Heduíno Gomes
No programa Quadratura do Círculo, da SIC Notícias, dedicado ao fado (17.11.2011), o «historiador» Pacheco brindou-nos com mais uma «verdade histórica»: o compositor Alain Oulman teria sido maoísta e da FAP (Frente de Acção Popular).
De facto, Alain Oulman foi detido pela PIDE em 1966 e, como cidadão estrangeiro, expulso de Portugal.
Por que razão foi detido Alain Oulman?
Conheci o Alain Oulman em Paris, em 1970. Ele dirigia na Place de l’Opéra a editora Calmann Lévy, herdada do avô, segundo me contou. Uma vez, numa esplanada ali ao lado, almoçando nós um croque monsieur, descreveu-me ele a razão pela qual fora detido, razão essa que aliás eu já conhecia. Até tínhamos uma coisa em comum: fôramos denunciados à PIDE pelo mesmo indivíduo, embora com acusações diferentes. Eis os factos.
O Alain, de uma família abastada e chique estabelecida em Portugal, era amigo do João Pulido Valente, igualmente desse meio social mas com a faceta libertina. O Pulido Valente, tal como Francisco Martins Rodrigues, encontrava-se na clandestinidade em 1965 a dirigir a tal louca FAP e o Comité Marxista-Leninista Português, ao qual eu pertencia. O Pulido Valente contactou o amigo Alain e pediu-lhe emprestada uma casa que este tinha nos arredores de Lisboa, e isto apenas para o Martins Rodrigues se encontrar com a mulher, que não estava na clandestinidade com ele. Tendo sido preso e bufado na PIDE, o Martins Rodrigues denunciou tudo quanto sabia e todos que conhecia. Então contou à PIDE onde se encontrava com a mulher e que a casa era do Alain. E assim simplesmente o inocente Alain – e simpático para o amigo João – se vê envolvido numa história de «maoístas», da louca FAP e até de terrorismo…
Alain Oulman de esquerda? Sim, caviar – isto dito com amizade. Maoísta, mesmo caviar? Nem em sonhos!
O «historiador» coloca-se assim na onda daquela esquerda hábil em criar mitos «heróicos» contra o chamado «fascismo». Da Marmeleira do Pacheco a Baleizão do Ruben de Carvalho (igualmente especialista na invenção de heróis, nomeadamente do Alain) vai apenas o transiberiano.
Por mais esta se vê como o Pacheco fabrica a história e se fabricam «resistentes» ao «fascismo».
Por mais esta se vê como o Pacheco fabrica a história e se fabricam «resistentes» ao «fascismo».
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