sábado, 4 de fevereiro de 2017

Carta de Hilarion a Alis, endossada hoje à Assembleia da República



José Miguel Pinto dos Santos, Observador, 1 de Fevereiro de 2017

Agora que não há dor que não possa ser dominada com cuidados paliativos adequados, fica a dúvida se o que se pretende não será o «progresso» para uma sociedade sem piedade para com os mais fracos.

Hialarion era camponês, casado e, tudo indica, bom pai de família. Provavelmente era natural da região de Oxirrinco, uma cidade do Médio Egipto. Como falava grego é possível que fosse descendente de colonos helenos, mas não é certo, porque após três séculos de governo Ptolemaico o grego era língua franca no Egipto. Podemos supor que não tinha uma vida fácil porque a certa altura teve de ir trabalhar, por uns tempos, para a longínqua Alexandria. De lá escreveu, ou pediu a um escrivão que escrevesse, a seguinte carta para a sua mulher Alis:

[recto] De Hilarion para Alis, sua irmã, saudações sinceras, e também para os meus caros Berous e Apollonarion. Fica a saber que ainda estamos neste momento em Alexandria. Não te preocupes se, quando os outros regressarem, eu permanecer em Alexandria. Te imploro e suplico que cuides bem do menino. Assim que recebamos o salário te o enviarei. Se deres à luz, felicidades!, e se for rapaz deixa-o viver. Se for rapariga expõe-na [εκβαλε, literalmente: deita-a fora]. Disseste [através de] Aphrodisias «Não me esqueças». Como te poderei esquecer? Peço-te portanto que não te preocupes.

Vigésimo nono ano de César [1 a.C.], Pauni 23
[verso] Entregar a Alis da parte de Hilarion [Oxyrhynchus Papyrus, 744]

Esta missiva demonstra que Hilarion era um amor de pessoa: trabalhador esforçado e flexível, ternurento para com a mulher, pai preocupado pelo filho, que não esquece de enviar saudações para os vizinhos. Apesar de ser excelente pessoa, Hilarion era um homem do seu tempo: cortês e prestável para quem lhe é útil, como a mulher que lhe cuida da casa, o filho que lhe cuidará do futuro, e os vizinhos que lhe asseguram boa vizinhança, mas implacável para quem não lhe serve para nada, como uma filha que só lhe traria despesa. Esta era a visão que os homens tinham dos homens antes de serem influenciados pela doutrina de Cristo: ou instrumentos ou empecilhos do seu bem-estar, que merecem viver, os primeiros, e que podem ser descartados, ou morrer, os segundos. Também era esta a visão que a sociedade tinha do Homem, e que se encontrava espelhada nas leis e costumes um pouco por todo o mundo, na lei romana e nos códices egípcios, no consuetudinário japonês e na legislação chinesa, e que permitiam o aborto, o infanticídio, o golpe «de misericórdia», a exposição de velhos e enfermos, a exterminação dos homens «não-pessoas» ou «não-humanos» e, em não poucas civilizações, o sacrifício humano.

Não sabemos se a destinatária deu à luz e se terá seguido as indicações do marido. Mas depois de receber esta carta Alis deve tê-la deitado para o lixo. Foi de facto numa lixeira do primeiro século da nossa era onde Bernard Grenfell (1868–1926) e Arthur Hunt (1871–1934) a descobriram no final do século dezanove, muito a tempo de ser endossada hoje à Assembleia da República, agora que esta se prepara para debater a eliminação dos doentes terminais que, inúteis produtivamente, são também um peso para o orçamento do Estado e um transtorno para a família. Como a alegada compaixão por quem sofre atrozmente não tolhe, agora que a medicina reclama que não há dor que não possa ser dominada com cuidados paliativos adequados, fica a dúvida se o que se pretende não será o «progresso» para uma sociedade sem piedade para com os mais fracos. O propósito deste endosso é perguntar: senhores deputados, querem mesmo criar uma sociedade mais solidária? E é através da eliminação dos mais fracos que o querem fazer? Depois de legalizarem o aborto e, agora, o golpe «de misericórdia», o que virá a seguir, o infanticídio ou o sacrifício humano? Querem mesmo impor, passo a passo, a crueza do pré-Cristianismo aos portugueses?






quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017


O Papa e a Ordem de Malta: uma vitória de Pirro?


