terça-feira, 23 de março de 2010

Delírios alucinantes

Nuno Serras Pereira
1. Todo aquele amontoado de gente e de instituições, de governos e legisladores, que há décadas reivindicava a pedofilia e a pederastia como iniciações saudáveis e recomendáveis, e que contribuíram ao longo dos anos para baixar a idade do consentimento nas legislações, no que diz respeito às “relações” sexuais, e que persistem em poluir e derrancar a infância e a juventude através da introdução da “educação” sexual nas escolas, da imoralidade impúdica e obscena na comunicação social, em particular nas televisões, da pornografia na Internet e da sua venda pública em tudo quanto é quiosque, é essa mesma turba que agora se levanta com ar acusador e de punho ameaçador invectivando e lapidando o Santo Padre e a Igreja, por alguns dos seus membros terem praticado aquilo que eles mesmos insistentemente aconselharam, contra a doutrina da mesma Igreja, baluarte da verdade.
A mesma malta que fornica, comete adultério, sodomiza inumeráveis jovens, se divorcia, deixando traumas permanentes na progenitura, é polígama em série, copula com animais, mata a seus filhos com a “contracepção” química, hormonal e mecânica, os esventra e decapita com o aborto cirúrgico, é essa mesma súcia que se amanta com uma toga, franze o sobrolho, pigarreia, bate com o martelo e profere a sentença: a Igreja é uma sentina, o Clero um esgoto nauseabundo e o Papa um promotor de imundícies tenebrosas. Salvemos a humanidade exterminando a besta infame!
Estes cegos e guias de cegos não vê que se ainda se indigna, apesar da falta de autoridade, é porque ainda lhe restam resquícios da salubridade que Deus infunde no mundo através da Sua Igreja.
2. Esta gente que ganha rios de dinheiro com a indústria da promiscuidade conclama com uma insistência singular, para não dizer pantalifúsia, que a medicina para os males que afligem a Igreja consiste na abolição do celibato e da virgindade consagrada. Como é que a continência e a castidade Religiosa e Sacerdotal podem constituir abusos sexuais é uma coisa que nem eles nem ninguém consegue explicar. Como é que a abstinência sexual é um abuso sexual!?
Acresce que em confissões religiosas cujo clero é casado os abusos sexuais de menores, pedofilia e pederastia, são mais numerosos do que no Clero Católico. Isto, claro está, para não falar daquelas religiões onde o abuso de menores não só não é condenado com é incentivado. Disso não falam, pois receiam que alguma bomba lhes rebente à porta. Mas a Igreja Católica que tem mártires que o foram por se recusarem a essas práticas com tiranos dessas religiões, tem autoridade para o denunciar.
O problema não está no celibato mas sim na infidelidade e no dissentimento doutrinal em relação à Verdade moral que a Igreja anuncia que contaminou muitos Prelados ou Pastores e formadores nos Seminários e nos conventos, isto é, numa traição à Igreja e à Fé que professam.
3. Não podemos, porém, deixar de reconhecer que estas insurreições mais ou menos gerais nos são favoráveis, embora a contra-gosto dos amotinados, uma vez que “ Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam”. É tempo de purificação e de reformação; é tempo de conversão e de pôr na ordem os piores inimigos da Igreja, que são aqueles que a minam a partir de dentro. Cantemos pois aleluias e hossanas a Nosso Senhor Jesus Cristo que nos proporciona, através do Santo Padre e daqueles que lhe são fiéis, esta oportunidade de com Justiça e Misericórdia desempanar a Beleza da Sua Esposa Santa e Imaculada, cujos membros se prostituem pelo pecado.

Ver ainda o artigo do mesmo autor sobre o assunto, publicado em 2002, em
http://moldaraterra.blogspot.com/2010/03/um-importante-texto-de-nuno-serras.html



Defesa da vida e da família no centro das eleições na Itália

Movimento pela vida faz um apelo aos candidatos nestas eleições
Antonio Gaspari
O Movimento italiano pela Vida (MpV) fez um apelo a todos os candidatos a governador e a todos os conselheiros das 13 regiões onde serão realizadas as eleições nos dias 28 e 29 de Março para que a defesa da vida e da família seja objeto dos programas eleitorais e da aplicação de políticas para o bem comum.
Em particular, pede reconhecimento à vida desde a concepção até a morte natural e a reforma dos conselhos familiares, para que seu papel vá além de uma mera assinatura de autorização do aborto, em alguns casos.
O apelo foi dirigido aos candidatos de todas as listas. O MpV se comprometeu com os mesmos candidatos e especialmente com os eleitores a contabilizar os que aderirem ao apelo.
«A razão decisiva para não aderir ao aborto é, no geral, contra a destruição de seres humanos no estado embrionário» - começa a mensagem do MpV. É que se trata de «seres humanos», necessariamente, de sujeitos, de «pessoas» particularmente frágeis e pobres e devem ser tratadas como tal.
«Por isso a tutela do direito à vida desde a concepção é uma questão também política. O modo central é primário, porque o fundamento do Estado e da comunidade internacional é a proteção e a promoção da dignidade de cada ser humano».
Nas regiões há um estatuto modificador, integrador e, portanto, o Movimento pela Vida pede aos chefes dos partidos, aspirantes ao governo e a todos os candidatos que «assumam o compromisso de fazer todo o possível para inscrever nos estatutos regionais o reconhecimento do direito à vida de cada ser desde a concepção».
Depois de ter se referido também ao Manifesto apresentado pelo Fórum das Associações familiares, o MpV acrescentou um segundo pedido, «a restruturação dos conselhos familiares, para colocá-los em suas funções essenciais: ser instrumentos de forma límpida e única, obviamente protegendo o direito à vida das crianças, não contra, mas com as mães».



