sexta-feira, 26 de setembro de 2014


Isso é tão iluminismo


Robert Royal

Um dos recursos de estilo mais irritantes no discurso público actual é quando se critica uma coisa como sendo «medieval». O crítico não está a referir-se à janela de rosa da catedral de Chartres, nem os tratados místicos de Bernardo de Clairvaux sobre o amor divino, nem o código de conduta elaborado da tradição cavalheiresca. Essas tradições, por alguma razão, não contam como «medievais». Só a brutalidade, que é comum a todas as eras, infelizmente, define o que é medieval, bem como um certo obscurantismo religioso, cujos registo históricos são difíceis de encontrar, mesmo quando comparado com a confusão dos nossos tempos.

As calúnias sobre a superstição e a violência da Idade Média começaram durante o Renascimento – apesar de a suposta «redescoberta da razão» ter sido na verdade um declínio em relação à racionalidade medieval. Basta dar uma vista de olhos sobre a política no Renascimento para se perceber que não se trata propriamente de um grande avanço.

Mas as calúnias foram reforçadas pela Reforma e pela Revolução Científica. São Edmund Campion foi enforcado e esquartejado por causa das suas crenças religiosas em Inglaterra em 1581, mas curiosamente não criticamos esse tipo de comportamento como sendo «tão reformista» ou «tão pré-modernismo».

Mas a maior impostura na nossa história imaginada do Ocidente tem a ver com o Iluminismo. O verdadeiro Iluminismo apresentou-se sob várias formas. Algumas foram úteis – algo de que nos devemos lembrar quando precisarmos de antibiótico – e poderiam ter sido ainda mais se tivessem beneficiado de alguma continuidade com conhecimentos mais antigos. Muitas figuras do Iluminismo, mesmo que se tenham tornado deístas, continuavam a acreditar num Ser Supremo, na imortalidade da alma, no juízo final e na vida eterna no Céu ou no Inferno (ver o Vigário de Saboia de Rousseau). Sem esses mínimos, pensavam, a moralidade humana não teria rumo.

Mas o Iluminismo radical – a parte que Edmund Burke discerniu na Revolução Francesa e que descreveu como operando «com a metafísica de um caloiro e a matemática e aritmética de um cobrador de impostos», continua connosco e fornece grande parte da banda sonora das nossas vidas. Vêmo-lo nas figuras públicas que parecem acreditar na existencia de curas conhecidas para todos os males sociais, que apenas não se aplicam por causa da má-vontade dos privilegiados ou a ignorância dos pobres, sendo que tanto uns como outros podem ser ignorados e, até, eliminados da conversa.

Burke acrescentava que: «É notável, que num grande arranjamento de humanidade, não se encontra qualquer referência a qualquer coisa moral ou qualquer coisa política; nada que se relacione às preocupações, acções, paixões, ou interesses dos homens. Hominem non sapient [Eles não conhecem o homem].»

Desde então as coisas não melhoraram muito. Olhando à volta continuamos a ver que as grandes influências do Iluminismo para nós continuam a ser coisas como a ideia de que os «verdadeiros» interesses das pessoas são económicos e que tudo o resto é ilusão, loucura ou pior. É evidente que houve guerras travadas por razões económicas, mas são surpreendentemente poucas ao longo dos últimos séculos. Basta pensar na Primeira e Segunda Guerra Mundial, Coreia, Vietname, Afeganistão e Iraque.

Neste momento decorre uma guerra na Ucrânia que o nosso presidente pensa derivar de uma mentalidade «do século XIX» que, como sabem os sofisticados da comunidade internacional, nem compreende os seus próprios interesses. Ou seja, nós compreendemos Vladimir Putin melhor do que ele próprio. As elites bem-pensantes sabem que devíamos limitar-nos ao desenvolvimento económico e cooperação internacional  e, claro, sabemos que forma deve assumir essa cooperação, porque todos os objectivos humanos legítimos são já conhecidos: uma presunção tão iluminista.

Edmund Campion, vítima do Iluminismo

Temos guerras entre o povo antigo de Israel e os habitantes muçulmanos de Gaza e da Cisjordânia, bem como entre as diferentes facções religiosas da Síria, Iraque, Líbia, Egipto, Sudão, Nigéria, etc. É tão deprimente – e tão iluminista – pensar que os seres humanos se mantêm agarrados dessa forma à religião e à história. A não ser que, em vez de olharmos para o mundo pelo prisma dos nossos critérios olharmos, como diz Burke, para as «preocupações, acções, paixões e interesses dos homens» – os seres humanos verdadeiros e não aqueles que gostaríamos que existissem.

