domingo, 6 de fevereiro de 2011

Porque o Egipto de imediato não se tornará democrático

Daniel Pipes, The Economist

A revista Economist convidou Daniel Pipes a abordar a afirrmação "Dentro de um ano, o Egipto irá tornar-se uma democracia". Eis a resposta de Daniel Pipes.
Duas razões levam-me a afirmar que a República Árabe do Egipto não de irá vangloriar dentro de um ano por possuir um sistema político democrático.
Conforme o logotipo indica, a Irmandade Muçulmana do Egipto não é exactamente uma organização democrática.
Primeiro, democracia é mais do que realizar eleições; supõe o desenvolvimento da sociedade civil, denotando instituições tais como o estado de direito, judiciário independente, partidos políticos, direitos das minorias, associações voluntárias, liberdade de deslocação e de reunião. Democracia é um hábito aprendido, não instintivo, que requer mudanças profundas de atitudes tais como cultura de comedimento, valores, respeito pela diferença de opinião, conceito de oposição leal e sentido de responsabilidade cívica.
Além disso, a necessidade da prática de eleições para que seja aperfeiçoada. Em condições ideais, o país elege ao nível municipal, passando para o nacional, começa com o poder legislativo passando para o executivo. Simultaneamente, a imprensa precisa ter liberdade total, os partidos políticos deverão amadurecer, o parlamento deverá conquistar independência em relação ao executivo e os juízes deverão escolher-se entre si.
Não é possível que tal transformação da sociedade aconteça em meses ou até anos; registos históricos mostram que leva décadas para que seja implementada na sua plenitude. Está fora de questão que um Egipto, com experiência mínima em democracia, possa reunir o número suficiente desses componentes em doze meses a ponto de estabelecer uma ordem democrática completa.
Segundo, qualquer cenário que venha a ocorrer, a democracia não está prestes a ser implementada.
Se Hosni Mubarak continuar no poder, o que é improvável mas possível, ele será mais tirano que nunca. Pelo que demonstram as suas acções nos últimos dias, ele não sairá tranquilamente.
Se as forças armadas se estabelecerem no poder de maneira mais directa do que o faziam nos bastidores desde o golpe de Estado de 1952, Omar Suleiman, o recem-nomeado vice-presidente, aparentemente tornar-se-á presidente. Ele fará mudanças no sistema, eliminando os abusos mais evidentes da era Mubarak, mas fundamentalmente sem oferecer aos egípcios uma voz no regime que os governa. Argélia 1992, onde o governo apoiado pelas forças armadas que reprimem os islamistas, apresenta um precedente.
Se os islamistas chegarem ao poder, irão fomentar a revolução em consonância com a doutrina do Irão de 1979, segundo a qual a crença na soberania de Deus prevalece sobre a participação política das massas. A natureza inerentemente antidemocrática do movimento islamista não deve ser obscurecida pela disposição dos islamistas em usar as eleições para chegar ao poder. Nas palavras prescientes de uma autoridade americana em 1992, os islamistas apresentam um programa de "uma pessoa, um voto, uma vez".
Qualquer que seja o ângulo – abstracto ou específico – os egípcios estão perante uma situação complicada, sem a esperança imediata de escolher seus líderes.



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