Valeta, capital da Ilha de Malta, onde sedia a Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João
de Jerusalém (surgida na primeira Cruzada, 1099), hoje mais conhecida como Ordem de Malta.
Numa memorável epopeia, no séc. XVI, os cavaleiros de Malta defenderam a Ilha
e impediram a invasão maometana.

Roberto De Mattei, IPCO, 31 de Janeiro de 2017

A renúncia do Grão-Mestre da Ordem de Malta, Matthew Festing [foto abaixo, à esquerda], imposta por Francisco em 23 de Janeiro, é susceptível de transformar-se numa vitória de Pirro. O Papa Bergoglio obteve o que queria, mas teve de usar a força, fazendo violência à lei e ao bom senso. O que terá consequências graves não só no interior da Ordem de Malta, mas entre os católicos do mundo inteiro, cada vez mais perplexos e confusos pelo modo como Francisco governa a Igreja.
O Papa sabia que não possuía qualquer direito legal para intervir na vida interna de uma Ordem soberana, e muito menos para exigir a renúncia do seu Grão-Mestre. Também sabia que este não poderia resistir à pressão moral de um pedido de renúncia, ainda que ilegítima.

Assim agindo, o Papa Francisco exerceu um acto de império abertamente contrastante com o espírito de diálogo, que foi o leitmotiv do ano da misericórdia. Mas, o mais grave é que a intervenção foi para «punir» a corrente que na Ordem é mais fiel ao Magistério imutável da Igreja e apoiar a ala laicista, que gostaria de transformar os cavaleiros de Malta numa ONG humanitária, distribuidora de preservativos e abortivos, «para fazer o bem». A próxima vítima parece ser o cardeal-patrono Raymond Leo Burke [na foto abaixo, com cavaleiros da Ordem de Malta], que tem a dupla «culpa» de ter defendido a ortodoxia católica dentro da Ordem e de ser um dos quatro cardeais que criticaram os erros teológicos e morais da Exortação bergogliana Amoris laetitia.

No seu encontro com o Grão-Mestre, o Papa Francisco anunciou-lhe a sua intenção de «reformar» a Ordem, ou seja, a vontade de suprimir o seu carácter religioso, embora seja precisamente em nome da autoridade papal que ele quer começar a suspensão das normas religiosas e morais. Trata-se de um projecto de destruição da Ordem, que naturalmente só poderá acontecer através da rendição dos cavaleiros, os quais infelizmente parecem ter perdido o espírito militante que os distinguia nos campos de batalha das Cruzadas e nas águas de Rhodes, Chipre e Lepanto. Ao fazê-lo, no entanto, o Papa Bergoglio perdeu muito da sua credibilidade, não só aos olhos dos próprios cavaleiros, mas de um número crescente de fiéis que sentem a contradição entre o seu modo de falar, cativante e doce, e o de agir, intolerante e ameaçador.

Selo comemorativo da participação
dos cavaleiros da Soberana Ordem de Malta
na Batalha de Lepant
Passemos do centro à periferia, a qual, entretanto, para o Papa Francisco, é mais importante do que o centro. Poucos dias antes da demissão do Grão-Mestre da Ordem de Malta, outra notícia na mesma linha abalou o mundo católico. Dom Rigoberto Corredor Bermúdez, bispo de Pereira, na Colômbia, por decreto de 16 de Janeiro de 2017, suspendeu a divinis o padre Alberto Uribe Medina, porque, segundo o comunicado da diocese, ele teria «expressado pública e privadamente a sua rejeição ao magistério doutrinário e pastoral do Santo Padre Francisco, sobretudo no que diz respeito ao casamento e à Eucaristia». O comunicado da diocese acrescenta que, por causa da sua posição, o sacerdote «separou-se publicamente da comunhão com o Papa e com a Igreja».

