João José Brandão Ferreira
A data de 15 de Março de 1961 representa para os portugueses, o início do terrorismo em larga escala, que se abateu sobre a então província de Angola, território português onde Diogo Cão pela primeira vez colocou um padrão, em 1483. Este ataque configurou um verdadeiro genocídio, que em nada fica atrás à gravidade do que ocorreu no atentado às torres gémeas em Nova Iorque.
Os responsáveis por (alguns) genocídios passaram a ser julgados em tribunais internacionais e esses crimes não prescrevem…
Vítimas do massacre de 15 de Março de 1961
Este ataque traiçoeiro, engendrado fora de portas e com apoios vários, deu origem a uma luta de guerrilha e de contra guerrilha que durou 14 anos, estendendo-se à Guiné (1963) e Moçambique (1964). Foi, sem dúvida, pela sua grandiosidade e consequências, a ocorrência mais marcante de todo o século XX da nação lusa.
À Liga dos Combatentes, a que se associou o governo, através do Ministro da Defesa, e a Presidência da República, pela figura do mais alto magistrado político, coube organizar os eventos de modo a não deixar passar os 50 anos da efeméride, no olvido.
Chamou-se às cerimónias uma “Evocação do Esforço da Nação Portuguesa e das suas Forças Armadas na guerra do Ultramar (sublinhados nossos), o que parece uma designação feliz. Dividiram-se os eventos entre uma missa nos Jerónimos; uma cerimónia junto ao monumento dos Combatentes, em Pedrouços e uma sessão solene na Sociedade de Geografia de Lisboa que, em boa hora, se associou ao acto.
À parte o escasso público e deficiente cobertura mediática tudo correu bem.
Tudo, com uma excepção: a homilia, deslocada, incongruente, acre e historicamente falsa, do Bispo D. Januário, que presidiu à Eucaristia.
O Sr. Bispo é bem conhecido, pelo que pensa, diz e faz, logo a responsabilidade do insucesso deve ser partilhada por quem o convidou.
Sua Eminência foi convidado para invocar o esforço da Nação e das Forças Armadas (estas fazem parte daquela), se não concordava com tal não devia ter aceite o encargo.
O impagável Januário que envergonha os católicos combatentes
(e também os não combatentes)
Ao invés disso, resolveu agredir a Nação e as FAs, ao condenar subliminarmente o seu esforço; ao fazer um julgamento político do Estado e lançando sobre todos o anátema da guerra injusta.(e também os não combatentes)
A ele bem se pode aplicar a célebre frase de Jesus no Gólgota: “Pai, perdoa-lhes que eles não sabem o que fazem”.
Não podemos no espaço de umas linhas, analisar toda a penosa homilia que à excepção, talvez, do ministro Santos Silva, já libertou os presentes das penitências da Quaresma. Mas vamos tentar embaciar o brilho de alguns das mais nacaradas pérolas com que S. Ex.ª nos brindou.
Primeiro e simples ponto: a nação portuguesa, melhor ou pior representada politicamente pelo seu estado, foi atacada interna e externamente por meios políticos, diplomáticos, militares e através de violências várias. Todos os indivíduos e povos têm direito à legítima defesa e foi isso que nós todos fizemos: defendemo-nos. A Igreja, aliás, é a primeira a reconhecer esse direito. E o Concílio Vaticano II sempre tão evocado por S. Ex.ª, é bem claro em defender as forças militares, que disso bem se desempenhem (Gaudium et Spes, 79). E quem está do nosso lado é dos nossos; quem está do lado contrário é inimigo; e quem é da nossa família e se passa para o inimigo é traidor. Isto é linear e não oferece qualquer dúvida.
Por isso não se entendem os trocadilhos que o Sr. Bispo fez sobre esta questão, a não ser pela confusão que lhe habita a mente. E esta confusão não é a única: afirmou, por exemplo, que “foi nas matas de África que o governo de Lisboa caiu”, não foi nada, foi por via da subversão, de origem marxista, que se instalou na Metrópole e que o governo de Marcelo Caetano não soube e, ou, quis combater.
Querendo insinuar que a maioria da população ou dos que serviram nas fileiras, estavam na guerra a contragosto, sempre foi dizendo que uns cumpriram por convicção e outros com rebeldia, uns a gosto e outros menos… Bom, Sr. Bispo, desde D. Afonso Henriques que existe o dever militar e nem sempre ele é cumprido com a melhor mente e ninguém são de espírito gosta de ir para a guerra. Mas, às vezes, sabe Sr. Bispo, é preciso. Aliás, o senhor deve perceber estas coisas bem, como tem o dever de obediência canónica, certamente já fez ou disse muitas coisas com que não concordava. Atrevo-me a dizer isto pois já o vi criticar, em público, Sua Santidade, o Papa.