domingo, 21 de março de 2010

O novo navio caça-piratas


Enviado por Alfredo Pereira

Lançado recentemente pela marinha dos Estados Unidos, o primeiro de uma série de 55 unidades, este barato (apenas 208 milhões US$) tri-casco hi-tech revolucionário, o USS "Independence" é um LCS-2 (Navio de Combate no Litoral). Pode transportar a 60 nós (+ 120 km/h) helicópteros, desembarcar carros blindados, e disparar todos os tipos de torpedos, minas, mísseis, e metralhadoras. Apenas dois deles bastarão para que os piratas do Oceano Índico tenham que procurar uma outra profissão...




Multidão islâmica aterroriza cristãos no Egipto

A Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) denunciou um ataque a uma comunidade copta no Egipto que mobilizou cerca de três mil muçulmanos que sitiaram o edifício e causaram ferimentos a 25 fiéis.

A ofensiva islâmica teve lugar em Mersa Matrouh, no noroeste do país, e seguiu-se ao sermão de um clérigo fundamentalista na mesquita local. O imã Shaikh Khamees insurgiu-se contra a presença de cristãos, afirmando: "não toleramos a presença de cristãos na nossa terra".

A multidão deixou a mesquita e partiu em direcção à Igreja. Num edifício anexo encontravam-se cerca de 400 coptas, incluindo mulheres e crianças, em oração. O edifício foi sitiado e atacado e as forças de segurança apenas conseguiram por cobro à situação na manhã seguinte.

Foram feitas dezenas de detenções, entre muçulmanos e cristãos.

Disparam queixas de 'bullying'

Ana Bela Ferreira, DN, 19.3.2010

Os pais estão em alerta em relação às situações de bullying que os filhos possam estar a sofrer. Os casos de violência entre alunos, que vieram a público nas últimas semanas, fizeram aumentar o número de queixas, denúncias e pedidos de informação por parte dos pais. À Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) chegam todos os dias e-mails de pais a contar casos concretos em que os filhos são agredidos ou gozados. Também algumas escolas têm recebido mais questões dos pais a respeito de casos em que o filho possa ser vítima de bullying.

Nos e-mails que têm chegado à Confap, os pais querem apenas contar o que se passa com os filhos e saber se a escola não estará a desvalorizar o caso, adiantou ao DN Albino Almeida, presidente da confederação. O dirigente associativo explica que o organismo está a "tentar passar a ideia de que os pais não podem baixar a guarda e devem insistir quando acham que o caso é grave".

Em algumas escolas contactadas pelo DN, os professores notam uma maior atenção e preocupação dos pais em relação ao fenómeno de bullying. Algo que já esperavam como consequência das notícias. "Os pais quando vêm cá aproveitam sempre para falar de bullying", reconhece o director do Agrupamento de Escolas Terras de Larus, Seixal, Nuno Adeganha.

Também no Agrupamento de Escolas das Antas, no Porto, os pais parecem mais preocupados com o que se passa nos recreios. "Os pais começaram a fazer perguntas sobre bullying, durante o atendimento semanal", explica Ângela Correa, da direcção da escola.

Nestes contactos, os professores têm percebido que os pais confundem muitas vezes o que pode ser bullying - actos de violência física ou psicológica continuados sobre o mesmo indivíduo - com situações pontuais de conflito entre alunos. "Quando dois alunos se pegam no recreio, os pais são capazes de dizer logo que é bullying", exemplifica Ângela Correa.

Também na escola do Seixal, os encarregados de educação tentam perceber se os filhos são vítimas de pressão. Enquanto antes podiam desvalorizar "uma chapada" entre os alunos, agora "querem logo saber se o filho está a ser vítima de bullying", refere Nuno Adeganha.

Perante estas dúvidas, as escolas estão a esclarecer os pais individualmente no horário de atendimento semanal. E para já não estão previstas acções de sensibilização e prevenção deste fenómeno. Da mesma forma, a Confap não vai fazer sessões de esclarecimento dirigidas aos pais.

Para combater o fenómeno, o Conselho de Ministros aprovou ontem a suspensão imediata dos alunos acusados de bullying. Uma medida que já tinha sido anunciada pela ministra da Educação, Isabel Alçada, e que visa dar mais poder às escolas para agirem de forma preventiva e imediata nestes casos.

Entretanto, Albino Almeida explica que a Confap tem aconselhado os pais a pedir às escolas para não desvalorizarem as situações de violência entre alunos. Ao mesmo tempo, as associações de pais que pertencem à Confap têm-se disponibilizado para ajudar as escolas em campanhas de prevenção e sensibilização dirigidas aos encarregados de educação.