Portanto, o padre Uribe foi acusado de ser herege e cismático por recusar aquelas orientações pastorais do Papa Francisco que, aos olhos de tantos cardeais, bispos e teólogos, são suspeitas de heresia precisamente porque parecem afastar-se da fé católica. O que significa que o sacerdote que se recusar a administrar a comunhão a divorciados recasados ou a homossexuais praticantes será suspenso a divinis ou excomungado, enquanto aquele que rejeita o Concílio de Trento e a Familiaris Consortio é promovido a bispo e, talvez, a cardeal, como provavelmente espera Dom Charles Scicluna, arcebispo de Malta, um dos dois prelados malteses que autorizaram oficialmente a comunhão para divorciados recasados que vivem more uxorio. Desta forma, o nome da pequena ilha do Mediterrâneo parece ter uma ligação misteriosa com o futuro do Papa Francisco, menos tranquilo do que se imagina.

Quem é hoje ortodoxo, e quem é herege e cismático? Este é o grande debate que se delineia no horizonte. Um «cisma de facto», como o definiu o jornal alemão «Die Tagespost», ou seja, uma guerra civil na Igreja, da qual a guerra no interior da Ordem de Malta é apenas um pálido prenúncio.



(*) Fonte: «Corrispondenza romana», 25-01-2017. Matéria traduzida do original italiano por Hélio Dias Viana.





terça-feira, 31 de janeiro de 2017


A questão dos imigrantes: aceitá-los ou não?


Com estes nunca houve problemas: Portugueses, Franceses, Belgas, Alemães
— mais bacalhau, mais chucrute, todos da mesma cultura e Civilização ocidental...

Heduíno Gomes

Para mim, os imigrantes serem «regulares» ou «irregulares», legais ou ilegais, é irrelevante. Nunca fui um grande legalista... confesso... Aprendi que a lei não tem necessariamente valor moral ou político e que é talhada à medida de ideologias ou de interesses do legislador. Os ucranianos chegaram cá ilegalmente e, para mim, são bem-vindos.

Para mim, o que é importante são outras coisas.

1 — O Estado que acolhe tem de ter independência e autoridade para definir e exercer a sua própria política de imigração.

A imigração, como qualquer aspecto da vida social, tem de ser regulada — em diferentes graus — pelo Estado. Nas actuais circunstâncias políticas mundiais e económicas de cada país, tem de ser especialmente regulada.

Penso sempre no Estado do meu país, achando ao mesmo tempo natural que pessoas de outros países possam pensar da mesma forma... O Estado que acolhe não tem de andar a reboque de Trilaterais, maçonarias mundiais, Merkels, bruxelistas, os seus criados políticos ou dos jornais, esquerdalhas inconscientes ou católicos idiotas úteis (os de bom coração) ou malandros (os «progressistas» infiltrados), a pregar o multiculturalismo, isto é, a liquidação da Civilização ocidental.

Portanto, aqui separo logo as águas. De um lado, a independência dos estados e do que eles poderão ter de melhor (ou não, segundo quem os dirige...), que é a preservação da Civilização ocidental, no que se inclui a regulação da imigração. De outro lado, o mundialismo-multiculturalismo e o capitulacionismo dos cobardes perante esse polvo.

Entre estas duas visões não existe conciliação possível. Ou sim, ou sopas. Portanto, ou o Estado nacional é soberano e a Nação é independente, e regula a sua imigração, ou o Estado é um Estado-fantoche, um aparelho servindo poderes invisíveis mundiais e a Nação é um protectorado... desprotegido, e, se o mandarem, escancara as portas conforme os interesses estratégicos desses poderes invisíveis (mais ou menos invisíveis...). Para um Estado-fantoche e políticos-fantoches, tolerância zero.

2 — O Estado que acolhe, regulando a imigração, tem de ter em consideração, em primeiro lugar, a cultura dos candidatos a imigrantes.

Porque uma demasiada percentagem de imigrantes de outras culturas perturba a sociedade (são os sociólogos que o afirmam) e ameaça a nossa ordem pública. Os sociólogos é que dizem que, a partir de 10% de imigrantes nessas condições, surge o caos. Para isto, tolerância zero.

