terça-feira, 14 de junho de 2011

Colóquio na SEDES
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Tema: o ensino

Heduíno Gomes
No dia 2 de Junho, teve lugar na SEDES um colóquio sobre o ensino. O moderador foi Fernando Adão da Fonseca (Presidente do Fórum para a Liberdade de Educação), tendo participado Marçal Grilo e Mário Pinto.
Adão da Fonseca 
Marçal Grilo, Ministro da Educação de Guterres, num tom sussurrento que mal se percebia, e estilo sábio pleno de anglicismos do thesaurus de eduquês, deu o mote. Mário Pinto concordou e desenvolveu. E Adão da Fonseca abençoou.

Conceitos fundamentais
Marçal Grilo
Perguntando que educação e qual a mais adequada, responde Marçal Grilo que «Há ideologia a mais e pragmatismo a menos» no ensino. Este suposto teórico de educação, autor de «tratados» sobre a coisa, dá assim nota da superficialidade tecnocratista com que aborda o tema: ignora que existe uma disciplina que se chama filosofia da educação, donde derivam vários pontos de vista… vários conceitos… várias ideologias pedagógicas…

Mário Pinto
Para Marçal Grilo e Mário Pinto não se trata de distinguir conceitos diferentes na abordagem da educação mas… de ser «pragmático»... Isto é, como se na base da praxis não estivessem os conceitos. Para «teórico» de educação e ex-ministro da pasta da educação não está mal, não senhor. O mesmo temos a dizer sobre Mário Pinto, que celebra assim o casamento entre o pragmatismo e o cristianismo!

Sistema nacional de ensino
Marçal Grilo opõe-se à existência de um sistema nacional de ensino, no que foi acompanhado por Mário Pinto e Adão da Fonseca, o Presidente do Fórum para a Liberdade de Educação, cuja guerra é precisamente a mesma.
Mário Pinto acha que a responsabilidade da educação não é também da competência do Estado mas apenas «dos pais e da sociedade». Dos pais entendemos. Mas o que quererá dizer «da sociedade»? O que será para ele «a sociedade»? Quem a representa? Algum grupo ou seita a que pertença? Mário Pinto escuda-se atrás de uma retórica liberal e pseudo-cristã de ataque ao «monopolismo do Estado» e de defesa da «liberdade de escolha da família» para pôr em causa precisamente a organização das famílias no seio da Nação tendo em vista alcançarem em conjunto um bom sistema de ensino para todos.
A anarquia proposta por Mário Pinto vai ao ponto de ouvirmos frases impensáveis como estas: «O aluno faz propostas e a escola escolhe.» ou «A escola está sensível à escolha do aluno.». Acha também que as escolas, presume-se que primárias e secundárias, devem possuir «currículos alternativos como as universidades». É este o seu «modelo de liberdade».
Na perspectiva de todos estes senhores, Portugal não necessitaria de um sistema nacional de ensino, não o reconhecem como peça fundamental a médio e longo prazo de um plano estratégico nacional. Para estes senhores, o que é bom não é um bom plano mas a «diversidade», isto é, a espontaneidade. «Não precisamos de um estado central educador e tutelar» mas de «projectos próprios».
De salientar que a grande batalha de Adão da Fonseca e do seu Fórum para a Liberdade de Educação, para além de comungar das aberrações das «novas pedagogias», é precisamente a tal autonomia das escolas, ao ponto de cada uma dever ter os seus próprios programas. Traduzindo isto por miúdos, o que estes «generosos» e «patriotas» pretendem é deixar o ensino nacional afundar-se no caos e criar colégios privados com ensino de qualidade para os seus rebentos, isto é, a mediocridade de ensino para o povão e o bom ensino para os ricos.
E Marçal Grilo, co-responsável da mediocridade actual, vem lamentar a falta de exigência no (seu) ensino endossando a responsabilidade aos pais! (Terei ouvido bem ou o homem descarrilou?)

