quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A nova história oficial da Europa apaga o cristianismo e promove o Islão


A Comissão Europeia determinou que a Eslováquia redesenhasse as suas moedas comemorativas, eliminando os santos cristãos Cirilo e Metódio. (Imagem: Moeda – Comissão Europeia, Bratislava, Eslováquia – Frettie/Wikimedia Commons)

Giulio Meotti, Gatestone, 7 de Novembro de 2017

Original em inglês: Europe's New Official History Erases Christianity, Promotes Islam

Tradução: Joseph Skilnik
  • «Os patronos da falsa Europa estão enfeitiçados com superstições do inexorável progresso. Acreditam que a História está do lado deles e esta convicção torna-os altivos e desdenhosos, incapazes de reconhecerem as impropriedades do mundo pós-nacional e pós-cultural que estão concebendo.» — A Declaração de Paris, assinada por dez respeitados estudiosos europeus.
  • A proposta do ministro do Interior da Alemanha «de Maizière» de introduzir feriados oficiais muçulmanos mostra que, quando o assunto é Islão, «o secularismo oficial pós-cristão» está simplesmente engessado.
Há poucos dias, uma parcela dos intelectuais mais prestigiados da Europa, entre eles o filósofo britânico Roger Scruton, o ex-ministro da educação da Polónia, Ryszard Legutko, o conceituado intelectual alemão Robert Spaemann e o professor Rémi Brague da Sorbonne de França, emitiram «A Declaração de Paris». Nesta ambiciosa manifestação, rejeitam a «falsa cristandade dos direitos humanos universais» e a «utópica e pseudoreligiosa cruzada em favor de um mundo sem fronteiras». Contrapondo, defendem uma Europa calcada em «raízes cristãs», inspirada na «tradição clássica», rejeitando o multiculturalismo:

«Os patronos da falsa Europa estão enfeitiçados com superstições do inexorável progresso. Acreditam que a História está do lado deles e esta convicção torna-os altivos e desdenhosos, incapazes de reconhecerem as impropriedades do mundo pós-nacional e pós-cultural que estão concebendo. Além disso, são ignorantes no tocante às verdadeiras origens da decência misericordiosa que eles próprios tanto estimam, assim como nós também estimamos. Ignoram, até mesmo repudiam as raízes cristãs da Europa. Ao mesmo tempo, tomam o maior cuidado para não ofenderem as susceptibilidades dos muçulmanos, que eles imaginam irão adoptar entusiasticamente a sua visão secular e multicultural de mundo».

Em 2007, reflectindo sobre a crise cultural do velho mundo, o Papa Bento XVI disse que a Europa está «duvidando da sua própria identidade». Em 2017 a Europa deu mais um passo: criou uma identidade pós-cristã, pró-Islão. Os edifícios governamentais e exposições oficiais da Europa estão efectivamente a apagar o cristianismo e a acolher o islamismo.

Uma espécie de museu oficial foi recentemente inaugurado pelo Parlamento Europeu: «Casa da História Europeia», no valor de 56 milhões de euros. A ideia era criar uma narrativa histórica do pós-guerra em torno da mensagem pró-UE de unificação. O edifício é um belíssimo exemplo de Art Deco em Bruxelas. Conforme realçou o estudioso holandês Arnold Huijgen, o casarão é culturalmente «vazio»:

«A Revolução Francesa parece ser o lugar onde a Europa nasceu, há pouco espaço para qualquer outra coisa que possa tê-la precedido. Ao Código Napoleónico e à filosofia de Karl Marx está reservado um lugar de destaque, enquanto a escravidão e o colonialismo são destacados como o lado mais negro da cultura europeia (...) O que mais impressiona na exibição do museu é que a narrativa não menciona nada sobre a religião, é como se não existisse. Na verdade, nunca existiu e nunca impactou a história da Europa (...) O secularismo europeu não luta mais com a religião cristã, simplesmente ignora todo e qualquer aspecto religioso da vida».

A burocracia em Bruxelas chegou ao ponto de apagar as raízes católicas da sua bandeira oficial, as doze estrelas que simbolizam o ideal de unidade, solidariedade e harmonia entre os povos da Europa. Ela foi concebida pelo designer francês, católico, Arséne Heitz, que ao que tudo indica, se inspirou na iconografia cristã da Virgem Maria. Mas a explicação oficial da União Europeia sobre a bandeira não menciona essas raízes cristãs.

