arriscado estar-lhe a dizer e era grave.» O alegado primeiro-ministro era então deputado em regime de exclusividade.