sábado, 30 de março de 2013

O Manifesto de Girona
e os «fatos com-seus-medos»


Teresa R. Cadete, Público, 21.2.2013

Em Maio de 2011, os participantes do encontro anual do Comité de Tradução e Direitos Linguísticos do PEN Internacional, reunidos na cidade catalã de Girona, terminavam de redigir um pequeno manifesto que sintetizava em 10 pontos o documento muito mais extenso, até então em vigor, de defesa dos direitos das línguas, sobretudo minoritárias, em particular daquelas que estavam – e estão – ameaçadas de extinção. Pela sua importância, transcrevemos aqui este texto, que condensa as preocupações de todos os que cuidam do tecido que nos conecta quando pensamos, comunicamos, criamos, sonhamos:

1.º A diversidade linguística é um património da humanidade que deve ser valorizado e protegido.

2.º O respeito por todas as línguas e culturas é fundamental no processo de construção e manutenção do diálogo e da paz no mundo.

3.º Cada pessoa aprende a falar no seio de uma comunidade que lhe dá vida, língua, cultura e identidade.

4.º As diversas línguas e os diversos falares não são só instrumentos de comunicação; são também o meio em que os seres humanos crescem e as culturas se constroem.

5.º Qualquer comunidade linguística tem direito a que a sua língua seja utilizada oficialmente no seu território.

6.º O ensino escolar deve contribuir para prestigiar a língua falada pela comunidade linguística do território.

7.º O conhecimento generalizado de diversas línguas por parte dos cidadãos é um objectivo desejável, porque favorece a empatia e a abertura intelectual, ao mesmo tempo que contribui para um conhecimento profundo da língua própria.

8.º A tradução de textos – particularmente dos grandes textos das diversas culturas – representa um elemento muito importante no necessário processo de maior conhecimento e respeito entre os homens.

9.º Os meios de comunicação são amplificadores privilegiados quando se trata de tornar efectiva a diversidade linguística e de prestigiá-la com competência e rigor.

10.º O direito ao uso e protecção da língua própria deve ser reconhecido pelas Nações Unidas como um dos direitos humanos fundamentais.

Este Manifesto encontra-se traduzido em numerosas línguas e foi ratificado na Assembleia Geral anual do PEN Internacional, que ocorreu em Belgrado no mês de Setembro desse mesmo ano. Como vemos, não se trata apenas de uma defesa da integridade das línguas, na sua qualidade de organismos vivos, que não só palpitam mas fluem como rios. Note-se de passagem que a defesa do método directo de aprendizagem das línguas começou por ir a par da ideia de falar fluentemente uma língua. Num primeiro momento, tal método terá contribuído para libertar muitas pessoas do espartilho gramatical a que obrigava uma aprendizagem obsessivamente fixada em regras.

Se a valorização da comunicabilidade imediata é importante num primeiro momento, porém o caminho para uma aprendizagem aprofundada – sustentada – passa pela interiorização de regras. Isso pode ser feito de numerosas maneiras e sempre com o suporte da leitura em voz alta de autores consagrados, da poesia musicada (sim, sim, vivam essas lyrics que nos acompanham no dia-a-dia, graças às novas tecnologias: e experimente-se cantar ao volante sobre as palavras de um dos nossos autores de culto, também como meio seguro para evitar o cansaço). Ora tal interiorização torna-se numa verdadeira descoberta quando se cria esse tecido, essa ponte imediata, sobretudo num registo de musicalidade. Não o advogavam já os teóricos clássicos da linguagem, de Rousseau a Herder e Humboldt?

O mais profundo prazer com a língua materna, ou com outra língua que se aprende, ousaria afirmá-lo, pode sentir-se quando a sabemos integrada numa família de história e geografia específicas. E essa família é grande e antiga. Dou um exemplo da aprendizagem do alemão, língua cuja dificuldade (mas nenhuma língua é «fácil» como mascar pastilha elástica) é sentida por quem não aprendeu latim e não treinou a suspensão da respiração até chegar, nas orações subordinadas, ao fio condutor da frase e do pensamento: o verbo que exprime a acção. Aqui chegamos, quase sem nos apercebermos, ao domínio da filosofia da linguagem: toda a narrativa conseguida culmina num desfecho que terá entretanto mantido preso o ouvinte ou o leitor.

