segunda-feira, 1 de abril de 2013

Explicando a obsessão de Obama
em relação a Israel

Daniel Pipes
Porque é que Barack Obama dá tanta atenção a Israel e ao seu conflito com os árabes?

Não se trata apenas do facto de ele passar esta semana, quatro dias, em Israel mas sim a sua procura exagerada em solucionar o conflito israelo-árabe. Desde o seu primeiro dia como Presidente, em 2009, já nomeou George Mitchell como enviado especial para o Próximo Oriente, além de telefonar para os líderes de Israel, Egipto, Jordânia e a Autoridade Palestina. O secretário de imprensa da Casa Branca justificou essa surpreendente diligência, dizendo que Obama usou o seu primeiro dia de trabalho «para comunicar o seu compromisso de colocar em prática o seu empenho na procura da paz israelo-árabe, a partir do início do seu mandato». Alguns dias depois, Obama concedeu a sua primeira entrevista formal como Presidente ao canal de televisão Al-Arabiya.
Hisham Melhem, chefe da sucursal da Al Arabiya
em Washington, obteve a primeira entrevista
 de Obama como presidente.
Não ficou apenas por aí. Em Junho de 2009, Obama anunciou que «chegou a hora de agir», diminuir a tensão entre Israel e os seus vizinhos, declarando «quero ter a sensação de que as coisas estão andando, com algum progresso. Estou convicto que se nos ativéssemos a esse propósito, começando cedo, atingiríamos um progresso substancial ainda este ano».Em Maio de 2011 ele deu sinal de impaciência em relação à diplomacia israelo-árabe: «não podemos dar-nos ao luxo de esperar mais uma, duas ou três décadas para alcançar a paz». Em Janeiro de 2013 o novo secretário de estado, John Kerry, manifestou a mesma disposição, na sua audiência de confirmação: «Precisamos encontrar uma maneira de avançarmos nessa questão».

Porquê essa obsessão em relação ao conflito israelo-árabe, que se encontra na 49.ª posição em fatalidades, desde a Segunda Guerra Mundial? Por conta da estranha convicção da esquerda, raramente exposta abertamente, de que essa questão é a chave, não apenas para os problemas do Próximo Oriente, mas para o mundo.

Para avaliar uma declaração extraordinariamente franca sobre esse ponto de vista, observe os comentários espontâneos e inconvenientes de James L. Jones, então conselheiro de segurança nacional de Obama, em Outubro de 2009. Discursando na J Street, mencionou «procurar a paz entre Israel e seus vizinhos» continuando:

de todos os problemas mundiais enfrentados pela administração, se há um que eu recomendaria ao Presidente que fizesse o que bem entendesse para solucioná-lo, seria a questão do Próximo Oriente. Encontrar uma solução para o problema acarreta repercussões que ecoam, que se alastrariam a todo o mundo e afectariam outros problemas que enfrentamos no globo. O inverso não é verdadeiro. Esse é o epicentro, onde deveríamos concentrar os nossos esforços. E estou feliz que esta administração esteja agindo assim, com entusiasmo e dedicação.
James L. Jones discursando perante a J Street.
Embora tivesse sido proferida um ano antes do levante árabe, vale a pena analisá-la pelo facto dela fornecer um importante insight da visão do mundo na Casa Branca.

Solucionar o conflito israelo-árabe «afectaria outros problemas que enfrentamos no mundo». Jones infere que a continuação do conflito exacerba aqueles problemas. De certa maneira, essa argumentação é estereotipada: é claro, solucionar qualquer conflito melhora o clima geral. Mas atordoa a imaginação pensar que a Casa Branca aguarda que Jerusalém e Palestina resolvam o problema dos refugiados para tratar da agitação curda, ataques islamistas, insurreição civil síria, ambições nucleares iranianas, dificuldades económicas egípcias e a anarquia iemenita.

«O inverso não é verdadeiro». Porque é que a solução de outros problemas não atenuaria o conflito israelo-árabe? Não há provas que sustentem esse disparate ilógico e insensato. Obviamente, derrotar o islamismo, iria realmente ajudar a resolver o conflito israelo-árabe, bem como acabar com a ameaça da bomba iraniana.

«Este é o epicentro». Em 2009, a onda islamista já havia rachado o Próximo Oriente em blocos de guerra fria liderados pelo Irão e pela Arábia Saudita: Israel e os palestinianos não eram então, nem agora, o centro regional. Incontestavelmente, o Irão, a Turquia ou a Arábia Saudita são.

«É lá que deveríamos concentrar os nossos esforços». Aqui chegamos ao cerne da questão: Jones quer o foco nas construções em Jerusalém e na rede eléctrica na Cisjordânia em vez de se concentrar no término do programa nuclear iraniano, em assegurar o fornecimento de petróleo e gás, em lidar com o padrão das ditaduras versus as insurgências islamistas ou com o governo cada vez mais perigoso da Turquia.
Alguns ainda vêem Jerusalém como centro ou epicentro, do mundo.
Pelo menos Jones não fez a declaração antissemita bizarra e limítrofe que Israel é responsável por todos os problemas do Próximo Oriente, mas a sua versão mais amena dessa farsa não é menos idiota. Lamentavelmente, a sua análise encaixa-se na mentalidade anti-sionista que impregna, cada vez mais, a ala esquerda do Partido Democrata.

Para compreender a visita de Obama a Israel, os próximos quatro anos e a diplomacia europeia, tenha em mente essa estranha e deformada lógica.