sábado, 30 de abril de 2011

Apenas factos... de Álvaro Santos Pereira

José Cruz
Álvaro Santos Pereira, professor da Universidade de Vancouver, Canadá, colocou no seu blogue "Desmitos" um post que revela bem a sua falta de objectividade, ou, melhor, de verdade dos seus factos.
 
Ele apresenta uma série de factos que conduziram à actual crise nacional ou que a caracterizam. Tudo bem, são factos. Mas a verdade é que ele os escolhe e os apresenta de tal modo que deles resulta a culpa exclusiva dos socialistas ou até apenas de Sócrates. E até chega a apresentar alguns factos a acusar Sócrates só porque, com ele, esses factos são apenas piores...
Isto não é próprio de alguém que pretende fazer valer os seus galões universitários. Só isto. Em vez de estar enredado com a nódoa do Passos Coelho, a fazer-lhe o frete da propaganda rasca, devia era ser objectivo, verdadeiro, verdadeiramente universitário. E mostrar com os factos a desgraça que, desde a economia à educação, passando pela ordem moral, chegou a Portugal com a abrilada.

Geração à rasca ou mal habituada?

José Sampaio
A geração dos meus pais não foi uma geração à rasca.
Foi uma geração com capacidade para se desenrascar.
Numa terriola do Minho as condições de vida não eram as melhores.
Mas o meu pai António não ficou de braços cruzados à espera do Estado ou de quem quer que fosse para se desenrascar.
Veio para Lisboa, aos 14 anos, onde um seu irmão, um pouco mais velho, o Artur, já se encontrava.
Mais tarde veio o Joaquim, o irmão mais novo.
Apenas sabendo tratar da terra e do pastoreio, perdidos na grande e desconhecida Lisboa, lançaram-se à vida.
Porque recusaram ser uma geração à rasca, fizeram uma coisa muito simples.
Foram trabalhar.
Não havia condições para fazerem o que sabiam e gostavam.
Não ficaram à espera.
Foram taberneiros.
Foram carvoeiros.
Fizeram milhares de bolas de carvão e serviram milhares de copos de vinho ao balcaão.
Foram simples empregados de tasca.
Mas pouparam.
E quando surgiu a oportunidade estabeleceram-se como comerciantes no ramo.
Cada um à sua maneira foram-se desenrascando.
Porque sempre assumiram as suas vidas pelas suas próprias mãos.
Porque sempre acreditaram neles próprios.
E nós, eu e os meus primos, nunca passámos por necessidades básicas.
Nós, eu e os meus primos, sempre tivémos a possibilidade de acesso ao ensino e à formação como ferramentas para o futuro.
Uns aproveitaram melhor, outros nem tanto, mas todos tiveram as condições que necessitaram.
E é este o exemplo de vida que, ainda hoje, com 60 anos, me norteia e me conduz.
Salvaguardadas as diferenças dos tempos mantenho este espírito.
Não preciso das ajudas do Estado.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.
Não preciso das ajudas da família que também têm as suas próprias vidas.
Não preciso das ajudas dos vizinhos e amigos.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.
Preciso de mim.
Só de mim.
E, por isso, não sou, nunca fui, de qualquer geração à rasca.
Porque me desenrasco.
Porque sempre me desenrasquei.
O mal desta auto-intitulada geração à rasca é a incapacidade que revelam.
Habituados, mal habituados, a terem tudo de mão beijada.
Habituados, mal habituados, a não precisarem de lutar por nada porque tudo lhes foi sendo oferecido.
Habituados, mal habituados, a pensarem que lhes bastaria um canudo de um qualquer curso dito superior para terem garantida a eterna e fácil prosperidade.
Sentem-se desiludidos.
E a culpa desta desilusão é dos "papás" que os convenceram que a vida é um mar de rosas.
Mas não é.
É altura de aprenderem a ser humildes.
É altura de fazerem opções.
Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não encontram emprego "digno".
Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não conseguem ganhar o dinheiro que possa sustentar, de imediato, a vida que os acostumaram a pensar ser facilmente conseguida.
Experimentem dar tempo ao tempo, e entretanto, deitem a mão a qualquer coisa.
Mexam-se.
Trabalhem.
Ganhem dinheiro.
Na loja do Shopping.
Porque não ?
Aaaahhh porque é Doutor...
Doutor em loja de Shopping não dá status social.
Pois não.
Mas dá algum dinheiro.
E logo chegará o tempo em que irão encontrar o tal e ambicionado emprego "digno".
O tal que dá status.
O meu pai e tios fizeram bolas de carvão e venderam copos de vinho.
Eu, que sou Informático, System Engineer, em alturas de aperto, vendi bolos, calças de ganga, trabalhei em cafés, etc.
E garanto-vos que sou hoje muito melhor e mais reconhecido socialmente do que se sempre tivesse tido a papinha toda feita.
Geração à rasca ?
Vão trabalhar que isso passa.
À rasca, mesmo à rasca, também já tenho estado.
Mas vou à casa de banho e passa-me.