O Departamento Monetário e Económico da Comissão Europeia determinou que a Eslováquia redesenhasse as suas moedas comemorativas, eliminando os santos cristãos Cirilo e Metódio. Não existe nenhuma referência ao cristianismo nas 75 mil palavras constantes no rascunho, cancelado, da Constituição Europeia.

O ministro do Interior da Alemanha, Thomas de Maizière, do Partido Democrata Cristão de Angela Merkel, sugeriu recentemente introduzir feriados oficiais muçulmanos. «Em lugares onde há muitos muçulmanos, porque não pensar em introduzir um feriado oficial muçulmano?», salientou ele.

«A proposta está a avançar» respondeu Erika Steinbach, influente ex-presidente da Federação dos Desterrados – alemães expulsos de diversos países da Europa Oriental durante e após a Segunda Guerra Mundial.

Beatrix von Storch, líder política do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), acaba de tuitar: «NÃO! NÃO! NÃO!»

A proposta de «de Maizière» mostra que quando o assunto é o Islão, o secularismo oficial «pós-cristão» está simplesmente engessado.

Há poucas semanas, a exposição financiada pela União Europeia: «Islão. Também é a nossa história!», foi apresentada em Bruxelas. A exposição mostra o impacto do Islão na Europa. O anúncio oficial sustenta que:

«A evidência histórica apresentada pela exposição, a realidade de uma presença muçulmana antiga na Europa e a complexa interacção de duas civilizações que lutaram uma contra a outra mas que também se entrelaçaram, sustenta um empreendimento educacional e político: ajudar os muçulmanos europeus e não muçulmanos a compreenderem melhor as raízes culturais que têm em comum e cultivar a cidadania que também têm em comum».

Isabelle Benoit, historiadora que ajudou a projectar a exposição, salientou à AP: «queremos deixar claro aos europeus que o Islão faz parte da civilização europeia, que o Islão não é nada novo e que tem raízes que remontam há XIII séculos».

O establishment oficial europeu voltou as costas ao cristianismo. Parece desconhecer até que ponto o velho mundo e o seu povo ainda dependem da orientação moral dos seus valores humanitários, especialmente quando o Islão radical lança uma ameaça civilizacional ao Ocidente. «É como se um pacote tentasse preencher um ‘vazio’», salientou Ernesto Galli della Loggia no jornal italiano Il Corriere della Sera.

«É impossível ignorar que por trás do pacote há duas grandes tradições teológicas e políticas: a da ortodoxia Russa e a do Islão, enquanto por trás do «vazio» há apenas o enfraquecimento da consciência cristã do Ocidente europeu».

É por esta razão que é tão difícil entender a «lógica» que está por trás da animosidade europeia oficial em relação ao cristianismo e a sua atracção por um Islão fundamentalmente totalitário. A Europa poderia facilmente ser secular sem ser militantemente anticristã. É mais fácil entender a razão dos milhares de polacos que acabam de participar numa manifestação em massa ao longo das fronteiras da Polónia para expressar a sua oposição à «secularização e a influência do Islão», que é exactamente a linha oficial da UE.

Durante a Segunda Guerra Mundial os Aliados evitaram bombardear Bruxelas porque ela deveria ser o local do renascimento europeu. Se a elite europeia continuar com este repúdio cultural da sua cultura judaica\cristã\humanista, a cidade poderá vir a ser a sua sepultura.





domingo, 5 de novembro de 2017

Um teólogo escreve ao Papa: Há um caos na Igreja, e o senhor é uma causa.

Teólogo Thomas G. Weinandy

Sandro Magister, Settimo Cielo, 1 de Novembro de 2017

Tradução: FratersInUnum.com

Thomas G. Weinandy é um dos teólogos mais conhecidos. Vive em Washington, no Seminário dos Capuchinhos, a ordem franciscana à qual pertence. É membro da Comissão Teológica Internacional, a comissão que Paulo VI colocou ao lado da Congregação para a Doutrina da Fé para que pudesse valer-se dos melhores teólogos de todo o mundo. É membro desta comissão desde 2014, o que significa que foi nomeado pelo Papa Francisco.

