quarta-feira, 11 de maio de 2011

Acerca do filme sobre Portugal dedicado aos finlandeses

Heduíno Gomes
O filme sobre Portugal e dedicado aos finlandeses é globalmente positivo pois diz várias coisas que muito honram Portugal, puxando os Portugueses para cima. É bom que haja portugueses que tenham a coragem de falar assim de Portugal, coisa que, com a abrilada, caiu em desuso. Contudo, o filme apresenta alguns erros, que devemos assinalar.
A primeira nota é que parece que Cascais é o centro histórico ou a capital de Portugal. Esta visão de Portugal por parte dos meninos (ou senhores, como se queira) da linha não é exactamente a verdadeira. Esta visão cascaiscêntrica reflecte um pouco o que hoje se considera elite portuguesa e vai pela política. O facto de a iniciativa ser da Câmara de Cascais também não justifica a visão localista.
O filme induz em erro sobre o significado de hispânico. Saberá o guionista que D. João II se opôs a que aquele Estado centro-castelhano se chamasse Espanha? E depois o filme alimenta o mito estatístico de que a maioria dos americanos pensa que Portugal é uma província de Espanha, como se fosse ciência provada e, mesmo que fosse, como se a ignorância geográfica tivesse algum valor.
Finalmente, o filme embarca no mito Sousa Mendes (o Aristides, não o seu irmão gémeo César, Ministro dos Negócios Estrangeiros do primeiro Governo de Salazar). Efectivamente, o filme apresenta o Aristides como herói salvador de judeus, quando o verdadeiro salvador dos judeus foi o próprio Salazar. O cônsul não passou de um irresponsável que colocou em perigo não apenas a segurança e independência de Portugal perante uma real ameaça alemã como também a segurança quer dos refugiados que ele supostamente teria salvo, quer das centenas de milhar a quem Portugal permitiu escapar da loucura nacional-socialista. De notar ainda que, segundo informações dos serviços ingleses (está documentado), o «benemérito» Aristides vendia generosamente os passaportes aos judeus. E o filme – que vai na onda das ideias fabricadas pela mitologia anti-salazarista – até promove o «herói» a embaixador quando foi apenas cônsul. Aliás, não foi só dessa vez que Aristides Sousa Mendes se comportou como irresponsável e indisciplinado. Não foi a primeira vez que foi alvo de um processo disciplinar por parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Já o fora no tempo da I República. Enfim.
Que se façam muitos filmes patrióticos, mas, por favor, com mais rigor…



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