Rui Rangel,
Carlos Fugas e Manuel Pinto Coelho
Juiz
desembargador e psicólogos alertam para a banalização do uso de drogas como
consequência de uma gritante falta de visão política
Em Portugal
é legal a substância — sais de banho — que Rudy Eugene, de 31 anos, apelidado
de «canibal de Miami», consumiu antes de ser apanhado a comer a face de um
sem-abrigo norte-americano e ser abatido a tiro.
Esta
substância psicadélica é uma entre muitas outras causadoras nos nossos jovens
de estados de coma, crises de pânico e ansiedade, problemas cardíacos e surtos
psicóticos, que se encontram inocentemente nas mais de 30 smartshops —
lojas de venda encapotada de drogas legais — espalhadas pelo nosso país desde
2007, com a conivência irresponsável dos responsáveis pelas políticas da droga
em Portugal.
O uso de
drogas é hoje visto em Portugal como um estilo de vida, um direito humano.
Embora tenha
falhado na sua missão de ajudar os heroino-dependentes a abster-se do seu
opiáceo, a manutenção dos mesmos em programas de substituição tem sido
celebrada como um sucesso.
Como
consequência de uma gritante falta de visão política, o uso de drogas
banalizou-se no nosso país e o uso de haxixe, de ecstasy, de cocaína e das
drogas das smartshops entre outras é cada vez mais considerado como uma
banal actividade recreativa.
Varrido da
agenda política, os nossos governantes consideram estranhamente a
toxicodependência apenas o 14.º problema na tabela de preocupações dos
portugueses!
Prevenção,
que deveria querer dizer informar aconselhando as pessoas a evitar o seu uso
devido aos seus efeitos danosos, deixou de existir.
No nosso
país, as autoridades ditas ‘de saúde’ têm preferido enfatizar os perigos da
comida em excesso, do tabaco e do jogo…
A
dependência às drogas passou, a partir da lei da descriminalização em 2001, a
ser oficialmente considerada uma doença crónica do cérebro, tendo sido a ideia
do tratamento orientado para a abstinência substituído pelo conceito de
‘redução de danos’.
Equiparada à
diabetes, é enfatizado que assim como estes doentes precisam de insulina, os
heroino-dependentes precisam de heroína. Deste modo, a solução escolhida tem
sido distribuir, à custa do erário público, metadona e buprenorfina,
mantendo-os cativos ao Serviço Nacional de Saúde.
Neste clima,
não é de estranhar que os estabelecimentos que oferecem tratamentos livres de
drogas (orientados para a abstinência) estejam a sentir as maiores dificuldades
para serem reconhecidos e financiados pelas autoridades de saúde, correndo
muitos deles o risco de encerramento por estrangulamento financeiro, com a consequência
lógica do redireccionamento dos seus utentes para os programas de substituição
(engrossando as estatísticas oficiais de utentes em ‘tratamento’)…
O consumo de
drogas tornou-se assim um estilo de vida até à morte e uma vida livre de drogas
um objectivo a longo termo nunca atingido pela maioria dos toxicodependentes,
perversamente monitorizados pelo seu sistema de saúde para o resto das suas
vidas.
Estando as
drogas, todas elas, cada vez mais disponíveis, o seu preço cada vez mais baixo,
a percepção do risco da parte dos seus utilizadores bem como a sua aceitação
pelo grande público cada vez maior, então é natural, como consequência, que o
seu uso tenha disparado.
O movimento
Ter Esperança é Fazer Diferente pretende fazer soar o alarme na sociedade
portuguesa, soltar um grito de revolta e consciencializar as pessoas que não é
uma inevitabilidade o uso de drogas e que uma vez escolhido o mau caminho a
interrupção do seu consumo é possível.
O recado aos nossos jovens só pode ser um:
Drogas? Não. Mantenham-se firmes. Nem agora nem nunca! Comprar drogas é estar a
ajudar as mafias, o terrorismo e a sua violência.