O dirigente da Confap lembra ainda que uma das primeiras recomendações que fazem aos pais é para não aconselharem os filhos a responder à violência física com mais violência. Já que desta forma estão só a aumentar o problema.

Enviado por Afonso Perdigão

Carta Pastoral de Bento XVI aos católicos na Irlanda
sobre os abusos sexuais de menores

1. Amados Irmãos e Irmãs da Igreja na Irlanda, é com grande preocupação que vos escrevo como Pastor da Igreja universal. Como vós, fiquei profundamente perturbado com as notícias dadas sobre o abuso de crianças e jovens vulneráveis da parte de membros da Igreja na Irlanda, sobretudo de sacerdotes e religiosos. Não posso deixar de partilhar o pavor e a sensação de traição que muitos de vós experimentastes ao tomar conhecimento destes actos pecaminosos e criminais e do modo como as autoridades da Igreja na Irlanda os enfrentaram.

Como sabeis, convidei recentemente os bispos irlandeses para um encontro aqui em Roma a fim de referir sobre o modo como trataram estas questões no passado e indicar os passos que empreenderam para responder a esta grave situação. Juntamente com alguns altos Prelados da Cúria Romana ouvi quanto tinham para dizer, quer individualmente quer em grupo, enquanto propunham uma análise dos erros cometidos e das lições aprendidas, e uma descrição dos programas e dos protocolos hoje existente. As nossas reflexões foram francas e construtivas. Alimento a confiança de que, como resultado, os bispos se encontrem agora numa posição mais forte para levar por diante a tarefa de reparar as injustiças do passado e para enfrentar as temáticas mais amplas relacionadas com o abuso dos menores segundo modalidades conformes com as exigências da justiça e com os ensinamentos do Evangelho.

2. Por meu lado, considerando a gravidade destas culpas e a resposta muitas vezes inadequada que lhes foi reservada da parte das autoridades eclesiásticas no vosso país,, decidi escrever esta Carta Pastoral para vos expressar a minha proximidade, e para vos propor um caminho de cura, de renovação e de reparação.

Na realidade, como muitos no vosso país revelaram, o problema do abuso dos menores não é específico nem da Irlanda nem da Igreja. Contudo a tarefa que agora tendes à vossa frente é enfrentar o problema dos abusos que se verificaram no âmbito da comunidade católica irlandesa e de o fazer com coragem e determinação. Ninguém pense que esta dolorosa situação se resolverá em pouco tempo. Foram dados passos em frente positivos, mas ainda resta muito para fazer. É preciso perseverança e oração, com grande confiança na força restabelecedora da graça de Deus.

Ao mesmo tempo, devo expressar também a minha convicção de que, para se recuperar desta dolorosa ferida, a Igreja na Irlanda deve em primeiro lugar reconhecer diante do Senhor e diante dos outros, os graves pecados cometidos contra jovens indefesos. Esta consciência, acompanhada de sincera dor pelo dano causado às vítimas e às suas famílias, deve levar a um esforço concentrado para garantir a protecção dos jovens em relação a semelhantes crimes no futuro.

Enquanto enfretais os desafios deste momento, peço-vos que vos recordeis da «rocha de que fostes talhados» (Is 51, 1). Reflecti sobre as contribuições generosas, com frequência heróicas, oferecidas à Igreja e à humanidade como tal pelas passadas gerações de homens e mulheres irlandeses, e deixai que isto gere impulso para um honesto auto-exame e um convicto programa de renovação eclesial e individual. A minha oração é por que, assistida pela intercessão dos seus muitos santos e purificada pela penitência, a Igreja na Irlanda supere a presente crise e volte a ser uma testemunha convincente da verdade e da bondade de Deus omnipotente, manifestadas no seu Filho Jesus Cristo.

3. Historicamente os católicos da Irlanda demonstraram-se uma grande força de bem quer na pátria quer fora. Monges célticos, como São Colombano, difundiram o Evangelho na Europa Ocidental lançando as bases da cultura monástica medieval. Os ideais de santidade, de caridade e de sabedoria transcendente que derivam da fé cristã, encontraram expressão na construção de igrejas e mosteiros e na instituição de escolas, bibliotecas e hospitais que consolidaram a identidade espiritual da Europa. Aqueles missionários irlandeses tiraram a sua força e inspiração da fé sólida, da guia forte e dos comportamentos morais rectos da Igreja na sua terra natal.

A partir do século XVI, os católicos na Irlanda sofreram um longo período de perseguição, durante o qual lutaram para manter viva a chama da fé em circunstâncias perigosas e difíceis. Santo Oliver Plunkett, o Arcebispo mártir de Armagh, é o exemplo mais famoso de uma multidão de corajosos filhos e filhas da Irlanda dispostos a dar a própria vida pela fidelidade ao Evangelho. Depois da Emancipação Católica, a Igreja teve a liberdade de crescer de novo. Famílias e inúmeras pessoas que tinham preservado a fé durante os tempos das provações tornaram-se a centelha de um grande renascimento do catolicismo irlandês no século XIX. A Igreja forneceu escolarização, sobretudo aos pobres, e isto deu uma grande contribuição à sociedade irlandesa. Um dos frutos das novas escolas católicas foi um aumento de vocações: gerações de sacerdotes, irmãs e irmãos missionários deixaram a pátria para servir em todos os continentes, sobretudo no mundo de língua inglesa. Foram admiráveis não só pela vastidão do seu número, mas também pela robustez da fé e pela solidez do seu empenho pastoral. Muitas dioceses, sobretudo em África, América e Austrália, beneficiaram da presença de clero e religiosos irlandeses que anunciaram o Evangelho e fundaram paróquias, escolas e universidades, clínicas e hospitais, que serviram tanto os católicos, como a sociedade em geral, com atenção especial às necessidades dos pobres.