Foi precisamente Wilhelm von Humboldt (1767-1835) que se opôs ao positivismo nascente que tratava a língua como um produto reversível (ergon) e não como «um ser individual, com carácter e configuração definidos, dotado de uma força que age sobre o ânimo, e que não é destituído da faculdade de se reproduzir» (Introdução ao Agamemnon, 1816, trad. de José Miranda Justo) – ou seja, uma forma de energeia que se vai moldando nesse fluir da aprendizagem e da prática da descoberta que é sempre uma forma de tradução, de auto-recriação, mesmo dentro da mesma língua e sobretudo dentro da língua materna.

Hoje, dia mundial da língua materna, é uma data que podemos celebrar de forma serena, reflectindo, questionando. Quererá, poderá um professor privar os seus alunos de descobrir a familiaridade dessas percePções – e isso porque a terão perceBido nesse entrosamento encantatório de intuição, mnemónica, ritmo e reflexão? Quererá, poderá um tradutor – sobretudo numa edição bilingue de texto – decepar a raiz indo-europeia CT e colocar, numa linha paralela ao inglês a Ct, um mísero ato que nem sequer tem a graça explosiva que ficámos a conhecer do filme de Almodovar? Quem poderá censurar aqueles que porventura, munidos de uma caneta correctora (de preferência para escrever em acetatos), tentam reparar um mal que contudo é remediável, bastando que deputados e governantes tenham a humildade de reconhecer um erro que ficou à vista de todos o mais tardar desde o adiamento da entrada em vigor de um recorte ortográfico (sim, porque «acordo» é pura ficção)? E sabemos que os brasileiros, a fazerem um «acordo», fá-lo-ão uma vez mais à sua maneira, como em 1955?

Em Setembro de 2012, no Congresso do PEN Internacional na Coreia do Sul, os delegados dos 89 Centros presentes aprovaram por unanimidade a resolução redigida pelo Comité de Tradução e Direitos Linguísticos. Devo sublinhar que o Centro português não tomou parte na redacção da mesma – apenas apresentou o problema, sobre o qual os redactores se debruçaram, e traduziu o texto. Este pode ser lido através do link http://proximidade.penclubeportugues.org. Interessante foi, neste contexto, a incredulidade dos presentes – anglófonos, francófonos, hispanófonos e outros – e a veemência com que afirmaram que tal ocorrência seria impossível nos seus países.

Vamos acreditar que estamos num regime totalitário, como um discurso acordista fundamentalista, usando tortamente o programa Lince já em si uma máquina de produzir erros? Tratando a língua como um ergon, alega-se «factos consumados» quando na realidade se joga com receios atávicos, com «fatos com-seus-medos» por parte de pessoas que não gostam «daquilo» mas acham que têm de aplicar «aquilo» no quotidiano, sem saberem os seus direitos constitucionais? Não existirão razões de sobra, expostas por especialistas qualificados, que provam a barbaridade imposta pelo desacordo ortográfico? Não estará aberta a possibilidade de usar meios jurídicos para o travar, mas não seria preferível uma corajosa vontade política que o revogasse?



quinta-feira, 28 de março de 2013

Frei Fernando Ventura chantageia com cisma

L. Lemos

Frei Fernando Ventura e a «teóloga» Teresa Toldy participaram no debate «Um novo Papa, uma nova Igreja?», que decorreu em Lisboa (26 de Março de 2013), organizado por três jornalistas que acompanharam no Vaticano a eleição do novo Papa.

O padre, conhecido «progressista», chantageia com ameaças de cisma na Igreja caso… a Igreja não vá pelos caminhos que ele considera os melhores.
Este padre já tinha sido chamado por uma das televisões para comentar o Conclave e os primeiros dias do pontificado do Papa. Como não podia deixar de ser, os inimigos da Igreja espalhados por aí vão buscar padres deste género para comentadores. Escolhem-nos a dedo.

Diz ele: «O risco é grande de podermos viver um cisma dentro da Igreja.»

E acrescentou ainda que se sente «muito mais desconfortável a falar com algumas realidades de reflexão teológica dentro da Igreja Católica do que com outras experiências religiosas», como o Judaísmo e o Islão.

Portanto, entenda-se, para este padre, o cristianismo não é a verdade, é «uma» «experiência religiosa».

E manifestou o seu desejo e esperança de que o novo Papa possa «furar as barreiras» e que impeça que a seguir a ele venha «alguém que volte aos fumos imperiais, às borlas, às rendas e aos bordados, assim como à exterioridade bacoca e vazia», que estava a «infectar» a Igreja.

