(O necessário «contraditório», como diz o outro…)
Heduíno Gomes
Mais do Coelho. Não se trata daquele da Madeira, o deputado local. Não se trata daquele do PS, o do betão. Não se trata daquele do tratado de política Mudar, o que agora está a salvar Portugal. Trata-se daquele que há décadas está lá para o Parlamento Europeu a sacar, o Carlinhos, aquele que aqui atrasado se pôs à fisgada contra os aviões da CIA que andavam a tratar da saúde aos turras islâmicos, esses que mandaram aviões contra as Torres Gémeas e o Pentágono, isto é, contra o Ocidente, e assassinaram milhares de americanos, isto é, milhares de ocidentais.
Pois foi esta sinistra, politicamente minúscula e frágil figura laranja de esquerda, a quem Cavaco deu um megafone na Europa, que no dia 13 de Outubro, em Lisboa, palrou sobre a Europa dele e as suas virtudes numa conferência em que estive presente. E como não houve «contraditório», como diz o outro, aqui está o relato da coisa.
Que disse o indivíduo?
1 – Utilizou o óbvio e inelutável fenómeno da globalização para justificar tudo o que pretende, isto é, a Europa à sua maneira. (O que é a Europa à sua maneira? É a Europa dos eurocratas, aquela Europa concebida e decidida por uns tipos que não representam os europeus e que andam lá pelos corredores de Bruxelas a mando de umas conhecidas centrais anticivilização, antifamília e antinações a ditar directivas impondo às nações europeias as suas modernices e jogadas especulativas.)
Ora o fenómeno da globalização, que os Portugueses iniciaram no século XV, não pode justificar políticas contra as nações, contra a família, contra a Civilização europeia. A globalização existe, exige que Portugal se movimente no contexto existente, mas… não significa que se aceite o projecto verdadeiramente anti-europeu, porque anticivilização europeia, dessas centrais.
Quando chamei a atenção para isto, tal típico político aldrabãozito de assembleias partidárias, o Coelho recorreu ao truque do costume: pôs na minha boca palavras com as quais eu não aceitaria o próprio fenómeno da globalização e respondeu-me ao lado do que eu tinha dito.
2 – A União Europeia, para Portugal, teria sido boa em tudo e continua a ser boa em tudo.
Ora, todos sabemos que a União Europeia nos impôs a liquidação da nossa agricultura e das nossas pescas, o que foi feito com a cumplicidade do sábio Cavaco, aquele que agora, hipocritamente – a não ser que sofra de um grave problema de memória –, recomenda a exploração da agricultura e do mar sem o mínimo reconhecimento da sua responsabilidade no abandono da agricultura e no abate da frota pesqueira e consequente desastre que agora sofremos. Ser pela Europa e a ela aderir é uma coisa e aceitar a liquidação da nossa agricultura e das nossas pescas é outra coisa.
Quando chamei a atenção para isto, tal típico político aldrabãozito, o Coelho recorreu ao truque do costume: pôs na minha boca palavras com as quais eu não aceitaria o facto de ter havido ajuda da Europa a Portugal e respondeu-me ao lado do que eu tinha dito.
3 – A natureza da União Europeia não seria burocrática.
Ora, todos sabemos que a União Europeia tem lá em Bruxelas uns burocratas de carreira investidos de poder pelas tais centrais e que montaram a sua indústria do europeísmo segundo o modelo dessas centrais. Enquanto vivem à grande e à francesa, a sua actividade é produzir directivas impondo às nações os seus pontos de vista, não apenas técnicos – umas vezes acertados, outras vezes desastrosos – como também civilizacionais, melhor dito anticivilizacionais. (É o caso da tentativa de impor à Itália a proibição de crucifixos nas escolas, é o caso de apoiar as máfias de invertidos contra a família natural).
Quando referi o poder dos eurocratas, tal típico político aldrabãozito, o Coelho recorreu ao truque do costume: fingiu ignorar os factos e respondeu-me «inocentemente» ao lado do que eu tinha dito. E até acrescentou que é «católico», a corroborar a sua adesão aos valores morais naturais. Pois, pois, «católicos» também dizem que o são o José Manuel Pureza do Bloco de Esquerda e o José Ribeiro da Associação Rumos Novos, que congrega «católicos» invertidos. Pensará ele que, ao dizer-se «católico», pode de seguida defender as maiores barbaridades sem ser contestado? Engana-se.
4 – Durante o Estado Novo, Portugal estaria internacionalmente isolado; teria sido admitido na União Europeia apenas graças à III República. A política de Salazar seria a de «orgulhosamente sós».
Ora, a verdade é que, para começar, a frase em que Salazar, em 1965, utiliza a expressão «orgulhosamente sós» nada tem a ver com qualquer isolamento diplomático de Portugal mas com o facto de Portugal, só, conseguir combater o bloco soviético em África. Efectivamente, a verdade é que Portugal não estava nada isolado no plano diplomático. Portugal participava em vários organismos europeus, chegando mesmo a presidi-los. Portugal iniciou em 1962 negociações com a Comunidade Europeia para a ela aderir, processo interrompido devido à obstrução de De Gaule ao alargamento para impedir a entrada da Inglaterra. Portugal, país fundador da NATO, na sua acção militar de contenção da União Soviética em África, tinha o apoio dos Estados Unidos, Inglaterra, França e Alemanha Federal, isto é, das principais potências ocidentais, e ainda de várias potências regionais. Será este o «isolamento» de Portugal durante a II República de que o Coelho pretende convencer-nos?
Mais, em brochura distribuída no colóquio pelo Coelho, obra de Alfredo Sousa de Jesus, outro comensal do europeísmo do seu grupo, assistimos a mais uma manobra de total desonestidade na linha da tese do «isolamento internacional» da II República. Vejamos. Essa brochura consiste numa cronologia de factos envolvendo países europeus e outros. Para cada facto, é apresentado o ano e os países nele envolvidos. Porém, quanto à fundação da NATO, em 1949, a narrativa muda e diz apenas: «Assinatura do Tratado do Atlântico Norte em Washington que dá origem à NATO». Mesmo abstraindo-nos da analfabética pontuação do texto, digna da mediocridade geral da nossa classe política afecta ao «acordo ortográfico», dá para ver que, ao contrário da regra nos outros factos da cronologia, o nome dos países fundadores da NATO, onde teria de constar o de Portugal, se sumiram... E assim a participação de Portugal num dos principais acontecimentos do pos-guerra é apagado da história.
Pois quanto à sua «inocente» «ignorância histórica» das negociações da adesão de Portugal à União Europeia durante a II República, o Coelho meteu-se discretamente na toca.
Conclusão (mais uma vez): foram estes indivíduos que conduziram Portugal à desgraça e não é certamente com eles que sairemos dela.