Em quase todas as famílias da Irlanda houve alguém – um filho ou uma filha, uma tia ou um tio – que deu a própria vida à Igreja. Justamente as famílias irlandesas têm em grande estima e afecto os seus queridos, que ofereceram a própria vida a Cristo, partilhando o dom da fé com outros e actualizando-a num serviço amoroso a Deus e ao próximo.

4. Contudo, nos últimos decénios a Igreja no vosso país teve que se confrontar com novos e graves desafios à fé que surgiram da rápida transformação e secularização da sociedade irlandesa. Verificou-se uma mudança social muito rápida, que muitas vezes atingiu com efeitos hostis a tradicional adesão do povo ao ensinamento e aos valores católicos. Com frequência as práticas sacramentais e devocionais que sustentam a fé e a tornam capaz de crescer, como por exemplo a confissão frequente, a oração quotidiana e os ritos anuais, não foram atendidas. Determinante foi também neste período a tendência, até da parte de sacerdotes e religiosos, para adoptar modos de pensamento e de juízo das realidades seculares sem referência suficiente ao Evangelho. O programa de renovação proposto pelo Concílio Vaticano II por vezes foi mal compreendido e na realidade, à luz das profundas mudanças sociais que se estavam a verificar, não era fácil avaliar o modo melhor de o realizar. Em particular, houve uma tendência, ditada por recta intenção mas errada, a evitar abordagens penais em relação a situações canónicas irregulares. É neste contexto geral que devemos procurar compreender o desconcertante problema do abuso sexual dos jovens, que contribuiu em grande medida para o enfraquecimento da fé e para a perda do respeito pela Igreja e pelos seus ensinamentos.

Só examinando com atenção os numerosos elementos que deram origem à crise actual é possível empreender uma diagnose clara das suas causas e encontrar remédios eficazes. Certamente, entre os factores que para ela contribuíram podemos enumerar: procedimentos inadequados para determinar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa; insuficiente formação humana, moral, intelectual e espiritual nos seminários e nos noviciados; uma tendência na sociedade a favorecer o clero e outras figuras com autoridade e uma preocupação inoportuna pelo bom nome da Igreja e para evitar os escândalos, que levaram como resultado à malograda aplicação das penas canónicas em vigor e à falta da tutela da dignidade de cada pessoa. É preciso agir com urgência para enfrentar estes factores, que tiveram consequências tão trágicas para as vidas das vítimas e das suas famílias e obscureceram a luz do Evangelho a tal ponto, ao qual nem sequer séculos de perseguição não tinham chegado.

5. Em diversas ocasiões desde a minha eleição para a Sé de Pedro, encontrei vítimas de abusos sexuais, assim como estou disponível a fazê-lo no futuro. Detive-me com elas, ouvi as suas vicissitudes, tomei nota do seu sofrimento, rezei com e por elas. Precedentemente no meu pontificado, na preocupação por enfrentar este tema, pedi aos Bispos da Irlanda, por ocasião da visita ad limina de 2006, que «estabelecessem a verdade de quanto aconteceu no passado, tomassem todas as medidas adequadas para evitar que se repita no futuro, garantissem que os princípios de justiça sejam plenamente respeitados e, sobretudo, curassem as vítimas e quantos são atingidos por estes crimes abnormes» (Discurso aos Bispos da Irlanda, 28 de Outubro de 2006).

Com esta Carta, pretendo exortar todos vós, como povo de Deus na Irlanda, a reflectir sobre as feridas infligidas ao corpo de Cristo, sobre os remédios, por vezes dolorosos, necessários para as atar e curar, e sobre a necessidade de unidade, de caridade e de ajuda recíproca no longo processo de restabelecimento e de renovação eclesial. Dirijo-me agora a vós com palavras que me vêm do coração, e desejo falar a cada um de vós individualmente e a todos como irmãos e irmãs no Senhor.