Portanto, entenda-se, para este padre, os símbolos de autoridade dos anteriores papas são «fumos imperiais» – e, claro, a seguir o sujeito exigirá o fim da própria autoridade «imperial»

Entenda-se ainda que, para este padre, João Paulo II e Bento XVI, por exemplo, entre muitos, é que andavam a «infectar» a Igreja. Não Fernando Ventura e a sua companhia de «progressistas» – além, claro, dos pedófilos, carreiristas e outras espécies que conhecemos.
No mesmo debate, em que estavam todos de acordo, também participou a dita «teóloga» Teresa Toldy. É que, por cá, dizem-se teólogos os indivíduos licenciados em teologia, os quais ficam desde logo autorizados a largar as suas bacoridades sobre assuntos de teologia. No caso, ainda por cima, a sujeita, além de licenciada, é doutorada na área da Teologia Feminista, calcule-se!

E melhor ainda, ensina para aí numa universidade de papel «Estudos de Género e da Cidadania»!

E ainda melhor, é Presidente da Associação Portuguesa de Teologias Feministas e Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres!

Ora bem, com toda esta «teologia», a sujeita destacou em Francisco «o facto de se referir sempre a si próprio como bispo de Roma», o que é «muito importante em termos teológicos».

A dita «teóloga» elogiou ainda o costume de «cumprimentar as mulheres com um beijo», algo «nunca visto», e apontou reticências quanto ao novo Papa por ser, «segundo dizem, um conservador no que diz respeito à moral sexual».

Fez também votos para que o Papa abra «espaço para o debate» com «as vozes das filhas e filhos críticos da Igreja», sobretudo pessoas que «sofrem formas de exclusão» dentro do catolicismo, como os «divorciados recasados, padres casados, homossexuais, mulheres que desejam participar mais nas decisões» ou que aspiram a «ser ordenadas». (Porque será que a conversa destes «progressistas» vai sempre parar à cama e ao deboche?).

Quer ainda a dita «teóloga» continuar a aplicação do Concílio Vaticano II (1962-1965) numa óptica «progressiva, e não regressiva, como aconteceu nos últimos 30 anos».

E, ao que já estamos habituados, a «progressista» agência Ecclesia, pela pena do «progressista» redactor Rui Jorge Martins, dá grande ênfase às declarações do «progressista» padre Fernando Ventura e da «teóloga» Teresa Toldy, sendo aí qualificada com elevados atributos académicos. Tudo do mesmo, incluindo os seus superiores hierárquicos.



quarta-feira, 27 de março de 2013

Reviravolta


Portugueses estão reféns de governo incompetente e não depositam qualquer esperança na oposição

Paulo Morais
A governação de Passos Coelho falhou em toda a linha. Este já só se aguenta no poder porque não há à vista qualquer alternativa credível.

A equipa de Coelho, Portas e Gaspar, não só não conseguiu tirar o País do beco para onde Sócrates nos tinha atirado, como ainda piorou a situação.

As finanças públicas estão num caos. Há milhares de empresas a fechar, o desemprego é galopante. Os mais pobres passam fome, a classe média extingue-se. A coligação PSD-CDS não reduziu a despesa com as estruturas inúteis do Estado. Não se baixaram sequer as rendas das parcerias, como preconizava o memorando com a troika.

Caminhamos para o abismo e o maior drama é que nem sequer há alternativa eleitoral. O PS é inconsistente. Seguro é feito da mesma massa de Passos e Relvas. Vindo das juventudes partidárias, não têm mundividência nem currículo. Não se lhe conhece uma ideia. Apenas se sabe que domina bem o aparelho socialista. Seguro é, afinal, um clone de Passos.

Restaria, como opção, a hipótese de um governo de iniciativa presidencial, apadrinhado por Cavaco Silva. Mas quais seriam as políticas desse seu executivo? Provavelmente, apenas fazer chegar à governação a ala cavaquista do PSD, constituída por gente habituada a bons empregos do Estado, negócios fáceis e privilégios; e que está ávida de poder.

E quem seria o preferido de Cavaco para primeiro-ministro? Talvez Rui Rio ou Guilherme de Oliveira Martins.

Mas das escolhas de Cavaco há que temer. Recorde-se que foi o actual Presidente que, enquanto líder do PSD, nomeou para secretário-geral Dias Loureiro, um dos principais responsáveis pela maior burla financeira do regime, o BPN. Como primeiro-ministro, designou como líder parlamentar um actual presidiário, Duarte Lima. E já recentemente, para liderar o grupo de sua iniciativa «EPIS – empresários pela inclusão social», escolheu João Rendeiro, o responsável pela fraude do BPP. Não se pode pois confiar em quem erra tão clamorosamente em nomeações de tamanha importância.