No último mês de Maio, enquanto estava em Roma para uma sessão da comissão, surgiu a ideia de escrever a Francisco uma carta aberta para lhe confiar a inquietude, não só sua, mas de muitos fiéis, pelo crescente caos que há na Igreja, que considera ser causado, em boa parte, pelo próprio Papa.

Rezou muito, inclusive no túmulo de Pedro. Pediu a Jesus que lhe ajudasse a decidir escrever ou não a carta e que lhe desse um sinal… E ele chegou um dia depois, conforme o que havia pedido na oração, e que agora relata da seguinte forma:

«There was no longer any doubt that Jesus wanted me to write…»

Ao ter sido confortado pelo céu, o padre Weinandy decidiu escrever a carta. Em meados do Verão passado, enviou-a ao Papa Francisco. E hoje, festa de Todos os Santos, torna-a pública no portal americano de informação religiosa Crux e imediatamente depois, em Roma, em quatro idiomas, em Settimo Cielo [e, em português, no FratresInUnum.com, graças à gentileza de um nobre amigo].

Padre Weinandy, de 71 anos, leccionou nos Estados Unidos em diversas universidades, em Oxford durante doze anos e em Roma na Pontifícia Universidade Gregoriana.

Foi, durante nove anos, director executivo do Secretariado para a Doutrina da Conferência Episcopal Norte-americana.

* * *

Santidade:

Escrevo esta carta com amor à Igreja e sincero respeito por o vosso ministério. Vós sois o Vigário de Cristo na Terra, o Pastor do Seu rebanho, o Sucessor de São Pedro e, portanto, a rocha sobre a qual Cristo construiu a Sua Igreja. Todos os católicos, sejam clérigos ou leigos, devem dirigir-se a Vós com lealdade e obediência filiais fundamentadas na Verdade. A Igreja  dirige-se a Vós com espírito de fé, com a esperança de que Vós a guieis no amor.

No entanto, Santidade, o Vosso Pontificado parece estar marcado por uma confusão crónica. A luz da fé, a esperança e o amor não estão ausentes, mas muito frequentemente estão obscurecidos pela ambiguidade das vossas palavras e acções. Isto faz com que entre os fiéis haja cada vez mais inquietação, enfraquecendo a sua capacidade de amor, de alegria e de paz.

Permiti-me dar alguns exemplos.

O primeiro refere-se à disputa em relação ao Capítulo oitavo de Amoris Laetitia. Não necessito compartilhar as minhas próprias preocupações sobre o seu conteúdo. Outros, não só teólogos, mas também cardeais e bispos, já o fizeram. A preocupação principal é a vossa maneira de ensinar. Em Amoris Laetitia, as vossas indicações parecem às vezes intencionalmente ambíguas, convidando tanto a uma interpretação tradicional do ensinamento católico sobre o matrimónio e o divórcio, como também a uma interpretação que parece levar consigo uma mudança neste ensinamento. Como Vós mesmo, com grande sabedoria, observa, os pastores devem acompanhar e animar as pessoas que se encontram em matrimónios irregulares; mas a ambiguidade persiste em relação ao significado real desse «acompanhamento». Ensinar com uma falta de clareza pode inevitavelmente levar a pecar contra o Espírito Santo, o Espírito da Verdade. O Espírito Santo foi entregue à Igreja e sobretudo a Vós, para dissipar o erro, não para fomentá-lo. Além disso, só onde há Verdade pode haver verdadeiro amor, porque a Verdade é a luz que liberta os homens e as mulheres da cegueira do pecado, uma obscuridade que mata a vida da alma. No entanto, Vós pareceis censurar e inclusive ridicularizar aqueles que interpretam o Capítulo oitavo de Amoris Laetitia segundo a Tradição da Igreja, rotulando-os de fariseus apedrejadores representantes de um rigorismo sem misericórdia. Este tipo de calúnia é alheia à natureza do Ministério Petrino. Parece que alguns dos seus conselheiros se dedicam lamentavelmente a este tipo de atitude. Este comportamento dá a impressão de que o vosso ponto de vista não pode sobreviver a um escrutínio teológico, e por isso deve ser sustentado mediante argumentos ad hominem.