6. Às vítimas de abuso e às suas famílias

Sofrestes tremendamente e por isto sinto profundo desgosto. Sei que nada pode cancelar o mal que suportastes. Foi traída a vossa confiança e violada a vossa dignidade. Muitos de vós experimentastes que, quando éreis suficientemente corajosos para falar de quanto tinha acontecido, ninguém vos ouvia. Quantos de vós sofrestes abusos nos colégios deveis ter compreendido que não havia modo de evitar os vossos sofrimentos. É comprensível que vos seja difícil perdoar ou reconciliar-vos com a Igreja. Em seu nome expresso abertamente a vergonha e o remorso que todos sentimos. Ao mesmo tempo peço-vos que não percais a esperança. É na comunhão da Igreja que encontramos a pessoa de Jesus Cristo, ele mesmo vítima de injustiça e de pecado. Como vós, ele ainda tem as feridas do seu injusto padecer. Ele compreende a profundeza dos vossos padecimentos e o persistir do seu efeito nas vossas vidas e nos relacionamentos com os outros, incluídas as vossas relações com a Igreja. Sei que alguns de vós têm dificuldade até de entrar numa igreja depois do que aconteceu. Contudo, as mesmas feridas de Cristo, transformadas pelos seus sofrimentos redentores, são os instrumentos graças aos quais o poder do mal é infrangido e nós renascemos para a vida e para a esperança. Creio firmemente no poder restabelecedor do seu amor sacrifical – também nas situações mais obscuras e sem esperança – que traz a libertação e a promessa de um novo início. Dirigindo-me a vós como pastor, preocupado pelo bem de todos os filhos de Deus, peço-vos com humildade que reflictais sobre quanto vos disse. Rezo a fim de que, aproximando-vos de Cristo e participando na vida da sua Igreja – uma Igreja purificada pela penitência e renovada na caridade pastoral – possais redescobrir o amor infinito de Cristo por todos vós. Tenho confiança em que deste modo sereis capazes de encontrar reconciliação, profunda cura interior e paz.

7. Aos sacerdotes e aos religiosos que abusaram dos jovens

Traístes a confiança que os jovens inocentes e os seus pais tinham em vós. Por isto deveis responder diante de Deus omnipotente, assim como diante de tribunais devidamente constituídos. Perdestes a estima do povo da Irlanda e lançastes vergonha e desonra sobre os vossos irmãos. Quantos de vós sois sacerdotes violastes a santidade do sacramento da Ordem Sagrada, no qual Cristo se torna presente em nós e nas nossas acções. Juntamente com o enorme dano causado às vítimas, foi perpetrado um grande dano à Igreja e à percepção pública do sacerdócio e da vida religiosa.

Exorto-vos a examinar a vossa consciência, a assumir a vossa responsabilidade dos pecados que cometestes e a expressar com humildade o vosso pesar. O arrependimento sincero abre a porta ao perdão de Deus e à graça do verdadeiro emendamento. Oferecendo orações e penitências por quantos ofendestes, deveis procurar reparar pessoalmente as vossas acções. O sacrifício redentor de Cristo tem o poder de perdoar até o pecado mais grave e de obter o bem até do mais terrível dos males. Ao mesmo tempo, a justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas acções sem nada esconder. Reconhecei abertamente a vossa culpa, submetei-vos às exigências da justiça, mas não desespereis da misericórdia de Deus.

8. Aos pais

Ficastes profundamente transtornados ao tomar conhecimento das coisas terríveis que tiveram lugar naquele que deveria ter sido o ambiente mais seguro para todos. No mundo de hoje não é fácil construir um lar doméstico e educar os filhos. Eles merecem crescer num ambiente seguro, amados e queridos, com um forte sentido da sua identidade e do seu valor. Têm direito a ser educados nos valores morais autênticos, radicados na dignidade da pessoa humana, a serem inspirados pela verdade da nossa fé católica e a aprender modos de comportamento e de acção que os levem a uma sadia estima de si e à felicidade duradoura. Esta tarefa nobre e exigente está confiada em primeiro lugar a vós, seus pais. Exorto-vos a fazer a vossa parte para garantir a melhor cura possível dos jovens, quer em casa quer na sociedade em geral, enquanto que a Igreja, por seu lado, continua a pôr em prática as medidas adoptadas nos últimos anos para tutelar os jovens nos ambientes paroquiais e educativos. Enquanto dais continuidade às vossas importantes responsabilidades, certifico-vos de que estou próximo de vós e que vos dou o apoio da minha oração.

9. Aos meninos e aos jovens da Irlanda

Desejo oferecer-vos uma particular palavra de encorajamento. A vossa experiência de Igreja é muito diversa da que fizeram os vossos pais e avós. O mundo mudou muito desde quando eles tinham a vossa idade. Não obstante, todos, em cada geração, estão chamados a percorrer o mesmo caminho da vida, sejam quais forem as circunstâncias. Todos estamos escandalizados com os pecados e as falências de alguns membros da Igreja, sobretudo de quantos foram escolhidos de modo especial para guiar e servir os jovens. Mas é na Igreja que encontrareis Jesus Cristo que é o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13, 8). Ele ama-vos e ofereceu-se a si próprio na Cruz por vós. Procurai uma relação pessoal com ele na comunhão da sua Igreja, porque ele nunca trairá a vossa confiança! Só ele pode satisfazer as vossas expectativas mais profundas e conferir às vossas vidas o seu significado mais pleno orientando-as para o serviço ao próximo. Mantende o olhar fixo em Jesus e na sua bondade e protegei no vosso coração a chama da fé. Juntamente com os vossos irmãos católicos na Irlanda olho para vós a fim de que sejais discípulos fiéis do nosso Deus e contribuais com o vosso entusiasmo e com o vosso idealismo tão necessários para a reconstrução e para o renovamento da nossa amada Igreja.

