sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015


Os Americanos e a Base das Lajes


João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador

A operação das forças militares americanas na Base Aérea das Lajes há muito que merecia um livro.

Muito resumidamente foi assim:

A apetência dos EUA pelos Açores (e Cabo Verde) recua à Guerra Hispano-Americana, de 1898, que marca o início do imperialismo «yankee» fora do continente Americano, o que nunca mais parou até hoje.

Prolongou-se na I Guerra Mundial, com a ameaça submarina alemã e a visita do futuro presidente Roosevelt (na altura subsecretário de Estado da Marinha), em 1918, e firmou-se na II Guerra Mundial, por causa da ameaça naval alemã – podia ter sido aero-naval caso a Alemanha tivesse intentado e conseguido ocupar aquele arquipélago e também o da Madeira.

Mas quem, de facto, pensou ocupar os Açores – considerados como uma fronteira avançada de defesa da América – foram os próprios americanos, que chegaram a preparar uma invasão e ocupação do território, em Jul/Ago de 1941 (Operação «Life Buey», comandada pelo Brig. Gen. Holland Smith).

Acontece que o governo português da altura – estrénuo defensor dos interesses portugueses – tinha reforçado os Açores com 25 000 homens e alguns meios aéreos e navais, dispondo-se a garantir a neutralidade proclamada, mesmo com o uso da força.

Os Americanos fizeram um cálculo do risco e das baixas e hesitaram.

Mais experientes do que os seus amigos do outro lado do Atlântico, a diplomacia inglesa, valendo-se do especial relacionamento que tem connosco, desde 1373, veio tentar acalmar os ânimos e negociar uma solução adequada, até porque o governo português, num gesto habilíssimo, ameaçou invocar a velha Aliança em caso de ataque americano…

Destas negociações que foram duras e demoradas resultou a ida dos ingleses para as Lajes e, mais tarde, a dos americanos para Santa Maria, com a condição de no fim da guerra saírem, deixarem-nos todas as instalações, garantirem a soberania portuguesa em todos os territórios ultramarinos e, ainda, a garantia que Timor Leste – ocupado pelos japoneses – voltaria para Portugal e que forças portuguesas participariam na libertação do território.

Tudo foi cumprido.

Em 1948 (ano anterior ao estabelecimento da OTAN) os EUA solicitaram facilidades de operação na Base Aérea 4 nas Lajes, o que foi concedido, até hoje.

A Base das Lajes pertence à Força Aérea Portuguesa.

Deste modo estabeleceu-se um destacamento da Marinha dos EUA – que operavam os aviões – outro da USAF – que operavam os meios de apoio terrestre – e do Exército Americano - que operavam as lanchas e equipamento portuário…

E como o governo de Lisboa, da altura, não brincava em serviço e não deixava que estrangeiros nos ditassem leis, logo acordou com Washington, um conjunto de condições que, além de não comprometerem minimamente a soberania nacional, tornavam os EUA completamente devedores de Portugal, pois não pagavam um dólar por lá estarem.

Tal facto devia-se a que a lógica política de então defendia, por ex., que nenhum pedaço de território nacional podia ser alugado…

Foi criado um Comando Aéreo Português, cujo comandante seria sempre mais antigo que o oficial americano mais graduado e, até, a bandeira americana não estava autorizada (creio que ainda não está) a tocar o solo Pátrio, ficando simbolicamente, assente num bloco de pedra para o efeito concebido.

Marcello Caetano, que sucedeu a Salazar na chefia do governo, mudou a postura portuguesa para com os EUA, relativamente às Lajes, negociando contrapartidas materiais pela presença americana, o que se podia consubstanciar em ajuda económica directa ao Arquipélago, melhoria das condições dos trabalhadores portugueses e, sobretudo, em armamento e equipamento militar, de que as Forças Armadas Portuguesas estavam muito carenciadas devido aos conflitos ultramarinos iniciados em 1961.

Esta nova política acabou por não dar grandes frutos, sofrendo Portugal uma espécie de «ultimato» encapotado, relativamente ao uso indiscriminado da base, no socorro que Washington prestou a Israel na Guerra do Yom Kipur, em 1973.

A importância dos Açores nunca diminuiu para os EUA durante toda a «Guerra Fria», por causa do eventual reforço rápido da Europa, da ameaça submarina soviética, além de ser ponto de apoio importante para aviões em rota para o Médio Oriente.

