terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Guerra civil ou guerra entre o bem e o mal?

João j. Brandão Ferreira
O historial das guerras civis em Portugal
não é lá grande coisa.
Parece (do que há registo) que a primeira desavença séria se deu no reinado do senhor rei D. Afonso II, um conflito de poder entre ele e as irmãs; depois houve desavenças graves no reinado de D. Sancho II, que acabou deposto e substituído por seu irmão Afonso que veio a ser o III; por duas vezes as hostes de D. Dinis e do seu fogoso filho, o futuro Afonso IV, se defrontaram, valendo a rainha Isabel, que veio a ganhar a Santidade.

A crise de 1383/1385 foi de uma gravidade extrema e partiu o Reino ao meio, ganhando (felizmente) a vertente nacional; podíamos ter acabado logo aí.

A família real e as casas nobres do país desentenderam-se após a morte do douto e infeliz rei D. Duarte, o que só veio a ser sanado em Alfarrobeira, em 1449, com a infausta morte do infante D. Pedro, o «das sete partidas».

O sangue correu, novamente, no reinado de D. João II, até este conseguir debelar as duas conspirações feitas contra ele por elementos da alta nobreza, onde também entrou a mãozinha castelhana.

Em 1580 desentendemo-nos de vez, o que foi aproveitado pelo sagaz Filipe, que chamou um figo à corrupção de grande parte do alto clero e nobreza e zás: comprou-nos, conquistou-nos e herdou-nos! É o que acontece às árvores que se deixam apodrecer por não serem podadas a tempo: morrem.

Lá nos reabilitámos com a «Restauração», mas…

A situação piorou muito no século XIX, após as invasões francesas, a Corte no Rio de Janeiro e as influências jacobinas da Revolução Francesa, à mistura com o domínio político/económico Britânico. Em resultado de tudo isto, e da perda do Brasil, a família real cindiu-se, idem para o exército e, por arrastamento, toda a Nação.

A coisa foi feia de se ver, com o eclodir da pior guerra civil, entre 1828 e 1834, logo seguida de duas outras, a «Maria da Fonte» e a «Patuleia», em 1846/1847.

Nunca mais recuperámos disto até hoje, mesmo tendo em conta o período do «Estado Novo».

A transição da Monarquia para a República causou outro grave afrontamento e, o que se lhe seguiu, não sendo uma guerra civil clássica, configurou uma calamidade conflitual terrível que durou 16 anos!

Mesmo no período da Ditadura Militar e no da vigência da Constituição de 1933, ocorreram cerca de uma dezena de golpes militares, com apoios vários, terminando com o de 25/4/1974, em consequência do qual o país esteve novamente à beira da guerra civil, travada «in extremis», em 25/11/1975.

Enquanto isto, pelos antigos territórios ultramarinos deflagraram conflitos que vieram a causar mais de um milhão de mortos. Nunca saberemos exactamente quantos.

Tudo o que se apontou configura uma situação de muito pouco «juízo», ao longo dos tempos…
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Depois de 1976 liberalizou-se, desregrou-se e relativou–se (quando não se subverteu), tudo: as leis, as regras, os valores, os princípios, os deveres, os direitos, as contas, etc. Tudo.

E como se foi gastando à tripa forra e dando subsídios a quase todos, andava toda a gente contentinha. Pois haverá alguma cidade cercada que resista a um burro carregado de ouro?

Ou posto de um modo mais modernaço, quem vai (isto é, ia) passar férias a Cancun, mesmo sendo a cartão de crédito, insurge-se contra o quê?

Em síntese, finalmente houve um país que pôs em prática, na sua plenitude, os «slogans» do «Quartier Latin» no recuado Maio de 68…

Bom, chegámos à beira de mais um precipício.

Ainda não se contam espingardas, mas há uma quantidade enorme de «democratas» que, via «net», aspiram cortar cabeças uns aos outros. Mas enquanto for só na net

Sem embargo uma enorme guerra civil já começou há muitos anos e aparece estampada no papel, no som e na imagem da comunicação social, à frente de todos. E os indígenas – que somos todos nós – à força da agressão constante já entendem as coisas como «normais», por habituais.

Ora o que parece ser um facto incontroverso é que assistir a um qualquer telejornal é um puro exercício de masoquismo.

Deixemos as desgraças que vão por esse mundo fora e concentremo-nos nas nossas.

Comecemos pela política, pois os actores da política, pela sua permanência e exemplo marcam o quotidiano da «Polis».

O espectáculo é de guerra civil, permanente, partidária e entre órgãos de soberania, com grande falta de elevação, ataques pessoais, «bota abaixo» e desrespeito por tudo e por todos!

O bloqueamento da Justiça, o comportamento de muitos dos seus agentes e o tratamento mediático deste sector fundamental da sociedade é simplesmente lamentável; a indisciplina nas escolas, as mudanças constantes e experiências delirantes, do sistema de ensino, é o maior «calcanhar de Aquiles» da Nação; o desregramento financeiro, em praticamente todos os sectores do Estado, é aterrador; o comportamento dos sindicatos extravasa tudo o que é de bom senso e devia ser permitido; a sobranceria, privilégios e falta de controlo do sistema financeiro é um vector de desequilíbrio e injustiça permanente; as Forças Armadas são destruídas e ignoradas implacavelmente e as Forças de Segurança são minadas nos seus fundamentos.

A Diplomacia não tem a menor acção na defesa dos objectivos nacionais permanentes e temporários de Portugal, pois os sucessivos governos deixaram de ter política seja para o que for, a não ser para se manterem no Poder e andar de mão estendida para Bruxelas (agora, Berlim).

Com um pano de fundo destes (muito aligeirado, aliás) a sociedade sofre-lhe as consequências e desagrega-se.

Com todos os «ismos» na pantalha da escrita, da imagem e do som, correndo transversalmente todas as artes e espectáculos, o pessoal exorbita: os casos de corrupção ou suspeitas de, vertidas nos noticiários, acompanhados dos crimes mais repugnantes e do aumento constante da criminalidade, que as tiradas demagógicas não iludem; o envolvimento cada vez maior de agentes das Forças de Segurança e, até, de investigação criminal, em actos criminosos; suspeitas de pedofilia na Igreja e fora dela; o número de vigarices, desde os clubes de futebol às autarquias, etc., que se vão descobrindo, são de molde a desmoralizar o melhor candidato a santo!

Ou seja, o país corrompeu-se e desmoralizou-se profundamente e, agora, anda tudo de cabeça perdida sem saber o que fazer.

E tudo numa correria infrene debaixo de um dilúvio mediático que impede qualquer aferição e reflexão séria sobre tudo o que se passa…

Razão tinha o Papa Bento XVI, quando logo no início do seu pontificado, veio dizer que a prioridade número um, para a Igreja, devia ser o combate ao «Relativismo Moral».

Pois este parece ser o cerne de tudo isto, o que não é mais do que a continuação da eterna luta entre o Bem e o Mal.

E as rupturas podem começar a surgir em catadupa.

Um exemplo para terminar:

Um jovem professor de português colocou aos seus alunos, de 13 e 14 anos, o seguinte tema para uma composição: «acabas de fazer 13 anos e decides pôr fim à tua vida. A tua decisão é irrevogável e resolves explicar as razões da angústia que te atormenta. No texto que redigires refere os acontecimentos da tua vida que causaram esse sentimento».

Que pedagogia ou desequilíbrio levará um «professor» a escolher um tema destes numa turma de adolescentes?

O Bem triunfará do Mal?

Que nos diz a Razão e a Esperança?


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