10. Aos sacerdotes e aos religiosos da Irlanda

Todos nós estamos a sofrer como consequência dos pecados dos nossos irmãos que traíram uma ordem sagrada ou não enfrentaram de modo justo e responsável as acusações de abuso. Perante o ultraje e a indignação que isto causou, não só entre os leigos mas também entre vós e as vossas comunidades religiosas, muitos de vós sentis-vos pessoalmente desanimados e também abandonados. Além disso, estou consciente de que aos olhos de alguns sois culpados por associação, e considerados como que de certo modo responsáveis pelos delitos de outros. Neste tempo de sofrimento, desejo reconhecer-vos a dedicação da vossa vida de sacerdotes e de religiosos e dos vossos apostolados, e convido-vos a reafirmar a vossa fé em Cristo, o vosso amor à sua Igreja e a vossa confiança na promessa de redenção, de perdão e de renovação interior do Evangelho. Deste modo, demonstrareis a todos que onde abunda o pecado, superabunda a graça (cf. Rm 5, 20).

Sei que muitos de vós estais desiludidos, transtornados e encolerizados pelo modo como estas questões foram tratadas por alguns dos vossos superiores. Não obstante, é essencial que colaboreis de perto com quantos têm a autoridade e que vos comprometais para fazer com que as medidas adoptadas para responder à crise sejam verdadeiramente evangélicas, justas e eficazes. Sobretudo, exorto-vos a tornar-vos cada vez mais claramente homens e mulheres de oração, seguindo com coragem o caminho da conversão, da purificação e da reconciliação. Deste modo, a Igreja na Irlanda haurirá nova vida e vitalidade do vosso testemunho ao poder redentor do Senhor tornado visível na vossa vida.

11. Aos meus irmãos bispos

Não se pode negar que alguns de vós e dos vossos predecessores falhastes, por vezes gravemente, na aplicação das normas do direito canónico codificado há muito tempo sobre os crimes de abusos de jovens. Foram cometidos sérios erros no tratamento das acusações. Compreendo como era difícil lançar mão da extensão e da complexidade do problema, obter informações fiáveis e tomar decisões justas à luz de conselhos divergentes de peritos. Contudo, deve-se admitir que foram cometidos graves erros de juízo e que se verificaram faltas de governo. Tudo isto minou seriamente a vossa credibilidade e eficiência. Aprecio os esforços que fizestes para remediar os erros do passado e para garantir que não se repitam. Além de pôr plenamente em prática as normas do direito canónico ao enfrentar os casos de abuso de jovens, continuai a cooperar com as autoridades civis no âmbito da sua competência. Claramente, os superiores religiosos devem fazer o mesmo. Também eles participaram em recentes encontros aqui em Roma destinados a estabelecer uma abordagem clara e coerente destas questões. É obrigatório que as normas da Igreja na Irlanda para a tutela dos jovens sejam constantemente revistas e actualizadas e que sejam aplicadas de modo total e imparcial em conformidade com o direito canónico.

Só uma acção decidida levada em frente com total honestidade e transparência poderá restabelecer o respeito e a benquerença dos Irlandeses em relação à Igreja à qual consagrámos a nossa vida. Isto deve brotar, antes de tudo, do exame de vós próprios, da purificação interior e da renovação espiritual. O povo da Irlanda espera justamente que sejais homens de Deus, que sejais santos, que vivais com simplicidade, que procureis todos os dias a conversão pessoal. Para ele, segundo a expressão de Santo Agostinho, sois bispos; contudo estais chamados a ser com eles seguidores de Cristo (cf. Discurso 340, 1). Exorto-vos portanto a renovar o vosso sentido de responsabilidade diante de Deus, a crescer em solidariedade com o vosso povo e a aprofundar a vossa solicitude pastoral por todos os membros da vossa grei. Em particular, sede sensíveis à vida espiritual e moral de cada um dos vossos sacerdotes. Sede um exemplo com as vossas próprias vidas, estai-lhes próximos, ouvi as suas preocupações, oferecei-lhes encorajamento neste tempo de dificuldades e alimentai a chama do seu amor a Cristo e o seu compromisso no serviço dos seus irmãos e irmãs.

Também os leigos devem ser encorajados a fazer a sua parte na vida da Igreja. Fazei com que sejam formados de modo que possam dizer a razão, de maneira articulada e convincente, do Evangelho na sociedade moderna (cf. 1 Pd 3, 15), e cooperem mais plenamente na vida e na missão da Igreja. Isto, por sua vez, ajudar-vos-á a ser de novo guias e testemunhas credíveis da verdade redentora de Cristo.