Quando pensamos desta forma começa a fazer sentido que as pessoas se agarrem à religião, família e pátria – e que estejam dispostos a defendê-las, pela força, se for caso disso, mesmo que isso não beneficie os seus «interesses económicos» – porque  a maioria das pessoas não se entusiasmam nem se inspiram em abstracções. Os homens simplesmente não são assim. É muito iluminista pensar que sim.

Ou melhor, essa é uma das contradições do Iluminismo. Porque se levássemos a sério os esforços para se reduzir o homem a um mero animal, essas ligações de matilha fariam todo o sentido. Foi Vladimir Soloviev que ironizou, certa vez, que a visão moderna é de que «todos descendemos de macacos, por isso amemo-nos uns aos outros».

Claro que se levássemos a sério a redução iluminista dos seres humanos a um mero animal complexo, ou mais ainda a uma série de interacções químicas complexas, não acreditaríamos em nenhuma daquelas coisas que verdadeiramente nos tornam humanos. E porque razão pensaríamos que algo que não passa de uma série de reacções químicas complexas tem direitos, liberdades ou objectivos para além do bem-estar físico? Os tecnocratas estão a investir em força nesse raciocínio.

Levou o seu tempo para que esta atitude iluminista entrasse no discurso público. Há correntes na nossa cultura – pós-modernas, neo-ortodoxas, filosóficas – que já compreenderam as limitações e os perigos deste desenvolvimento. Remam contra a maré, mas acabam muitas vezes por dar mais força ao cepticismo em vez de restaurar sentido de verdade mais rico do que um orgulhoso racionalismo anterior permitia.

Aquele pensamento antigo e medieval que suportava a ideia de que o ser humano é algo especial – enraizado num mundo que tinha um lugar especial para essa especialidade – pode ter sido banido da praça pública. Alguns até podem pensar que se trata de uma libertação. Mas essa é uma visão tão iluminista e à medida que as consequências se fizerem notar, poderá não tardar o dia em que sentimos saudades de um tempo menos iluminado.


(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing , 4 de Agosto de 2014. Tradução de Filipe d'Avillez)





quinta-feira, 25 de setembro de 2014


Onde já vai no Brasil o «Aborto Hortográfico»

Jabuticaba no Senado



Ana Maria Machado

Não faz muito tempo, você comprou uma torradeira e, em casa, não conseguiu ligá-la. A legislação agora exige três pitocos nos plugues dos novos aparelhos, que não servem mais nos dois buracos da tomada de sempre. Foi preciso comprar um adaptador. Uma chatice, mas mais seguro. Progresso tecnológico. É para o bem de todos, o governo sabe o que faz. Mesmo quando o novo padrão é tão original quanto jabuticaba, que só tem no Brasil. Não serve para qualquer aparelho importado que por acaso você tivesse. E tome adaptador. Você acabou chamando um eletricista e trocando todas as tomadas da parede. Ufa!

Pois aí vem nova surpresa. Você nem imagina o que o Senado anda debatendo a sério, considerando a hipótese de mudar geral. Sem ao menos reparar no ridículo da esquisitice. Se for aprovado, vira lei. Só que, desta vez, não vai haver eletricista que dê jeito. Discute-se uma reforma ortográfica brasileira. Brasileiríssima, que nem jabuticaba. Ainda que sem as delícias da fruta.

«Mas não fizeram uma reforma ainda outro dia? Para que outra?», talvez você pergunte. Vamos esclarecer. O que se fez há pouco tempo (aliás, num processo que ainda não se encerrou) foi um acordo ortográfico entre países de língua portuguesa. Não uma reforma. O objetivo foi que se escreva da mesma maneira o português falado em qualquer parte do mundo. Assim, passa-se a ter um padrão unificado em documentos internacionais que se queira redigir no idioma. E os leitores de todos os países lusófonos passam a se acostumar com a grafia única, que nos permitirá ler livros uns dos outros com menos estranheza (já bastam as do próprio vocabulário, por vezes tão diferente).