Os portugueses estão em fim de linha, reféns de um Governo incompetente, e não depositam qualquer esperança na oposição. Sabem que o Presidente é desastrado. Só com novos protagonistas poderemos sair deste atoleiro. O regime precisa de uma reviravolta.



terça-feira, 26 de março de 2013

Multidão protesta contra
o casamento invertido em Paris


Centenas de milhares de pessoas foram para as ruas contra lei já aprovada na Assembleia e que vai ser discutida no Senado em Abril.
24/03/2013 Esta é a segunda grande manifestação contra o casamento invertido em 2013 na França
Eric Feferberg/AFP
Centenas de milhares de pessoas foram para as ruas de Paris, este domingo, para protestar contra a lei do casamento invertido que, na França, irá permitir não só a união de pessoas do mesmo sexo como a adopção de crianças pelo casal.

A manifestação decorreu durante algumas horas e teve momentos de maior tensão, nos quais a polícia francesa lançou gás lacrimogéneo contra a multidão. Segundo a polícia, cerca de 300.000 pessoas estiveram na rua. A organização contou 1,4 milhões de pessoas.

Esta é a segunda grande manifestação contra o casamento invertido desde o início de 2013. Nas esferas políticas, a lei elaborada pelo Governo do Presidente François Hollande já foi aprovada na Assembleia da República pela maioria de esquerda e irá agora ser discutida no Senado, a partir de 4 de Abril.

Mas nas ruas, o movimento que defende que as crianças devem crescer numa família com um pai e com a mãe não desistiu de travar aquilo que a ministra da Justiça, Christiane Taubira, descreveu como um «mudança civilizacional», cita a Reuters.

O movimento La manif pour tous – que se opõe ao projecto do Governo e é co-liderado pela humorista Frigide Barjot – e outros opositores da lei argumentam que as crianças de um casal do mesmo sexo irão ter problemas sociais e psicológicos.

Esta posição é defendida também pelos líderes religiosos franceses e pela direita. Na manifestação esteve presente Jean-François Copé, presidente da UMP, o principal partido da oposição.



domingo, 24 de março de 2013

Grupos interessados em destruir a Igreja,
adverte autoridade vaticana


O Subsecretário da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Mons. Juan Miguel Ferrer Grenesche, assinalou que existem alguns grupos que tentam destruir a Igreja porque a vêem como um obstáculo que lhes impede de dominar o mundo com legislações «que atentam contra os próprios fundamentos da civilização».

«Hoje temos desafios semelhantes em diversos países do mundo. A globalização trouxe legislações que se difundem nas diferentes nações; e que atentam contra os próprios fundamentos da civilização», advertiu durante a sua visita ao Seminário Maior São José de La Prata (Argentina).

Mons. Ferrer Grenesche disse que estas legislações «apontam à secularização e laicização da sociedade. E há grupos bem interessados em destruir o que se oponha a isso. Por isso, vêem a Igreja como um perigo para o seu plano de dominação. Porque não procura acordos, a meio caminho, entre a verdade e a mentira».

A autoridade vaticana disse que, neste cenário, o trabalho dos sacerdotes e fiéis é «retomar intensamente a nossa identidade (católica), e a conversão interior; a vocação à santidade e à missão. Onde refere a Nova Evangelização».

«Como bem nos ensina isso o Santo Padre (Bento XVI), temos três vias de evangelização: a ordinária, nas nossas comunidades, fiéis que estão na Igreja; a missionária, onde não se conhece a Cristo, e a Nova Evangelização, para todos aqueles que se afastaram ou não vivem, com intensidade, a sua prática cristã», assinalou.

Para isso, deve-se procurar o encontro dos fiéis com Deus e uma ferramenta importante é a liturgia. «Por isso é responsabilidade dos pastores do povo de Deus, como parte do seu ofício de amor, cuidar dela. E isso começa aqui, no Seminário», afirmou.

Mons. Ferrer, que foi reitor do Seminário Maior de Toledo (Espanha), recordou que a liturgia pertence a Deus e não aos homens, e por isso «celebrar os sagrados mistérios é o mais importante na vida de qualquer sacerdote, bispo e do próprio Papa. E, além disso, a forma em que o Santo Padre celebra se constitui no modelo perfeito para toda a Igreja».

«A liturgia é escola de fé e de vida cristã, e deve impregnar toda a vida do Seminário. Nela convergem o Magistério, a Bíblia e os Sacramentos. Por isso, já desde o Seminário, temos que viver o que a Igreja nos pede no dia da nossa Ordenação: ‘Configura a sua vida com o mistério da Cruz do Senhor’», assinalou.