E nem se entende, à face do que disse, como é que se ofereceu para acompanhar as tropas, como capelão, em 1961…
Por outro lado, D. Januário apelou muito à Paz. Está certo, nós devemos apelar á Paz. Mas lembro ao Sr. Bispo que a paz sem justiça não é paz, é iniquidade; que a paz dos cemitérios só interessa aos mortos e que a cobardia ou a recusa à defesa nos leva para a “paz” dos escravos. O “céu”, Excelência, só existe no céu, não na terra. Se a terra é o inferno ou não, deixo aos teólogos decidir…
Por isso exigir a Paz vale tanto como afirmar na Constituição da República que todos nós temos direito à saúde, ao trabalho, à habitação, etc., olhe temos direito a tudo… mas, de facto, temos muito pouco e temos que lutar por isso.
Não se compreende até, que o senhor, como Bispo das FAs e de Segurança, não exige o imediato regresso dos militares que temos espalhados por esse mundo fora a correrem, como Mouzinho dizia, “perigos, fomes e sedes…”
E queira fazer o favor de notar que nenhum deles está a defender as suas fronteiras físicas ou a segurança da população a que pertence. Como, “de facto”, e “de jure”, estiveram as centenas de milhares de jovens portugueses que lutaram na refrega que ora invocamos – como, aliás, muitos mais o tinham feito nos últimos cinco séculos.
Finalmente o senhor bispo veio invocar os exemplos da Igreja, durante o citado conflito. Foi mais uma vez infeliz e amargo.
Começou por louvar a acção dos Bispos de Nampula, Beira e Luanda na sua oposição ao regime. Concedamos-lhe a graça da boa intenção, isto é, de terem pautado a sua actuação pelo melhor que sentiam para o seu rebanho. Só lhe faltou elogiar os padres da Lixa, Felicidade Alves e Fanhais que, de tão bons católicos que eram, rapidamente deixaram o ministério. Saudou ainda os religiosos que ajudavam as populações gentílicas e ignorou, convenientemente todos aqueles que estando em nossa casa, ajudaram a, e à subversão.
Mas o Sr. Bispo sabe tão bem como eu, que a esmagadora maioria da hierarquia, dos padres e religiosos e ainda os capelães (já agora, foi a I República que acabou com a assistência religiosa às tropas…), se mantiveram firmes na defesa da causa nacional portuguesa. Porque é que nem sequer lhes fez referência?
E, Sr. D. Januário, convenhamos que a Santa Sé, sobretudo durante o ministério de Paulo VI, não se portou bem para com Portugal. Afinal, nós é que somos a “Nação Fidelíssima”, não eram os movimentos marxistas que lutavam contra nós…
A Santa Sé, indo nos mitos dos ventos da História, deixando de acreditar que o governo de Lisboa perseverasse, passou a balancear e a fazer jogo duplo para tentar manter a influência em todos os tabuleiros. Foi pragmático mas não foi bonito nem cristão. Aliás, nada disto era novo para nós: durante muitas décadas, por via da Propaganda Fidei e outras, tentaram retirar-nos o Padroado do Oriente, cujo magistério exercemos, diligentemente, durante séculos.
Por tudo isto, Sr. Bispo D. Januário, tanto nós como o Altíssimo temos muito que lhe perdoar. E estamos dispostos a fazê-lo: Ele porque a sua misericórdia é infinita, e nós por dever de cristandade. O problema é que V.Exª se tem mostrado relapso ao arrependimento.
Parafraseando uma frase assassina com que o Prof. Salazar brindou D. António, Bispo da Invicta e vosso alter ego, “possui demasiada cultura para a inteligência que tem”, também se poderá dizer que V. Ex.ª tem demasiados conceitos na cabeça e demasiado errados, para aquilo que consegue processar.
1 comentário:
Sr. Tenente-Coronel,
simplesmente brilhante.
Parabéns pelo seu esforço em defesa da Pátria. Há que denunciar, para que justiça se faça, todos os criminosos que têm enxovalhado os nossos antepassados no cumprimento do supremo sacrifício. E ainda, aqueles que levam as almas à perdição e que, continuamente, crucificam Cristo Rei.
PAX
Rui Machado
TCOR
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