Precedido por outros acordos e protocolos em busca desse entendimento, o processo foi amplamente discutido durante 18 anos, em negociações entre filólogos e instituições responsáveis. Venceu impasses e divergências de todo tipo. Foi aprovado pelo legislativo dos países interessados. Foi assinado e promulgado pelos presidentes do Brasil e de Portugal em 2008. Entrou em vigor em janeiro de 2009, com prazo de adaptação estendido no Brasil até dezembro de 2012. Em Portugal, até 2016.

Sabe-se lá por que (ou por quem), na semana antes de terminar nosso prazo oficial, entre o Natal e o Ano Novo de 2012, a presidente Dilma resolveu prorrogá-lo. Não chegou a fazer nenhuma diferença prática. No Brasil, como já estávamos fazendo, continuamos todos usando a ortografia que segue o acordo — é como se escreve neste jornal e nos livros publicados no país e como se ensina nas escolas. Todo mundo entende. A experiência poderá, eventualmente, revelar a necessidade de pequenos ajustes. Mas não é disso que se trata agora.

A jabuticaba que está na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado é outra. É uma proposta de reforma ortográfica, para que se passe a escrever como se fala, «para simplificar e aperfeiçoar a ortografia», de modo a facilitar a alfabetização. Sem letras que não se pronunciam e sem duplicidade de grafia para o mesmo som. A justificativa populista é ajudar as crianças, ensinando-as a escrever, por exemplo, «O omen xora porqe qer caza para abitar» (sic).

Nem vale discutir os detalhes dessa ideia estapafúrdia. Questiona-se é a premissa, em nome de uma pretensa inclusão social.

Nada disso é necessário. O linguista Marcos Bagno lembra que as línguas mais faladas e escritas internacionalmente (como o inglês e o francês) têm ortografias complicadas e nem por isso deixaram de se difundir. Não precisaram de jabuticabas simplificadoras. Será que as crianças deles são mais capazes que as nossas?

O filólogo e acadêmico Evanildo Bechara insta a CE do Senado a não levar adiante a proposta de «simplificação», um equívoco talvez baseado em «amnésia ou ignorância». A professora Marília Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Linguística, encaminhou aos senadores documento em que sublinha que o que dificulta o processo de alfabetização de crianças oriundas de segmentos sociais de pouca familiaridade e contato com a língua escrita não é a ortografia. É a falta de uma experiência letradora significativa anterior e paralela ao processo escolar.

Há casos em que essa vivência falta também a muitos professores, lembro eu. Sinal de melhora: gente vinda de um ambiente iletrado está chegando à alfabetização nas últimas décadas. Algo a se celebrar. Mas também sinal de alerta: a formação de nossos professores precisa ser de melhor nível, capaz de incorporar alternativas pedagógicas mais eficientes, de corrigir eventual falta de intimidade com a cultura escrita e de compensar desigualdades de origem. Precisa capacitá-los a alfabetizar.

Tomara que o Senado consiga perceber isso. Mais clareza nas prioridades, gente. O remédio é qualidade na educação. Não é jabuticaba.


Ana Maria Machado é escritora.
Originalmente publicado no Globo em 20 de Setembro de 2014.





terça-feira, 23 de setembro de 2014


A aliança entre a máfia verde e a indústria automóvel

Defesa do ambiente ou corrupção

Berlim-Paris-Bruxelas-Lisboa?


Heduíno Gomes

Quem não gostará de ar puro? Toda a gente gosta.

E nós com uma certa dificuldade em escoar os automóveis que produzimos! (ver http://noticiatuga.blogspot.pt/2014/06/milhares-de-carros-novos-nao-vendidos.html).

Então nós, indústria automóvel e nossos lacaios na política, incluindo os «ecologistas», vamos estabelecer uma série de proibições de utilização de automóveis mais antigos e assim obrigar o pagode a comprar-nos carros novos.

Que se lixe a capacidade económica do pagode e de cada país...

Tudo isto pela mão dos políticos corruptos que ocupam os gabinetes de Bruxelas, de São Bento e dos municípios.

Entretanto, esta fauna anda montada à borla em carros novos pagos pelo contribuinte.



(Notícia do Correio da Manhã)


Lisboa fica sem carros «velhos»

Autarquia instala leitura de matrículas para identificar infractores.

