Uma petição traiçoeira que não assinaremos
Por um grupo de pessoas, quase todas do meio católico, e predominantemente de certos movimentos católicos com intervenção na sociedade, e sendo o primeiro signatário António Bagão Félix, foi hoje, dia 16 de Março, posta a correr uma petição.
Não assinaremos esta petição. Explicamos porquê.
1 – O objecto da petição seria a defesa da vida e da família natural e, efectivamente, no decurso do texto, lá a encontramos – matéria que subscrevemos de cruz.
2 – Mas, à boleia da defesa da vida e da família natural, os autores do texto decidiram lá enfiar uma série de teses políticas, que são as suas, mas absolutamente inaceitáveis por muitos defensores da vida e da família natural.
3 – A primeira é, logo no ponto 1, reduzir a acção «destruidora dos pilares estruturantes da Sociedade» e a «profunda crise económica e social» à «teia legislativa» dos «últimos seis anos» do «Governo anterior» (ponto 7) (http://peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2012N22192 ). E nos anteriores seis? E nos anteriores seis? E nos anteriores seis? … assim continuando até englobar os dez anos de governos cavaquistas, com Cavaco ou com os Cavaquinhos que lhe sucederam? Pois é… Estarão os redactores do texto satisfeitos com a continuada destruição da moral, da família e da Civilização na era de governos cavaquistas através de legislação e dos meios de comunicação do Estado e concessionados (dispensamos a enumeração dos inúmeros casos para não nos alongarmos)? E da agricultura e das pescas? E de tudo o que, finalmente, é agora aceite como pacífico desde que o mito Cavaco caiu do pedestal?
4 – Prossegue o texto no ponto 2 com o enunciado de algumas posições de cultura cristã, que são correctas, para depois terminar com uma magistral mas improvável síntese: «por outras palavras, é necessária uma verdadeira cultura da Liberdade». Brilhante conclusão lógica! (Ver texto original para apreciar essa surpreendente capacidade conclusiva.)
É claro que esta da «verdadeira cultura da Liberdade», metida a martelo como conclusão daquilo que não é – fazendo da lógica uma batata –, não é inocente.
Basta prosseguir a leitura até ao ponto 5, alíneas e) e f) para decifrar esse amor e importância atribuídos à liberdade para solução dos males de Portugal, onde se pede «uma verdadeira política de liberdade de educação».
E prosseguindo ainda mais, encontramos os nomes de Fernando Adão da Fonseca e Mário Pinto entre os signatários, e outros, para quem a «verdadeira política de liberdade de educação» significa ausência de um sistema nacional de ensino, ausência de programas nacionais, ausência de qualquer palavra do Estado sobre o ensino, ausência de um plano estratégico nacional. Por outras palavras, deixem-nos lá fazer uns colégios de qualidade para os nossos meninos e os filhos do povão e Portugal que se lixem! (Ainda por cima estes pedagogos são adeptos das chamadas «novas pedagogias», pelo que essa qualidade que egoisticamente planeiam para os seus meninos sai-lhes pela culatra. Os pormenores destas políticas desastrosas de ensino podem ser verificados no seu Fórum para a Liberdade de Educação, ao qual estão também ligados dois dos coveiros do ensino em Portugal, Roberto Carneiro e Marçal Grilo. Vários artigos sobre este tema encontram-se publicados em http://www.maislusitania.blogspot.pt/ ) 5 – O texto pretende ainda lavar a imagem de Cavaco Silva na Presidência da República, colocando-o repetidamente como referência moral, do lado do bem e desculpando-o dos seus permanentes malabarismos e persistente hipocrisia, aliás esforço absolutamente inglório nos dias que correm.
Logo por coincidência, o primeiro signatário da petição é Conselheiro de Estado nomeado por Cavaco…
Logo por coincidência, isto decorre no dia em que as sondagens dão a Cavaco a mais baixa popularidade, pelo que esta colagem apenas desprestigia a causa da vida e da família natural. Efectivamente, lavar ou louvar o Barrabás enquanto Primeiro-Ministro e Pilatos enquanto Presidente da III República é o que é feito no texto da petição. Esses católicos entre os redactores esquecem-se de que não podem «servir a dois senhores».
6 – Pior ainda, o texto cita com ênfase uma passagem da «referência moral» Cavaco em que este utiliza o conceito ideológico de «identidade de género»! Mas que «referência moral»! Anda a Santa Sé a explicar ao seu rebanho que essa ideologia «do género» é contrária à família e à moral cristã para depois não ser entendida por alguns que pretendem em Portugal apresentar-se como os puros e oficiosos representantes da Igreja…
7 – Porque não se limitaram os redactores da petição a redigir um texto exclusivamente sobre a defesa da vida e da família natural, neutro sobre o acessório e assim pacificamente aceite por todos os defensores destas causas? Porque enfiaram no texto, a martelo, os seus pontos de vista, aliás oportunistas, sectários e contrários a uma política séria e coerente de defesa da vida e da família natural? Porque pretendem camuflar no meio de bons princípios o apoio ao indecente cavaquismo?
Se os redactores do texto pretendessem de facto unir os Portugueses em torno dos valores da vida e da família natural, sem outras intenções, se não fossem sectários, teriam elaborado um texto tratando exclusivamente as questões em causa e não tentariam impingir os seus pontos de vista laterais. Da maneira que redigiram o texto, ou procederam conscientemente, como sectários e manipuladores de inocentes signatários – mostrando-se com este procedimento estarem bem integrados nesta III República, a república das habilidades e da destruição dos valores morais –, ou procederam inconscientemente – e então não estão à altura de encabeçar a mudança de que Portugal precisa.
8 – Eis porque não assinamos.
Lisboa, 16 de Março de 2012
Heduíno Gomes
José Luís Vaz e Gala
Afonso de Aguiar Perdigão
António Mósca Falé
João Xavier Louro