Com a queda do «Muro de Berlim», em 1989, e a evolução geopolítica daí decorrente; a melhoria dos armamentos e, ultimamente, a mudança de prioridades de Washington para o Pacífico, a importância conjuntural da Base das Lajes perdeu valor relativo para os americanos.

Daí a natural mudança do seu dispositivo.

Por isso é lógico que queiram reduzir a sua presença nas Lajes (em 485 pessoas) mas, estamos em crer, jamais a Secretaria de Estado da Defesa dos EUA, quererá sair de lá de vez…

É claro que esta redução vai constituir um duro golpe na economia da Ilha Terceira e levar ao desemprego estimado de 500 trabalhadores portugueses, cujo vínculo se procurava articular com as leis de trabalho nacionais.

Mas temos de perceber que os Americanos não estão lá pelos nossos lindos olhos e tratam de defender os seus interesses e não os alheios.

Os Açores já tinham sofrido um duro golpe aquando da saída dos franceses da base de rastreio de mísseis, que montaram na Ilha das Flores, em 1993, sem que tivesse ocorrido o alarido de agora.[1]

Pacífica e gradual foi, também, a saída dos alemães da base de Beja, em 1993.[2]

Por tudo isto não se entende o actual «histerismo» de políticos e sobretudo do Governo Regional dos Açores, à volta deste assunto, revelando uma grande falta de sentido de Estado e em nada contribuindo para um bom desfecho do que está em curso e para as futuras relações com os EUA.

A ameaça velada e pública, sobre a possibilidade da China (ou outros) poder vir a operar no Arquipélago é, a todos os títulos, deplorável.

Há coisas que se tratam na circunspecção das chancelarias e não no ruído e demagogia da rua.

Um contracto é um vínculo de interesses comuns, entre duas ou mais partes. Se uma das partes se quiser desvincular, só tem que o fazer negociando tal desiderato em função do que estiver vertido no acordo.

Além do mais este é um assunto de Defesa e Segurança Nacionais, tratado Estado a Estado e, por isso, o Governo Regional, deve-se remeter apenas para as suas funções constitucionais.

Nós podemos, eventualmente, gostar mais ou menos da presença americana nas Lages, mas a decisão da sua diminuição ultrapassa-nos. A não ser que fossemos nós a querer impor essa redução.

Pode (e eventualmente deve) Lisboa mostrar as suas preocupações; oferecer a sua hospitalidade; apresentar outras propostas de relacionamento bilateral, etc., mas não pode exigir nada relativamente à presença americana na Base, a não ser o que está estritamente acordado para o efeito, e ficar com as decisões ora tomadas, em carteira.

A algaraviada de exigências propaladas pelos «media» não passam de ruído ineficaz, apenas explicáveis pela eterna luta partidária.

Temos que estar atentos ao comportamento do FMI e do Banco Mundial, onde os EUA pontificam, cuidar da nossa comunidade emigrante naquele país e ter que ter especial cuidado com a atitude que os Americanos irão assumir, na ONU, face à proposta de alargamento da Plataforma Continental, apresentada por Portugal.

E, curiosamente, não vemos ninguém preocupado com a exiguidade (sempre a diminuir…), de meios militares portugueses no (s) Arquipélago (s) e na necessidade urgente de inverter a situação.

Requerem-se bom senso e clarividência política e estratégica.

Uma coisa – além do «saber» – anda, aliás, ligada à outra.

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[1] O anúncio da constituição da Base foi feito pelo MNE Franco Nogueira, em 1964, tendo o acordo sido assinado, em 7 de Abril daquele ano, e as suas instalações inauguradas em Outubro de 1966.

[2] O acordo para a utilização da Base de Beja (construída de raiz), ocorreu em Dezembro de 1960, mas o primeiro contingente de militares alemães só chegou em 8/8/1966.





Boletim da Associação Cristóvão Colon


Para ler o Boletim clique aqui.

Para visitar o sítio: http://www.colon-portugues.blogspot.pt/

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015


Ser homem ou mulher está inscrito no DNA


Luis Jensen com a sua esposa Pilar Escudero

Luis Jensen, médico membro do Instituto das Famílias de Schoenstatt e do Centro de Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Chile, revelou que a homossexualidade «jamais vai permitir o desenvolvimento pleno da satisfação da complementariedade».

No dia 10 de Dezembro deste ano, apresentou-se no Chile um projecto de lei do «Matrimónio Igualitário», que quer modificar a Lei do Matrimónio actual para permitir as uniões homossexuais.