E podemos acrescentar como efeito de uma certa percentagem de imigrantes de outras culturas a ameaça à própria Civilização, como já acontece no Ocidente: o recuo dos nossos costumes e mesmo de práticas religiosas cristãs «para não ofender os muçulmanos» residentes... Para isto, tolerância zero.

A propósito, ucranianos podem vir muitos porque possuem a nossa cultura, que é a baseada na ética cristã (mesmo em pessoas sem fé), como a nossa.

3 — O Estado que acolhe, regulando a imigração e velando pela ordem e segurança dos seus nacionais, tem de ter em consideração as particularidades políticas dos candidatos e da sua cultura.

Porque qualquer percentagem de imigrantes, mínima que seja, com determinadas características culturais e políticas, pode camuflar uma rede que ameaça a ordem pública, a segurança da Nação e da Civilização ocidental. Para isto, tolerância zero.

É o caso dos «pacatos refugiados» que cá foram detectados como membros de uma rede terrorista, um deles inclusivamente tendo recebido subsídio da Segurança Social.

4 — O Estado que acolhe, regulando a economia e velando pelo bem comum dos seus nacionais, tem de ter em consideração as necessidades de mão-de-obra, incluindo a qualificada, para a sua economia.

Porque qualquer economia nacional, mesmo estando equilibrada, não é um poço sem fundo. A entrada descontrolada de imigrantes, mesmo qualificados, pode desregular a economia. Para isto, tolerância zero.

E quando a economia o permite, nunca — mas mesmo nunca — pode ser esquecida a cultura dos candidatos, a ordem e a segurança. Porque não são os valores e a política que devem subordinar-se à economia — como pretendem os tecnocratas da economia ou economicistas — mas tudo se deve subordinar aos valores e à política que os serve — como pretendem os defensores da Civilização, da Nação e do bem comum.






Que fazer com os jesuítas? (4)

Comentários soltos


Os dois papas negros, um disfarçado de branco.

1

«Fico pensando se o Papa Clemente XIV não tinha mesmo razão em ter extinguido a Ordem dos Jesuítas (em 21 de Julho de 1773), e se Pio VII não errou em ter restaurado a Ordem (Em 1814). Que Deus me perdoe se eu estiver errado!»

««««««««««««««

2
«Os jesuítas são apenas uma no meio de tantas Ordens religiosas católicas que estão em decadência. Mas não deixa de causar admiração a sua crise institucional, já que é uma Ordem de elite e altamente capacitada, tendo como carisma a defesa do Papa e da fé católica. Aliás, por isso mesmo, aumenta ainda mais a admiração pelo seu declínio.

Estamos assistindo ao cumprimento das profecias de Nossa Senhora de La Salete:

«No ano de 1864, Lúcifer e um grande número de demónios serão soltos do Inferno. Eles abolirão a fé pouco a pouco, até nas pessoas consagradas a Deus. Eles as cegarão de tal maneira que, salvo uma graça particular, adquirirão o espírito desses maus anjos. Várias casas religiosas perderão inteiramente a fé e perderão muitas almas».

«No ano 1865 ver-se-á a abominação nos lugares santos. Nos conventos as flores da Igreja serão apodrecidas, e o demónio tornar-se-á como que o rei dos corações».

«Que os dirigentes das comunidades religiosas estejam atentos em relação às pessoas que devem receber, porque o demónio usará toda a sua malícia para introduzir nas ordens religiosas pessoas entregues ao pecado, pois as desordens e o amor aos prazeres carnais estarão espalhados por toda a Terra».»

««««««««««««««

3
«É bem triste esta realidade. Agora há pouco em Fortaleza CE, a Igreja Cristo Rei, tendo como pároco, um jesuíta, faz missas para crianças usando o altar com cenários de circo, fantoches etc... Alegando que é pastoral da criança, usando erroneamente o livro de Mateus 19:14 Deixai vir a mim os pequeninos... Quer dizer ainda deturpam as passagens bíblicas.»