12. A todos os fiéis da Irlanda

A experiência que um jovem faz da Igreja deveria dar sempre fruto num encontro pessoal e vivificante com Jesus Cristo numa comunidade que ama e que oferece alimento. Neste ambiente, os jovens devem ser encorajados a crescer até à sua plena estatura humana e espiritual, a aspirar por ideais nobres de santidade, de caridade e de verdade e a inspirar-se nas riquezas de uma grande tradição religiosa e cultural. Na nossa sociedade cada vez mais secularizada, na qual também nós critãos muitas vezes temos dificuldade em falar da dimensão transcendente da nossa existência, precisamos de encontrar novos caminhos para transmitir aos jovens a beleza e a riqueza da amizade com Jesus Cristo na comunhão da sua Igreja. Ao enfrentar a presente crise, as medidas para se ocupar de modo justo de cada um dos crimes são essenciais, mas sozinhas não são suficientes: há necessidade de uma nova visão para inspirar a geração actual e as futuras a fazer tesouro do dom da nossa fé comum. Caminhando pela via indicada pelo Evangelho, observando os mandamentos e conformando a nossa vida de maneira cada vez mais próxima com a pessoa de Jesus Cristo, fareis a experiência da renovação profunda da qual hoje há uma urgente necessidade. Convido-vos a todos a perseverar neste caminho.

13. Amados irmãos e irmãs em Cristo, é com profunda preocupação por todos vós neste tempo de sofrimento, no qual a fragilidade da condição humana foi tão claramente revelada, que desejei oferecer-vos estas palavras de encorajamento e de apoio. Espero que as acolhais como um sinal da minha proximidade espiritual e da minha confiança na vossa capacidade de responder aos desafios do momento actual tirando renovada inspiração e força das nobres tradições da Irlanda de fidelidade ao Evangelho, de perseverança na fé e de firmeza na consecução da santidade. Juntamente com todos vós, rezo com insistência para que, com a graça de Deus, as feridas que atingiram muitas pessoas e famílias possam ser curadas e que a Igreja na Irlanda possa conhecer uma época de renascimento e de renovação espiritual.

14. Desejo propor-vos algumas iniciativas concretas para enfrentar a situação. No final do meu encontro com os Bispos da Irlanda, pedi que a Quaresma deste ano fosse considerada como tempo de oração para uma efusão da misericórdia de Deus e dos dons de santidade e de força do Espírito Santo sobre a Igreja no vosso país. Agora convido todos vós a dedicar as vossas penitências da sexta-feira, durante todo o ano, de agora até à Páscoa de 2011, por esta finalidade. Peço-vos que ofereçais o vosso jejum, a vossa oração, a vossa leitura da Sagrada Escritura e as vossas obras de misericórdia para obter a graça da cura e da renovação para a Igreja na Irlanda. Encorajo-vos a redescobrir o sacramento da Reconciliação e a valer-vos com mais frequência da força transformadora da sua graça.

Deve ser dedicada também particular atenção à adoração eucarística, e em cada diocese deverão haver igrejas ou capelas reservadas especificamente para esta finalidade. Peço que as paróquias, os seminários, as casas religiosas e os mosteiros organizem tempos para a adoração eucarística, de modo que todos tenham a possibilidade de participar deles. Com oração fervorosa diante da presença real do Senhor, podeis fazer a reparação pelos pecados de abuso que causaram tantos danos, e ao mesmo tempo implorar a graça de uma renovada força e de um sentido da missão mais profundo por parte de todos os bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis.

Tenho esperança em que este programa levará a um renascimento da Igreja na Irlanda na plenitude da própria verdade de Deus, porque é a verdade que nos torna livres (cf. Jo 8, 32).

Além disso, depois de me ter consultado e rezado sobre a questão, tenciono anunciar uma Visita Apostólica a algumas dioceses da Irlanda, assim como a seminários e congregações religiosas. A Visita propõe-se ajudar a Igreja local no seu caminho de renovação e será estabelecida em cooperação com as repartições competentes da Cúria Romana e com a Conferência Episcopal Irlandesa. Os pormenores serão anunciados no devido momento.

Além disso proponho que se realize uma Missão a nível nacional para todos os bispos, sacerdotes e religiosos. Alimento a esperança de que, haurindo da competência de peritos pregadores e organizadores de retiros quer da Irlanda como de outras partes, e reexaminando os documentos conciliares, os ritos litúrgicos da ordenação e da profissão e os recentes ensinamentos pontifícios, alcanceis um apreço mais profundo das vossas respectivas vocações, de modo a redescobrir as raízes da vossa fé em Jesus Cristo e a beber abundantemente nas fontes da água viva que ele vos oferece através da sua Igreja.

Neste Ano dedicado aos Sacerdotes, recomendo-vos de modo muito particular a figura de São João Maria Vianney, que teve uma compreensão tão rica do mistério do sacerdócio. «O sacerdote, escreveu, possui a chave dos tesouros do céu: é ele quem abre a porta, é ele o dispensador do bom Deus, o administrador dos seus bens». O cura d’Ars compreendeu bem como é grandemente abençoada uma comunidade quando é servida por um sacerdote bom e santo. «Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o tesouro maior que o bom Deus pode dar a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina». Por intercessão de São João Maria Vianney possa o sacerdócio na Irlanda retomar vida e a inteira Igreja na Irlanda crescer na estima do grande dom do ministério sacerdotal.

