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Nemanja Ristic, um dos conspiradores, fotografado perto do ministro do exterior russo Sergei Lavrov em visita à Sérvia |
Luis Dufaur, Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, 31 de Março de 2017
O governo russo teria montado um
atentado para assassinar o primeiro-ministro de Montenegro, Milo Djukanovic,
revelou «The
Daily Telegraph»,
citando fontes do Foreign Office.
Os dados da investigação foram revelados com detalhes
em
Fevereiro (2017).
Moscovo teria excogitado um golpe contra o Parlamento na
véspera do ingresso do pequeno país na NATO.
Para o ministro russo das relações exteriores Sergei
Lavrov, a culpada pelas tensões é a NATO que, segundo ele, é uma «instituição
da Guerra Fria» cujo expansionismo estaria forjando níveis de tensão sem
precedentes na Europa nos últimos 30 anos. A Rússia seria inteiramente
inocente.
O crime deveria ter sido perpetrado em 16 de Outubro de
2016, mas fracassou quando um dos assassinos contratados, o ex-polícia
montenegrino Mirko Velimirovic, se arrependeu e denunciou a trama poucas horas
antes da sua realização.
Dois agentes da inteligência militar russa, Eduard
Shirokov e Vladimir Popov, estão a ser procurados pela Interpol.
Eles teriam recrutado uma rede de nacionalistas sérvios
capitaneados por Aleksandar Sindjelic, implicado em operações separatistas na
Ucrânia, para executar um maquiavélico e sanguinário crime colectivo. O governo
russo teria montado um atentado para assassinar o primeiro-ministro de
Montenegro, Milo Djukanovic, revelou «The
Daily Telegraph», citando fontes do Foreign Office.
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Um dos nacionalistas sérvios pró-Putin que estaria envolvido no falido putsch |
Segundo o polícia arrependido, o plano consistia em se
infiltrarem numa manifestação da oposição, a Frente Democrática, e incitar a
multidão a invadir o Parlamento.
Vários nacionalistas sérvios vestidos com uniformes da
polícia de Montenegro iriam disparar contra o povo exaltado com as suas
espingardas de assalto.
O mata-mata serviria de biombo e pretexto do crime
planejado: os conspiradores a mando da Rússia tinham a missão de «não
só capturar, mas acabar com a vida» do primeiro-ministro pró-ocidental
Milo Djukanovic. Assim ficou registrado no depoimento oficial do agente
arrependido.
Mais de 20 pessoas foram presas acusadas de terrorismo e
«preparação de actos contra a ordem constitucional de Montenegro».
A intervenção da Rússia nos países da antiga esfera de
influência de Moscovo com a cumplicidade de simpatizantes putinistas vem-se
tornando habitual e causa grave preocupação no Ocidente.
O ministro da Defesa montenegrino Predrag Bosković, disse
que «não há dúvida alguma» de que o golpe foi montado por oficiais da
inteligência da Rússia associados com activistas nacionalistas locais.
Obviamente o putinismo irreflectido desses nacionalistas
favoreceu a trama.
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O primeiro-ministro de Montenegro Milo Djukanovic escapou por pouco de atentado mortal planejado em Moscovo |
Um dos conspiradores, de nome Nemanja Ristic, fora pouco
antes fotografado perto do ministro do exterior russo Sergei Lavrov em visita à
Sérvia.
Moscovo vinha tentando intimidar o Montenegro para
abandonar o plano de ingresso na NATO.
Também o Kremlin vinha investindo milhões de
libras esterlinas para financiar a vitória eleitoral de um partido nacionalista
pró-russo que faz a apologia das posições de Moscovo contra um suposto conluio mundialista globalista ocidental,
capitalista e pró-americano.
O primeiro ministro Milo Djukanovic acabou por ser
substituído por Filip Vujanovic, do mesmo partido. Mas o golpe demonstra «a
mudança substancial do Kremlin visando interferir nos países da Europa» que se
inclinam para a democracia, explicou o ministro da Defesa britânico Michael
Fallon.
Montenegro tem apenas 600 000 habitantes e obteve a
independência da Sérvia em 2006, candidatando-se logo para ingressar na NATO e
na União Europeia e obter assim um guarda-chuva protector em face da vingativa
política
de Vladimir Putin.
O pequeno país possui quase 300 quilómetros de costa no
Adriático de alto valor estratégico.
O quebra-cabeça dos Bálcãs
voltou a assombrar as relações europeias, patenteando a inescrupulosa
actividade dos serviços secretos russos que estão a recuperar o protagonismo do
tempo da URSS.