««««««««««««««

4
«Bergoglio é o espelho dos jesuítas. De uma forma menos descarada, para melhor enganar, mas na essência é exactamente a mesma coisa: corrupção, destruição da Igreja e da fé, e política esquerdista.»





domingo, 29 de janeiro de 2017


Que fazer com os jesuítas? (3)

Vertiginosa queda em número e reputação

Jesuítas idosos. Segundo o Vaticano, entre 2005 e 2015, a Ordem perdeu 3 110 sacerdotes e irmãos.
De 1965 a 2015, a Companhia de Jesus caiu de 36 038 para 16 740.

No momento em que a Companhia de Jesus tem um Papa pertencente à gloriosa ordem fundada por Santo Inácio, sua crise e decadência internas atingem patamares inauditos em matéria doutrinária e em número de membros, observou a revista americana «National Catholic Register».

Nos EUA, Canadá e Haiti só foram ordenados 20 novos jesuítas em 2015. Um dirigente da Ordem reconheceu ao «National Catholic Register» que «as tendências de novas vocações apontam para uma estabilização numérica no horizonte».

Entretanto, a comemoração pelas 20 ordenações do último ano parece exagerada, pois no mesmo período faleceram 65 padres da Ordem.

Em 2013, Matthew Archbold, da «Cardinal Newman Society», apontou outros sinais da decadência nas ordenações de novos jesuítas: os ex-jesuítas eram mais numerosos do que os jesuítas em actividade nos EUA. Estatísticas de 2011 elaboradas pelo Georgetown University’s Center for Applied Research in the Apostolate (CARA) apoiaram a assertiva.

Estatísticas mais recentes da Companhia e do Vaticano fornecem números assustadores. O número vem a cair nos últimos 50 anos, propulsionado pelos efeitos do período «pós-conciliar».

Em 1982 entraram 102 novos candidatos. Em 2010, apenas 45.

Entre 2008-2013, a Companhia contabilizou 445 religiosos mortos nos EUA, uma média de 89 por ano.

Somando e subtraindo, o «National Catholic Register» conclui que os jesuítas nos EUA estão em queda livre. Pelos números do CARA, perderam mais da metade em apenas 25 anos, precipitando-se de 4 823 em 1988 para 2 395 em 2013.

A situação no mundo em geral não é melhor, salvas excepções na Ásia e na África.

O estudo do CARA apontou um declínio de 33% na América Latina e de 13% no Extremo Oriente no período 1988-2013.

Nos 425 anos anteriores a 1965, a Companhia não parou de crescer, tendo atingido naquele ano o seu maior número: 36 038 sacerdotes e irmãos, segundo o Annuario Pontificio do Vaticano.

São Francisco Xavier convertendo pagãos
nos tempos gloriosos em que a ordem inaciana se expandia pelo mundo.

Em 2015 a Ordem caiu para 16 740 membros, uma queda vertiginosa que prossegue: mais de 50% em apenas 50 anos «pós-conciliares».

As saídas foram especialmente intensas no fim da década de 1960 e de 1970, na aplicação imediata do Vaticano II, quando muitos sacerdotes abandonaram os seus votos.

A mais recente década analisada (2005-2015) mostrou a continuidade da acentuada percentagem de desistências: 15,7%.

Segundo os relatórios do Vaticano, entre 2005 e 2015 os jesuítas perderam 3 110 sacerdotes e irmãos, a metade da calamitosa debacle da década 1965-1975.

Essas perdas não são fenómenos localizados ou esporádicos, diz o «National Catholic Register». O declínio foi constante durante todos os anos desde 1965, com excepção de 1984 a 1986.

Para a revista americana, o problema mais preocupante não radica nos números. O mais grave é a perda de reputação teológica e pastoral da Companhia no seio da Igreja.

De facto, há um número excepcional de jesuítas envolvidos na promoção da confusão moral e de controvérsias eclesiais, intelectuais e sociais.

Neste período de decadência, a boa fama dos jesuítas como «Infantaria de Cristo» foi sendo continuadamente abandonada pelas suas universidades.

Estas perderam a sua identidade católica e a sua fidelidade à tradição da Igreja e da gloriosa Ordem de Santo Inácio.