Heduíno Gomes
1 – Os resultados da abrilada estão à vista. O bando de inconscientes e irresponsáveis que se deixou manipular pelo núcleo organizador do MFA deu também provas de oportunismo corporativo e de comodismo impróprio de militares e deu cabo não apenas de um país mas de vários. É caso para dizer que, «desde o Minho a Timor», todos estamos a pagar essas taras apresentadas como actos heróicos.
2 – Decididamente, os abrilistas não querem reconhecer o óbito do amor das suas vidas e andam por aí fazer boca-a-boca na esperança de perpetuá-lo. Desde o Cavaco ao Vasco Lourenço, todos os zes-ninguém de um Portugal a sério o louvam e o lavam. Sim, o que seriam esses tipos na vida, que carreiras políticas e profissionais teriam feito, quantos tostõezinhos teriam arrecadado, quem teria ouvido falar deles se não fora a abrilada?
3 – A SIC Notícias esmerou-se na lavagem do evento. A dita estação apresentou na tarde do heróico dia, em enjoativa repetição, umas carpideiras a falar das torturas que sofreram na PIDE, de vez em quando com a historiadora do actual regime Irene Pimentel a dar umas achegas documentais, igualmente com ar de sofredora. Mesmo descontando o romanceamento das suas aventuras, não há dúvida de que a PIDE os terá tratado mal. Até aí vamos. Mas o grande descaramento dessas carpideiras e da historiadora Pimentel é apresentarem-se como vítimas, a lutar pela liberdade, quando afinal estavam a lutar por instituir em Portugal uma polícia política muito mais torturadora do que a PIDE, com gulag e tudo. É mentira? Não seria pela ditadura «do proletariado» que lutavam? Então, falando dessas lágrimas dos tabefes que levaram, são parvos ou estão a tomar-nos por parvos? Onde está a honestidade desta gente? Se eram comunistas, apologistas da tal ditadura «do proletariado», como esperavam que a sociedaade se defendesse deles? Com beijinhos?
4 – A SIC Notícias apresentou igualmente umas entrevistas a alguns capitães do 25A. E aí aparece um a dizer que os capitães estavam fartos de fazer a guerra. Pela boca morre o peixe. Então o que dizer desses meninos que foram para oficiais de carreira e depois quando chega o momento de dar o corpo ao manifesto (para isso foram pagos, incluindo na sua formação), arranjam divergências políticas para fugir com o dito à seringa? Para que servirá uma nação gastar dinheiro com a tropa se ela só quer viver em paz, com sopas e descanso? Sim, que chamar-lhes? Bando de oportunistas? Chulos da Nação? Ou pretenderão ser democratas e patriotas?
5 – Neste dia de festa, até não faltou o inteligente Passos Coelho a fazer uma referência contra a União Nacional para justificar a sua cegueira política de herói… que nem chega a ser. Pobre Portugal.
(Do Cavaco, com o seu ar decadente, nem vale a pena falar. Do Sampaio, tinha saudades das suas lições de moral. E do Eanes, apenas que me relembrou a sua enorme capacidade em formar advérbios de modo a partir do adjectivo. Eu já estava esquecido dessa sua rara virtude.)
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