Ensino secundário técnico
Marçal Grilo, numa atitude verdadeiramente delirante de traumatizado com algum episódio ocorrido durante o Estado Novo ou a autojustificar-se por ter sido, com Veiga Simão, um dos coveiros do ensino técnico, ataca-o. Ora, coisa que qualquer pessoa de bom senso faz é lamentar a destruição deste ramo de ensino. Mas Marçal Grilo, hábil na demagogia, faz dele uma caricatura destrutiva e fora do tempo e fica todo ufano.

História do ensino em Portugal
Mais uma vez Marçal Grilo prefere a falsificação à verdade, agora no que toca ao esforço do Estado Novo para fazer sair Portugal do atraso com que o herdou. Fazendo tais caricaturas, Marçal Grilo revela ou uma total ignorância da história do ensino em Portugal (então cale-se!), ou uma grande desonestidade, ou ambas.
Perante a notável obra do Estado Novo em matéria de extensão do ensino, traduzida em números concludentes no aumento de escolaridade e na construção de infra-estruturas, e ainda na alta qualidade dos seus programas e manuais, vir tratá-lo de obscurantista, como ele veio, não é de gente conhecedora ou séria.
Também desdenhar da utilização de regentes escolares e imputar a criação «dessa figura» ao Estado Novo é dupla ignorância ou desonestidade: primeiro, «essa figura», no seu entender obscurantista e medíocre, não foi criada por capricho de ninguém mas como solução de emergência para lutar contra o analfabetismo, tendo as regentes escolares cumprido a sua missão enquanto eram produzidos professores primários em quantidade suficiente; segundo, esse real mérito não pertence de facto ao Estado Novo, que apenas continuou a sua utilização, mas à I República. Dupla asneira.

Três conclusões
De todas estes doutorados disparates, ressaltam três conclusões.
Primeira, tais candidatos a especialistas em educação revelam grave défice em várias matérias essenciais à pedagogia. Como podem entender a pedagogia se não entendem a natureza humana nem a sociedade, por exemplo pretendendo colocar os próprios educandos a escolher os programas, ou seja, em auto-educadores?
Segunda, do ponto de vista nacional, tais políticos revelam uma completa irresponsabilidade. Na competição internacional, que será duma nação que não organize para a excelência o seu sistema de ensino de maneira a levar mais longe as suas crianças e jovens?
Terceira, do ponto de vista humanista, tais pessoas revelam pouca sensibilidade. Onde pararão os sentimentos cristãos daqueles que se estão nas tintas para o bem comum e apenas procuram o negócio no complexo pedagogico-industrial ou o ensino de qualidade (pensam eles...) para os seus?













Ainda as comemorações do 10 de Junho

Heduíno Gomes
Como complemento ao artigo de João J. Brandão Ferreira «O 10 de Junho e os combatentes», há a acrescentar alguns pormenores significativos.
Um dos oradores na Conferência que teve lugar na Gulbenkian foi António Telo, professor na Academia Militar. Começando por declarar que se limitaria a citar factos e não tomaria posição, como se fosse historiador isento, a verdade é que escolheu os factos à sua maneira e acabou mesmo por… tomar partido.
António Telo foi um dos tais que pôs em causa a justeza de Portugal responder à guerra com a guerra.
António Telo defendeu as teses capitulacionistas e a jeito dos americanos sobre o Ultramar de Botelho Moniz, criticando-o apenas por ter sido ingénuo na sua luta com Salazar.
António Telo foi um dos que entendeu a «solução» 25A.
E é António Telo é formador dos jovens oficiais, que por ele ouvem contar umas histórias e moldam a sua perspectiva de vida, patriotismo e dever militar a partir de tais balelas! Formador ou intoxicador?
Puseram os pontos nos ii João J. Brandão Ferreira e Jaime Nogueira Pinto.
No dia 10 de Junho, junto ao Monumento aos Combatentes, houve vários discursos normais na circunstância. Contudo, um houve que destoa pela circunstância e pela falta de verdade: o de Jorge Cabrita, um chefe da PSP, que, apesar do verniz que lhe aplicou, deixou transparecer o alinhamento com a esquerdalha, na linguagem e nas ideias.
Ah, importantíssimo, ainda foi lida uma mensagem igualmente ambígua de Cavaco, o rolha N.º 3 (sendo que o n.º 1 era o Costa Gomes e o n.º 2 o Eanes).



