Heduíno Gomes
No dia 2 de Junho, teve lugar na SEDES um colóquio sobre o ensino. O moderador foi Fernando Adão da Fonseca (Presidente do Fórum para a Liberdade de Educação), tendo participado Marçal Grilo e Mário Pinto.
Conceitos fundamentais
Marçal Grilo |
Perguntando que educação e qual a mais adequada, responde Marçal Grilo que «Há ideologia a mais e pragmatismo a menos» no ensino. Este suposto teórico de educação, autor de «tratados» sobre a coisa, dá assim nota da superficialidade tecnocratista com que aborda o tema: ignora que existe uma disciplina que se chama filosofia da educação, donde derivam vários pontos de vista… vários conceitos… várias ideologias pedagógicas…
Mário Pinto |
Para Marçal Grilo e Mário Pinto não se trata de distinguir conceitos diferentes na abordagem da educação mas… de ser «pragmático»... Isto é, como se na base da praxis não estivessem os conceitos. Para «teórico» de educação e ex-ministro da pasta da educação não está mal, não senhor. O mesmo temos a dizer sobre Mário Pinto, que celebra assim o casamento entre o pragmatismo e o cristianismo!
Sistema nacional de ensino
Marçal Grilo opõe-se à existência de um sistema nacional de ensino, no que foi acompanhado por Mário Pinto e Adão da Fonseca, o Presidente do Fórum para a Liberdade de Educação, cuja guerra é precisamente a mesma.
Mário Pinto acha que a responsabilidade da educação não é também da competência do Estado mas apenas «dos pais e da sociedade». Dos pais entendemos. Mas o que quererá dizer «da sociedade»? O que será para ele «a sociedade»? Quem a representa? Algum grupo ou seita a que pertença? Mário Pinto escuda-se atrás de uma retórica liberal e pseudo-cristã de ataque ao «monopolismo do Estado» e de defesa da «liberdade de escolha da família» para pôr em causa precisamente a organização das famílias no seio da Nação tendo em vista alcançarem em conjunto um bom sistema de ensino para todos.
A anarquia proposta por Mário Pinto vai ao ponto de ouvirmos frases impensáveis como estas: «O aluno faz propostas e a escola escolhe.» ou «A escola está sensível à escolha do aluno.». Acha também que as escolas, presume-se que primárias e secundárias, devem possuir «currículos alternativos como as universidades». É este o seu «modelo de liberdade».
Na perspectiva de todos estes senhores, Portugal não necessitaria de um sistema nacional de ensino, não o reconhecem como peça fundamental a médio e longo prazo de um plano estratégico nacional. Para estes senhores, o que é bom não é um bom plano mas a «diversidade», isto é, a espontaneidade. «Não precisamos de um estado central educador e tutelar» mas de «projectos próprios».
De salientar que a grande batalha de Adão da Fonseca e do seu Fórum para a Liberdade de Educação, para além de comungar das aberrações das «novas pedagogias», é precisamente a tal autonomia das escolas, ao ponto de cada uma dever ter os seus próprios programas. Traduzindo isto por miúdos, o que estes «generosos» e «patriotas» pretendem é deixar o ensino nacional afundar-se no caos e criar colégios privados com ensino de qualidade para os seus rebentos, isto é, a mediocridade de ensino para o povão e o bom ensino para os ricos.
E Marçal Grilo, co-responsável da mediocridade actual, vem lamentar a falta de exigência no (seu) ensino endossando a responsabilidade aos pais! (Terei ouvido bem ou o homem descarrilou?)
Ensino secundário técnico
Marçal Grilo, numa atitude verdadeiramente delirante de traumatizado com algum episódio ocorrido durante o Estado Novo ou a autojustificar-se por ter sido, com Veiga Simão, um dos coveiros do ensino técnico, ataca-o. Ora, coisa que qualquer pessoa de bom senso faz é lamentar a destruição deste ramo de ensino. Mas Marçal Grilo, hábil na demagogia, faz dele uma caricatura destrutiva e fora do tempo e fica todo ufano.
História do ensino em Portugal
Mais uma vez Marçal Grilo prefere a falsificação à verdade, agora no que toca ao esforço do Estado Novo para fazer sair Portugal do atraso com que o herdou. Fazendo tais caricaturas, Marçal Grilo revela ou uma total ignorância da história do ensino em Portugal (então cale-se!), ou uma grande desonestidade, ou ambas.
Perante a notável obra do Estado Novo em matéria de extensão do ensino, traduzida em números concludentes no aumento de escolaridade e na construção de infra-estruturas, e ainda na alta qualidade dos seus programas e manuais, vir tratá-lo de obscurantista, como ele veio, não é de gente conhecedora ou séria.
Também desdenhar da utilização de regentes escolares e imputar a criação «dessa figura» ao Estado Novo é dupla ignorância ou desonestidade: primeiro, «essa figura», no seu entender obscurantista e medíocre, não foi criada por capricho de ninguém mas como solução de emergência para lutar contra o analfabetismo, tendo as regentes escolares cumprido a sua missão enquanto eram produzidos professores primários em quantidade suficiente; segundo, esse real mérito não pertence de facto ao Estado Novo, que apenas continuou a sua utilização, mas à I República. Dupla asneira.
Três conclusões
De todas estes doutorados disparates, ressaltam três conclusões.
Primeira, tais candidatos a especialistas em educação revelam grave défice em várias matérias essenciais à pedagogia. Como podem entender a pedagogia se não entendem a natureza humana nem a sociedade, por exemplo pretendendo colocar os próprios educandos a escolher os programas, ou seja, em auto-educadores?
Segunda, do ponto de vista nacional, tais políticos revelam uma completa irresponsabilidade. Na competição internacional, que será duma nação que não organize para a excelência o seu sistema de ensino de maneira a levar mais longe as suas crianças e jovens?
Terceira, do ponto de vista humanista, tais pessoas revelam pouca sensibilidade. Onde pararão os sentimentos cristãos daqueles que se estão nas tintas para o bem comum e apenas procuram o negócio no complexo pedagogico-industrial ou o ensino de qualidade (pensam eles...) para os seus?