«Obrigar o Governo às cedências que rebaixam e às violências que revoltem».
Brito Camacho
João J. Brandão Ferreira
Tires, 09:30. Voo de instrução com saída para esta hora. Metereologia excelente, «cavok» (sem restrições de tecto e visibilidade).
Decorria uma greve, intermitente, dos controladores aéreos entre as 07:00-09:00 que continuava das 14:00-16:00 e das 21:00-23:00.
Plano de voo submetido (a horas) para o Espichel; durante o «briefing» fui avisado de que havia demora nas saídas, por causa do controle de Lisboa. Industriei o aluno para tentar coordenar o voo para se ir primeiro a Sintra. Além de proporcionar treino adicional permitia «contornar» a demora com a aproximação de Lisboa, dado que após a descolagem de Tires poderia passar directamente ao controle militar da Base Aérea 1.
Conseguida a autorização para pôr em marcha (eram 0940) e obtida a «clearence» para Sintra com a indicação de que apenas seriamos aceites até às 10:30.
Eram 09:50, dava tempo para uma aproximação por instrumentos, óptimo, continuou-se o «cheklist». 10:00, estávamos prontos para rolar, eis senão quando o controlador informou que Sintra deixou de autorizar a nossa ida, por ter tráfego (!). Estranha coisa esta mas, enfim, nada a que não estejamos habituados.
Deixámos, porém de estar autorizados a prosseguir, já que passámos a número dois para sair e passar ao controle de Lisboa, e não havia estima para quando tal evento se pudesse concretizar. Há mais de meia hora estávamos em número três. Um avião de 30 em 30 minutos, rica média…
Para mais, dado que tínhamos pedido para ir a Sintra e agora queríamos voltar ao plano de voo inicial, teríamos que submeter novo plano de voo. Lá se cortou o motor e se foi cumprir o requisito.
Fizeram-se mais umas poucas tentativas para retomar a marcha, a última das quais às 10:45, sem sucesso e sem previsão de melhores dias. Plano de voo cancelado, avião retornado à sua condição de «exposição estática», papelada feita, tudo arrumado, bom dia e muito obrigado.
Saldo da coisa: uns pecados por pensamentos, palavras e (vontade de) obras, por confessar; meia manhã perdida, para mim e para o aluno; gastos em deslocamentos e nenhum provento; prejuízo para a escola (que tinha reorganizado os seus horários, em função da greve); e este escrito.
O direito à greve (que passou a ser uma espécie de vaca sagrada) e sua regulamentação está consignado na Constituição da República (CR) e não é agora a altura de sobre tal arguir. E é deixado livre à opinião pública julgar da razoabilidade de greves efectuadas por grupos profissionais dos mais bem pagos e com melhores condições de trabalho, existentes na sociedade.
Afinal entre os «trabalhadores» há uns mais iguais do que outros, podendo-se vislumbrar autênticos «baronatos» que não hesitam em sobrepor os seus interesses aos direitos dos outros. Sem sequer ter em conta que os eventuais «culpados» das situações criadas andam de carro com condutor ou deslocam-se em jacto privado. O Zé é que se trama…
Creio que vem nos livros, que uma greve deve ser feita para resolver («in extremis») um problema laboral – e também seria curioso saber qual a posição da Camara de Cascais que é o «dono» do respectivo aeródromo – não se percebendo muito bem onde está o busílis da questão actual.
Fora do âmbito laboral resvala-se para a Política e aí as coisas ficam todas baralhadas (não se devia permitir, por ex., que os sindicatos fossem correias de transmissão de partidos políticos). A situação complica-se ainda mais quando se passa a invocar o «interesse nacional». Ora o interesse nacional é definido pelos órgãos de soberania, para tal mandatados. Os sindicatos não são órgãos de soberania.
Fazerem-se greves em altura de catástrofe financeira nacional e de perda acentuada de soberania, só tem paralelo na falta de responsabilização criminal de responsáveis que em tal, eventualmente, incorreram; na falta de exemplo dos representantes do Estado e na falta de vergonha de quase todos.
Acresce que o Governo, ao não tratar com equidade os cidadãos, abre o flanco a tudo, e ao não negociar com as diferentes entidades/grupos profissionais por bitola idêntica, dá azo à anarquia reivindicativa. Tal leva à lei da selva.
De facto se o Governo cede na TAP e na SATA, porque não há - de ceder na NAV ou na CP?
Isto não tem ponta por onde se pegue!
Ter uma lei da greve que permite paragens intermitentes – nomeadamente nos transportes – o que, na prática, permite estender o período da greve, e suas consequências, muito para além do fixado no pré-aviso, parece ser uma insensatez inaceitável. Trata-se de um resquício do «PREC» que a CR algo marxista e meio tola, anti nacional e, até, anti democrática, aprovada nos idos de 1976, respalda e que, passados 36 anos, ainda não foi corrigida nos seus aspectos fundamentais.
Como é tudo feito «democraticamente» como não nos cansam de dizer, isso vai-nos sossegando o espirito, mesmo que as prisões estejam a abarrotar – sem que os principais violadores da lei, por lá passem – e se tenha acumulado uma divida externa superior à soma de todas aquelas contraídas desde que Afonso, o primeiro, desembainhou a espada.
Dívida que agora todos temos que pagar, mesmo que não consigamos trabalhar como se vê pelo exemplo junto.
A cartilha republicano – carbonária de Brito Camacho voltou a estar em vigor.