segunda-feira, 13 de junho de 2011

O 10 de Junho e os combatentes

João J. Brandão Ferreira
(síntese)
A Comissão Promotora do Encontro Nacional dos Combatentes, organiza uma romagem anual de homenagem aos Combatentes do Ultramar, junto ao respectivo monumento, em Belém, no dia de Portugal. Este ano promoveu, também, uma conferência sob o tema “A Presença de Portugal em África”, ao longo dos séculos, que teve lugar na véspera, na Fundação Gulbenkian.

A conferência foi presidida por Adriano Moreira. Sobre a subversão e a guerrilha com que nos defrontámos em África, entre 1961 e 1974-1975, lá se ouviram as mesmas frases recorrentes. Estas ideias, além de constituírem mitos, funcionam como uma espécie de autojustificação psicológica e tranquilizadora de consciências, para quem contribuiu, não se opôs ou se acomodou à vergonhosa retirada de “pé descalço”, com que terminou a nossa centenária permanência naquele continente (e em Timor). Vamos analisar quatro frases feitas.

“Uma guerra subversiva não pode ser ganha”.
Mentira, os ingleses ganharam na Malásia e no Quénia; as guerrilhas lançadas por Castro e Guevara, nas Américas Central e Sul, foram quase todas derrotadas; até os EUA teriam ganho a guerra do Vietname se tivessem tido a coragem e o discernimento de impor a censura nos media. Nós já tínhamos subjugado a guerrilha em Angola e estávamos muito longe de a perder na Guiné e Moçambique.

Não entendemos ou reagimos aos “ventos da História”.
Os ditos ventos são sempre soprados por quem tem poder em cada época e fartaram-se de soprar contra nós, durante séculos. O ataque, em 1961, foi apenas mais um. Temos, de facto, que estar sempre atentos a tais ventos e responder em função dos nossos interesses, não dos outros. E isso quer dizer agir e lutar dentro das nossas possibilidades e em todos os tabuleiros. Para isso necessitamos de ter Poder. A alternativa a isto é sermos escravos e bananas.

“Os militares garantiram ao poder político o tempo necessário para estes encontrarem uma solução para o conflito”.
Este argumento afigura-se-me tosco e tem uma lógica invertida. Juro que não entendo como isto se faz. Os chefes militares (quando? todos ou alguns?) vão ter com o Governo e dão-lhe um prazo? E como se calcula o tempo considerado suficiente? Dois anos? Cinco anos? Treze anos de guerra em África é muito mas os 80 anos que durou a guerra com os holandeses são aceitáveis? A Guerra da Restauração durou 28 anos: o que teria acontecido se nos tivéssemos cansado ao fim de treze? Isto tem alguma lógica ou aceitabilidade? Quando vão tropas, hoje, para o Afeganistão, ou outro lugar qualquer, o CEMGFA tem uma conversa prévia com o MDN e dá-lhe um prazo?
A um oficial ou sargento do quadro permanente não ficará muito mal estar a “queixar-se” do tempo que dura um conflito? Ele escolheu a profissão e pode ter que combater desde que se forma até que se reforma!