Aproveito esta ocasião para agradecer desde já a quantos se comprometerem no empenho de organizar a Visita Apostólica e a Missão, assim como os tantos homens e mulheres que em toda a Irlanda já se comprometeram pela tutela dos jovens nos ambientes eclesiásticos. Desde quando a gravidade e a extensão do problema dos abusos sexuais dos jovens em instituições católicas começou a ser plenamente compreendido, a Igreja desempenhou uma grande quantidade de trabalho em muitas partes do mundo, a fim de o enfrentar e remediar. Enquanto não se deve poupar esforço algum para melhorar e actualizar procedimentos já existentes, encoraja-me o facto de que as práticas de tutela em vigor, adoptadas pelas Igrejas locais, são consideradas, nalgumas partes do mundo, um modelo que deve ser seguido por outras instituições.

Desejo concluir esta Carta com uma especial Oração pela Igreja na Irlanda, que vos envio com o cuidado que um pai tem pelos seus filhos e com o afecto de um cristão como vós, escandalizado e ferido por quanto aconteceu na nossa amada Igreja. Ao utilizardes esta oração nas vossas famílias, paróquias e comunidades, que a Bem-Aventurada Virgem Maria vos proteja e vos guie pelo caminho que conduz a uma união mais estreita com o seu Filho, crucificado e ressuscitado. Com grande afecto e firme confiança nas promessas de Deus, concedo de coração a todos vós a minha Bênção Apostólica em penhor de força e paz no Senhor.

Vaticano, 19 de Março de 2010, Solenidade de São José

Benedictus PP. XVI

Abusos sexuais de menores

Nuno Serras Pereira

1. Ninguém ignorará que o abuso sexual de menores e a pedofilia são, percentualmente, mais frequentes entre outras confissões religiosas, profissões que lidam com crianças e mesmo na família, principalmente quando não é a original, do que no clero católico. Por isso, toda a gente perceberá, se estiver de boa-fé que este clamor da comunicação social à volta de casos acontecidos há décadas não é inocente e tem o mesmo propósito, recorrendo às mesmas tácticas, que os regimes nazis e comunistas, a saber, descredibilizar a Igreja Católica, por ser ela o único baluarte, no mundo contemporâneo, que se opões com todo o vigor e determinação à degradação moral de cada pessoa humana, promovida pelos grandes poderes económicos, políticos, comunicacionais, etc.

2. Dito isto, é, no entanto, imprescindível afirmar sem titubeações que é totalmente inaceitável que qualquer consagrado perverta sacrilegamente a inocência de qualquer criança, adolescente ou jovem. E que é de uma gravidade extrema que quem tem responsabilidades na Igreja, os Prelados, não tomem prontamente as medidas necessárias para que a agressão sexual não se repita.

a) A selecção dos candidatos ao Sacerdócio e à vida Religiosa tem que ser exigente, valendo mais correr o risco de rejeitar Ordenar Sacerdotes ou Diáconos homens dignos do que Ordenar mesmo que seja um só indigno. Isto é, em caso de dúvida não se deve conceder o Sacramento. Esta é a recomendação que se encontra quer na Tradição da Igreja quer no seu Magistério. Mais vale ter poucos Sacerdotes virtuosos do que muitos corrompidos.

b) Apesar de uma selecção rigorosa, como já o disse em escrito anterior, existe sempre a possibilidade de pessoas malignas, agudamente astutas e de grande hipocrisia enganarem os formadores e Prelados. Acresce que um varão de virtude comprovada pode degradar-se, vindo a trair a sua vocação – trata-se do mistério da liberdade humana e da influência do Maligno. Esta é seguramente uma das razões porque a Igreja não canoniza ninguém enquanto está vivo. Só quem persevera até ao fim poderá ver reconhecida e proclamada a sua Santidade.

c) O Prelado na sua acção tem em primeiro lugar que proteger e amparar as vítimas do abuso, procurando na medida do possível reparar o mal causado. Em segundo lugar, terá que socorrer espiritualmente o desgraçado que perpetrou o crime e o pecado. Esse auxílio, para ser verdadeiro, inclui a justiça, que deve actuar, quer canónica quer civilmente. O acolhimento das penas por parte do pecador e criminoso servir-lhe-ão de expiação e de penitência pelo mal cometido.

3. Se alguém cuida que este é um problema ignorado ou desleixado pela Igreja ao longo dos séculos e na sua Tradição está redondamente enganado. O que aconteceu, em alguns sítios do mundo nestes últimos 50 anos foi uma traição ao Evangelho, à Doutrina, à Tradição e à prática constante da Igreja.

Já S. Basílio, no século IV, tratando deste assunto determinava, para o pervertedor, uma longa pena de prisão, acompanhada, entre outras penitências, de jejum a pão e água e muitas orações, juntamente com acompanhamento espiritual. Passado o tempo de cárcere, regressava à vida comunitária, continuando com mortificações e orações próprias; porém só tinha autorização para sair da sua cela acompanhado por dois Irmãos, que o vigiassem continuamente.

S. Pedro Damião (século XI), Bispo, Cardeal e Doutor da Igreja, exorta com veemência, em coerência com a Tradição, e o Papa aprova, a redução ao estado laical de qualquer Sacerdote que cometa não só um abuso sexual de menor mas, inclusive, que tenha qualquer tipo de, para usar, embora incorrecta, a linguagem corrente, comportamento homossexual.

Os exemplos poderiam multiplicar-se.