Por João Saramago

A partir de 3 de Novembro está prevista, em Lisboa, a interdição de circulação a veículos com matrículas anteriores a 2000 na zona da Baixa, Avenida da Liberdade e Cais do Sodré – área onde hoje não podem circular veículos com matrícula anterior a 1996.

Para a concretização do plano, a Câmara de Lisboa deverá instalar um sistema de leitura automática de matrículas. O mecanismo conta já com a autorização da Comissão Nacional de Protecção de Dados, explicou ao CM Hugo Tente, professor da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. De acordo com o investigador, a medida irá afastar da Baixa Pombalina cerca de 95 mil veículos por dia.

Os veículos infractores estarão sujeitos a uma multa de 24 euros, referente ao incumprimento do sinal de zona. Nos dias úteis, das 07h00 às 21h00, poderão circular nesta área os residentes, veículos de colecção e transportes públicos, incluindo táxis. O mesmo grupo de veículos pode também entrar na circular denominada ZER 2, onde hoje está proibida a entrada de veículos com matrícula anterior a 1992.

Caso a proposta venha a ser aprovada em reunião de câmara, a partir de Novembro nesta zona ficam interditos os carros posteriores a 1996.






A sargeta literária de Marcelo


Luís Lemos

Todos nós conhecemos a banha-da-cobra de Marcelo. Mas ainda há a promoção que faz de certos livros que são autênticos ataques à Civilização cristã. No último domingo apresentou a sua «escolha», melhor, a sua sargeta literária, à cabeça da qual estavam livros de Júlio Machado Vaz (sexólogo decadente), Alice Vieira (endoutrinadora comuna de crianças) e Daniel Sampaio (pedagogo decadente).

Isto é o real Marcelo.






domingo, 21 de setembro de 2014


Lançado nos EUA livro escrito por cinco cardeais

sobre a doutrina da Igreja sobre o matrimónio.



Cinco membros do Colégio de Cardeais uniram-se para escrever um livro em defesa da doutrina da Igreja sobre os católicos divorciados numa nova união e afirmaram que se trata do enfoque mais misericordioso que se pode esperar.

O livro «Remaining in the Truth of Cristo: Marriage and Communion in the Catholic Church» (Permanecendo na verdade de Cristo: Matrimónio e comunhão na Igreja Católica) oferece uma resposta à proposta do cardeal Walter Kasper para que os católicos divorciados numa nova união possam receber a Eucaristia.

Os cinco cardeais autores do livro são Gerhard Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé; Raymond Leo Burke, Prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica; Walter Brandmüller, presidente emérito do Comitê Pontifício de Ciências Históricas; Carlo Caffarra, Arcebispo de Bolonha e um dos teólogos mais próximos a São João Paulo II em questões de moralidade e família; e Velasio Di Paolis, Presidente emérito da Prefeitura para os Assuntos Económicos da Santa Sé.

Além dos cardeais, quatro professores e teólogos também fizeram contribuições ao livro: Robert Dodaro (OSA), o editor John Rist, o jesuíta Paul Mankowski e o Arcebispo Cyril Vasil.

Segundo a editora Ignatius Press, o livro aborda argumentos bíblicos sustentados pela actual doutrina da Igreja assim como os ensinamentos e práticas da Igreja primitiva.

No seu site, Ignatius Press explica que o livro «percorre a história de séculos de resistência católica» à recepção da comunhão por parte de católicos divorciados numa nova união. Do mesmo modo, revela «sérias dificuldades teológicas e canónicas inerentes nas práticas do passado e presente da Igreja Ortodoxa».

«Em nenhum destes casos, bíblicos ou patrísticos, estes estudiosos encontram argumentos a favor do tipo de 'tolerância' que o Cardeal Kasper propõe com respeito aos matrimónios civis em que se divorciam», refere a editora.

Em Fevereiro, o cardeal Kasper, presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, referiu-se ao matrimónio e à vida familiar, dedicando a última parte de seu discurso ao «problema dos divorciados recasados» e propôs que os divorciados recasados possam receber a Comunhão.

Ignatius Press sustenta que os diversos estudos analisados no livro «levam à conclusão de que a fidelidade de muitos anos da Igreja à verdade do matrimónio constitui o fundamento irrevogável da sua resposta misericordiosa e amorosa à pessoa que está civilmente divorciada e recasada».

«Portanto, o livro desafia a premissa de que a doutrina tradicional católica e a prática pastoral contemporânea se contradizem».