Finalmente, a cereja em cima do bolo: “a solução para a guerra era política e não militar”.
Confesso que entendo este argumento como o mais mirabolante de todos. Sendo a guerra, na máxima clausewitiana, a continuação da política por outros meios, pretenderiam os autores da frase a continuação da guerra através da política? O mais curioso de tudo é que a maioria dos autores deste portento, di-lo com o ar mais sério do mundo e, a seguir, cala-se, como que aliviado depois de ter proferido uma sentença absoluta! Mas, no fundo, o que querem dizer? Que propostas apresentam?
Pois é, afirmar que a solução é política e não militar que dizer tudo e não quer dizer nada… Por definição entrar-se numa guerra ou colocar-lhe um fim, é essencialmente uma decisão política – e, neste particular, anunciar que a decisão da guerra é política e não militar, transforma-se num pleonasmo…
A decisão política sobre um conflito deve ser feita tendo em conta os nossos interesses, não os do inimigo. E sendo comum aceitar-se ser a guerra uma coisa má, existe uma pior, que é justamente perdê-la.
Disse ainda o Prof. A. Moreira (e tem-no repetido amiúde), que os portugueses, desde Afonso Henriques, funcionaram sempre “em cadeia de comando” e isso explica que o povo fosse sempre cumprindo os desígnios nacionais. Eu julgo entender o que o ilustre professor quer dizer (embora nunca o explicite), mas penso que não é a verdade toda. A verdade toda é que essa cadeia de comando foi interrompida, em 1820, para só voltar a ser reposta em 1926 (melhor dizendo, em 1932), tendo-se perdido, novamente, em 1974.
E agora, volta-se à cadeia de comando ou…. a quê?

domingo, 12 de junho de 2011

Cavaco, o Repovoador

Heduíno Gomes
Depois de ter encerrado tudo quanto era maternidade no interior do País, de ter estoirado com a agricultura a troco alcatrão e jeeps e de ter dificultado a vida às pessoas com umas direcções regionais longínquas e sem acessos (distribuídas a uns boys), Cavaco, com a lata do costume, vem falar de repovoar o interior.
(Discurso do dia 10 de Junho de 2011)

«Apuramento das responsabilidades»
-- diz Barreto

Heduíno Gomes
«Apuramento das responsabilidades» [ de quem conduziu Portugal à calamitosa situação e de quem promoveu a corrupção e incompetência da classe política ], diz Barreto, o convidado de Cavaco para botar faladura.
Sabendo nós das culpas que tem no cartório quem o convida para palrar, das duas, três.

Ou o Cavaco está a fazer uma autocrítica por interposta pessoa – o que não está de acordo com o facto de nunca se enganar;
ou o orador está a trair quem o convidou – o que parece pouco curial, ainda por cima da parte de quem não apresenta grande coragem para enfrentar o mal, quanto mais para ser ingrato com o protector;

ou são dois grandessíssimos hipócritas combinados nos discursos – o que destoa destas duas pessoas tão santinhas.

Mistério.


O dia de Santo António Barreto

Heduíno Gomes
Começa a ser fatídico, enjoativo e sonolento ouvir em cada 10 de Junho a conversa do santinho António Barreto: conversa moralista e aparentemente crítica sobre a política e os políticos vinda de alguém que dá provas de ser tão mau como os que critica.

Merecerá alguma confiança um sujeito que edita livros na linha da decadente III República, nomeadamente a promover as tais «liberdades» dos invertidos?

Merecerá alguma confiança um sujeito que pensa nos moldes dos mitos ideológicos e antivalores morais que imperam, como ficou patente na série televisiva que produziu, na qual mentiu descaradamente sobre a vida social e política antes de 1974 e promoveu a decadência moral? (Ele deixou o PCP em 1968 apenas porque a União Soviética invadiu a Tchecoslováquia mas a mentalidade continuou a mesma do Rumo à Vitória de Cunhal, que ainda perdura na sua actual visão sobre Portugal de antes de 1974.)

Merecerá alguma confiança um sujeito que sistematicamente se opõe à clarificação política e moral (a que chama «crispação»), comportando-se como um oportunista politicamente correcto e um vulgar relativista?

Porque o tipo faz uma conversa de santinho para agradar,  politicamente correcta, agora até já há para aí uns patós que começam a falar dele como candidato às próximas eleições presidenciais. Para que tudo fique na mesma.

Depois de Eanes, Sampaios e Cavacos, tudo é possível e louvado nesta III República.



A cereja no bolo-rei

Heduíno Gomes
Já nos vamos habituando às anedotas de Cavaco. Depois de um discurso a assobiar para o lado sobre a crise de que é co-responsável, sua excelência foi comer cerejas, isto é, pôr a cereja no bolo-rei: mais umas tentativas de fazer humor... seco.
O que vale é que o Presidente de 23% dos Portugueses já só engana no máximo… 23% dos Portugueses!