O projecto de lei foi pensado e redigido pelo Movimento de Integração e Libertação Homossexual (Movilh), o mesmo que criou o conto «Nicolau tem dois pais».

Em declarações feitas ao Grupo ACI, Jensen referiu que «se eu acredito que na natureza tudo tem o mesmo valor, então a pessoa desaparece, porque a pessoa é o mais extraordinário, é distinta, é outra entidade diferente do resto das coisas naturais».

«O ser homem e mulher, que são as duas formas de ser pessoa, tem uma razão de ser, um porquê, um para quê, está inscrito no DNA. Se ignorar isso, está ignorando uma coisa que não é electiva, mas constitutiva», afirmou.

Luis Jensen explicou que «a pessoa que realmente necessita move-se para procurar o outro e enriquece-se com o outro. E nessa relação, descobre que o outro também tem necessidades. E para fazê-lo feliz, que é a essência do amor, dá o máximo de si próprio como dom, como presente ao outro. Essa é a dinâmica do amor, a dinâmica do dom, da gratuidade».

Entretanto, advertiu o perito, as relações que se estabelecem hoje «não têm como base a complementariedade».

Jensen sustenta que «estas relações (homossexuais) ficam na reciprocidade: em que eu te dou e tu me dás, que é na verdade um intercâmbio comercial, funcional, estrutural, mas não da natureza da pessoa. Onde está a gratuidade? Já não é a dinâmica do amor mas a dinâmica da organização, do intercâmbio, da comercialização».

Para o médico, a polaridade homem-mulher tem a sua causa na «unidade do homem e da mulher porque são capazes de complementar-se em todos os campos».

«Isso jamais vai acontecer na homossexualidade, por muita imitação que façam, por muita intenção, boa vontade ou amor pessoal que tenham, não acontece. Por isso mesmo, acredito que hoje querem tirar o conceito da complementariedade do vocabulário e ficar com o da reciprocidade».

Para Jensen, actualmente procura-se «reduzir o tema do essencial do ser humano a róis: Há um rol feminino e um rol masculino, um rol paternal e um rol maternal, e já não se responde ao que é a natureza masculina e feminina».

«Tomou-se o mundo social como referência e não o mundo pessoal», criticou, denunciando que agora «os modelos constroem-se na base como se organizou socialmente o homem e não na base do que é o homem».





terça-feira, 3 de fevereiro de 2015


A guerra do Islão


José António SaraivaJornal Sol, 26 de Janeiro de 2015

Depois dos atentados em Paris, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, e a chanceler alemã, Angela Merkel, fizeram uma declaração solene: «A luta é contra o terrorismo, não é contra o Islão».

O pior inimigo dos muçulmanos que hoje vivem na Europa é a inacção dos Governos nacionais – permitindo uma liberdade de acção aos fundamentalistas que acaba por virar a opinião pública contra toda a comunidade islâmica

A intenção era óbvia: tentar precaver acções racistas contra os muçulmanos – e, ao mesmo tempo, acalmar os países islâmicos amigos.

Mas dizer isto é tentar tapar o sol com a peneira.

Porque este tipo de terrorismo é indissociável do Islão.

Os terrorismos não são todos iguais – e o terrorismo islâmico tem características próprias, sendo completamente diferente dos terrorismos que conhecemos na Europa.

As organizações terroristas europeias das últimas décadas – o Baader-Meinhof na Alemanha, as Brigadas Vermelhas em Itália, o Sinn Fein na Irlanda, a ETA no País Basco, as FP-25 em Portugal – actuavam geograficamente e tinham objectivos políticos concretos.

O terrorismo islâmico, pelo contrário, não é localizado geograficamente – está disseminado por todo o planeta – e não tem um objectivo político determinado – visa atingir a civilização Ocidental no seu conjunto.

Há quem, como Ana Gomes, tente explicar o terrorismo islâmico com base nas más condições de vida ou numa deficiente integração dos muçulmanos nos países de imigração.

Ora, dizer isto é não compreender o fenómeno.

Se as condições de vida produzissem terroristas, já teríamos visto muitos pobres em Portugal, atingidos pela austeridade, pegarem em metralhadoras e irem por aí fora a matar pessoas.

E se fosse pela deficiente integração, muitos africanos em Portugal já se teriam transformado em homens-bomba.

As condições de vida e o desenraizamento podem facilitar o recrutamento de operacionais, mas a raiz do terrorismo islâmico é outra.