Segundo. Muito frequentemente as vossas formas parecem menosprezar a importância da Doutrina da Igreja. Uma e outra vez Vós vos referis à Doutrina como se fosse algo morto, algo útil somente para ratos de biblioteca, que estão longe das preocupações pastorais da vida diária. Aqueles que vos criticam foram acusados – e são palavras vossas – de fazer da Doutrina uma ideologia. Mas é precisamente a Doutrina cristã – incluindo as suteis distinções relacionadas às crenças fundamentais como a natureza trinitária de Deus, a natureza e a finalidade da Igreja; a Encarnação; a Redenção; os sacramentos – que liberta o homem das ideologias mundanas e garante-lhe que está pregando e ensinando o Evangelho verdadeiro, doador de Vida. Aqueles que subestimam a Doutrina da Igreja separam-se de Jesus, Autor da Verdade. E o único que resta então é uma ideologia; uma ideologia que se conforma com o mundo do pecado e da morte.

Terceiro. Os fiéis católicos estão desconcertados pela vossa escolha de alguns bispos, homens que não só estão abertos àqueles que têm pontos de vista contrários à fé cristã, mas que também os apoiam e inclusive os defendem. O que escandaliza os fiéis e inclusive a alguns irmãos bispos não é só o facto de que Vós nomeeis estes homens como Pastores da Igreja, mas que permaneçais calado ante o seu ensinamento e prática pastorais, debilitando assim o zelo de muitos homens e mulheres que defenderam a autêntica Doutrina católica durante muito tempo, às vezes arriscando a sua própria reputação e bem-estar. O resultado: muitos fiéis, em representação do sensus fidelium, estão a perder a confiança no seu Pastor Supremo.

Quarto. A Igreja é um Corpo, o Corpo Místico de Cristo, e o Senhor vos encarregou a Vós a missão de promover e fortalecer a sua unidade. Mas as vossas acções e palavras parecem dedicar-se, frequentemente, a fazer o oposto. Alentar uma forma de «sinodalidade» que permite e fomenta várias opções doutrinais e morais dentro da Igreja só pode levar a uma maior confusão teológica e pastoral. Esta sinodalidade é insensata e na prática é contrária à unidade colegial dos bispos.

Santo Padre, tudo isto me leva à última preocupação. Vós frequentemente falais sobre a necessidade de que haja transparência dentro da Igreja, exortando sobretudo nos dois últimos Sínodos, a que todos, especialmente os bispos, falem francamente e sem medo ao que pudesse pensar o Papa. Mas, vós conseguistes perceber que a maioria dos bispos do mundo estão surpreendentemente silenciosos? Porquê? Os bispos aprendem rápido. E o que muitos aprenderam no vosso Pontificado é que Vós não estais aberto a críticas, mas que vos molesta ser objecto delas. Muitos bispos estão silenciosos porque desejam ser-vos leais e, por conseguinte, não se expressam – pelo menos publicamente; outra questão é se não o fazem privadamente – a preocupação que lhes causa o vosso pontificado. Muitos temem que, se falarem francamente, serão marginalizados. Ou algo pior.

Constantemente me interrogo: «Porque Jesus deixa que tudo isto ocorra?» A única resposta que consigo dar-me é que Jesus quer manifestar quão débil é a fé de muitas pessoas que estão dentro da Igreja, inclusive de muitos – demasiados – bispos. Ironicamente, o Vosso Pontificado deu a liberdade e a confiança para aqueles que têm um ponto de vista pastoral e teológico prejudicial saíssem à luz e expusessem a sua maldade, que antes estava oculta. Reconhecendo esta maldade, a Igreja humildemente necessitará renovar-se e assim seguir crescendo em santidade.

Santo Padre, rezo constantemente por Vós. E seguirei rezando. Que o Espírito Santo vos guie na direcção da luz da verdade e da vida do amor, para que possais dispersar a maldade que nestes momentos está ocultando a beleza da Igreja de Cristo.

Sinceramente em Cristo,

Thomas G. Weinandy, O.F.M., Cap.

31 de Julho de 2017

Festa de Santo Inacio de Loyola