terça-feira, 26 de abril de 2011

As comemorações na Praça da III República, 25A

Heduíno Gomes
1 – Os resultados da abrilada estão à vista. O bando de inconscientes e irresponsáveis que se deixou manipular pelo núcleo organizador do MFA deu também provas de oportunismo corporativo e de comodismo impróprio de militares e deu cabo não apenas de um país mas de vários. É caso para dizer que, «desde o Minho a Timor», todos estamos a pagar essas taras apresentadas como actos heróicos.
2 – Decididamente, os abrilistas não querem reconhecer o óbito do amor das suas vidas e andam por aí fazer boca-a-boca na esperança de perpetuá-lo. Desde o Cavaco ao Vasco Lourenço, todos os zes-ninguém de um Portugal a sério o louvam e o lavam. Sim, o que seriam esses tipos na vida, que carreiras políticas e profissionais teriam feito, quantos tostõezinhos teriam arrecadado, quem teria ouvido falar deles se não fora a abrilada?
3 – A SIC Notícias esmerou-se na lavagem do evento. A dita estação apresentou na tarde do heróico dia, em enjoativa repetição, umas carpideiras a falar das torturas que sofreram na PIDE, de vez em quando com a historiadora do actual regime  Irene Pimentel a dar umas achegas documentais, igualmente com ar de sofredora. Mesmo descontando o romanceamento das suas aventuras, não há dúvida de que a PIDE os terá tratado mal. Até aí vamos. Mas o grande descaramento dessas carpideiras e da historiadora Pimentel é apresentarem-se como vítimas, a lutar pela liberdade, quando afinal estavam a lutar por instituir em Portugal uma polícia política muito mais torturadora do que a PIDE, com gulag e tudo. É mentira? Não seria pela ditadura «do proletariado» que lutavam? Então, falando dessas lágrimas dos tabefes que levaram, são parvos ou estão a tomar-nos por parvos? Onde está a honestidade desta gente? Se eram comunistas, apologistas da tal ditadura «do proletariado», como esperavam que a sociedaade se defendesse deles? Com beijinhos?
4 – A SIC Notícias apresentou igualmente umas entrevistas a alguns capitães do 25A. E aí aparece um a dizer que os capitães estavam fartos de fazer a guerra. Pela boca morre o peixe. Então o que dizer desses meninos que foram para oficiais de carreira e depois quando chega o momento de dar o corpo ao manifesto (para isso foram pagos, incluindo na sua formação), arranjam divergências políticas para fugir com o dito à seringa? Para que servirá uma nação gastar dinheiro com a tropa se ela só quer viver em paz, com sopas e descanso? Sim, que chamar-lhes? Bando de oportunistas? Chulos da Nação? Ou pretenderão ser democratas e patriotas?
5 – Neste dia de festa, até não faltou o inteligente Passos Coelho a fazer uma referência contra a União Nacional para justificar a sua cegueira política de herói… que nem chega a ser. Pobre Portugal.
(Do Cavaco, com o seu ar decadente, nem vale a pena falar. Do Sampaio, tinha saudades das suas lições de moral. E do Eanes, apenas que me relembrou a sua enorme capacidade em formar advérbios de modo a partir do adjectivo. Eu já estava esquecido dessa sua rara virtude.)