E se fosse esta também não teria solução, pois a Europa não vai sair da crise tão cedo e a integração dos muçulmanos nas sociedades europeias nunca será completa...

Como se vê em França, na Bélgica, em Inglaterra ou na Alemanha, as populações de origem árabe, por exemplo, conservam em geral os seus hábitos de vida: comem a sua comida, vestem à sua maneira, professam a sua religião, lêem os seus jornais, vivem nos seus bairros.

E depois, em virtude de serem cada vez mais associados ao terrorismo, os muçulmanos são olhados com desconfiança pelo resto da população – o que agrava a segregação.

Perante um muçulmano, as pessoas hoje pensam: quem sabe se por detrás deste homem não se esconde um terrorista?

Ao contrário de outros terrorismos, o terrorismo islâmico é de natureza religiosa – embora haja dificuldade em aceitar esta ideia, porque a cartilha marxista, que continua a condicionar o pensamento de muita gente, contempla sobretudo as condições socio-económicas.

Mas basta olhar para a História para o perceber: a guerra entre o Islão e o Ocidente cristão vem de muito longe (e nós sabemos isso melhor do que ninguém, pois ajudámos a expulsar os «infiéis» da Península).

Sucede que, ao contrário do cristianismo, o islamismo conservou uma vertente fundamentalista e violenta, bem expressa nas atrocidades de Khomeyni, de Bin Laden ou do Estado Islâmico.

E o fundamentalismo não tem parado de crescer nos últimos tempos – conquistando cada vez mais terreno no Norte de África e multiplicando os atentados terroristas pelo mundo fora.

Neste momento, a Europa é um paraíso para os terroristas islâmicos, pela ausência de fronteiras nacionais, pela liberdade de movimentos, pela liberdade de propaganda, etc.

Em nenhuma parte do mundo existem tais condições.

Ora isto pode fazer do continente europeu, nos tempos que aí vêm, um palco privilegiado para os ataques terroristas.

Até porque aqui vivem 50 milhões de muçulmanos, possibilitando que eles se escondam com tremenda facilidade (procurar um muçulmano em certos países da Europa é como procurar agulha em palheiro) e oferecendo um campo de recrutamento  muito grande.

Enfrentar o terrorismo islâmico na Europa é uma tarefa ciclópica.

Mas há uma coisa a fazer antes de mais nada: abandonar os preconceitos ideológicos, os complexos de esquerda e os clichés – e aceitar pôr tudo em questão.

A recusa dos partidos do sistema em debater descomplexadamente a imigração, está a entregar à extrema-direita o monopólio do debate sobre este tema.

Ora, isso é perigosíssimo.

Os partidos centrais têm de ser mais activos e firmes no combate a este flagelo.

Não podem revelar a passividade e a inocência que têm demonstrado.

Como aceitar, por exemplo, que alguns imãs continuem a pregar livremente a violência e a recrutar  homens nas mesquitas de Paris ou Bruxelas para ataques terroristas?

Como admitir que em Londres haja municípios ostentando à entrada placas dizendo: «Está a entrar numa zona controlada pela sharia [lei islâmica]»?

É inadmissível.

Muitos europeus começam a estar cansados, com medo, aterrorizados mesmo – e, se os Governos não derem respostas concretas, o racismo anti-muçulmano na Europa pode ficar fora de controlo.

E os partidos da extrema-direita continuarão a crescer eleitoralmente e começarão a ganhar eleições.

O tempo urge.

O discurso politicamente correcto já deu o que tinha a dar e não convence ninguém.

Os próprios muçulmanos estão fartos dele, pois a sua vontade é que se comece a separar o trigo do joio, não pagando o justo pelo pecador.

O pior inimigo dos muçulmanos que hoje vivem na Europa é a inacção dos Governos nacionais – permitindo uma liberdade de acção aos fundamentalistas que acaba por virar a opinião pública contra toda a comunidade islâmica.





domingo, 1 de fevereiro de 2015


Felizes apenas no inferno…


They’re not happy in Gaza

They're not happy in Egypt

They're not happy in Libya

They're not happy in Morocco

They're not happy in Iran

They're not happy in Iraq

They're not happy in Yemen

They're not happy in Afghanistan

They're not happy in Pakistan

They're not happy in Syria

They're not happy in Lebanon

They're not happy in Nigeria

They're not happy in Kenya

They're not happy in Sudan