terça-feira, 16 de julho de 2013

O ministro da Defesa admoestou o CEMFA!


João J. Brandão Ferreira

(extractos)

O General Chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA), no discurso que fez durante o 61.º aniversário daquele Ramo;

1.º – Proferiu algumas frases que provocaram uma resposta algo desabrida no arvorado a Ministro da Defesa (MDN) Aguiar (traço) Branco.

Que terá dito então, o CEMFA de tão grave? Apenas isto: «Que os cortes estão a degradar a capacidade de resposta do Ramo»; «que no espaço de dois anos a FA foi obrigada a cortar toda a despesa em 36%»; «face à evolução dos orçamentos atribuídos desde 2010, temos vindo a reduzir significativamente as horas de voo, a prontidão das aeronaves, as acções de formação e qualificação e a manutenção das infraestruturas»; «a capacidade de resposta pode ser afectada a curto prazo», e mais meia dúzia de frases semelhantes.

O político laranja que ficará como um dos piores ministros da defesa, desta atormentada e manca III República replicou que «as vulnerabilidades das FA não devem ser discutidas em público» e «que acreditava ser da cultura de todos os chefes e da boa estratégia militar que as vulnerabilidades das FA e da Defesa Nacional, não devem ser ecoadas no palco da discussão pública».

E acrescentou: «que as fragilidades são combatidas diariamente pelo esforço de uma gestão mais eficiente, pela competente definição de prioridades, pelo rigoroso planeamento da acção e pela indução de reformas que conduzam a um aumento de capacidade operacional num quadro muito exigente na aplicação de recursos públicos».

É preciso ter lata!

Vejamos:

O discurso do CEMFA foi educado, institucional e comedido. Não discutiu nada (apenas apresentou factos), não revelou qualquer segredo militar nem nenhuma debilidade que não esteja à vista de todos.

Ou seja o Comandante da FA limitou-se a constatar uma realidade que põe em causa o cumprimento das missões pelas quais é responsável. A única coisa que fez foi dar-lhe uma articulação lógica de modo a poder concluir que «urge, portanto, senhor ministro, encontrar soluções que permitam minorar esta situação».

Não direi que não seja preferível manter determinados problemas relativos às FA no recato dos gabinetes – apesar de, tudo o que na sociedade que agora temos, tenha sido dessacralizado sem piedade (sendo a culpa dos políticos) – mas isso é para ser feito quando há sentido de Estado e as pessoas são sérias de procedimentos.

Tal tem sido a norma por parte das sucessivas chefias militares, sem que da parte política tenha havido qualquer correspondência.

Sem embargo «essa cultura» como o ministro lhe chama, não pode é ser aproveitada para fazerem das chefias militares e dos militares gato-sapato, e usarem os constrangimentos da «condição militar» para manterem as tropas silenciadas, ao mesmo tempo que destroem a seu bel-prazer toda a Instituição Militar.

Em simultâneo não fazem a defesa institucional da mesma – como lhes compete – a não ser em orações de circunstância, já gastas, ao mesmo tempo que passam, continuamente, para a opinião pública a ideia de que a tropa é muita, é cara, é privilegiada, não se justifica e, «last but not the least», «também tem que participar no esforço financeiro do País» – deixando subentender que o não querem fazer – quando estamos há mais de 20 anos a dar para este peditório enquanto o resto do País folgava e ia a banhos a Cancun!

Deve ainda sublinhar-se que as FA enquanto tal, não contribuíram em nada, repito, em nada, para o descalabro financeiro do Estado, que é da exclusiva responsabilidade da classe política!

Mais ainda, os sucessivos MDN têm vindo, faz décadas, a espoliar os orçamentos das FA em favor dos desmandos e desregramento de outros serviços públicos! Desminta se for capaz!

O Sr. Ministro devia era estar calado e com a cara pintada de preto!

E como é que tem o desplante de atirar para cima do CEMFA com o ferrete da melhor gestão, quando não há, nem de perto nem de longe, qualquer organismo do Estado que se administre melhor que as FA, em geral, e com a FA em particular?

E isto note-se, quando o Poder Político tem vindo a esvaziar constantemente as competências da hierarquia militar, não tem permitido um mínimo de factores estáveis de planeamento e destabiliza reiteradamente a IM com anúncios de reorganizações!

Sabe que mais Sr. Ministro, apesar de nem se poder equivaler a um «infra».

2.º – O seu castigo é o de se rebater sobre o plano horizontal e tentar desviar o eixo da Terra, aí umas 50 vezes. A última com palminhas atrás das costas…

«Você, Traço», pertence a uma classe política que desgraçou o País – apesar de terem todas as condições para o governarem em «velocidade de cruzeiro» – e vem dizer ao Chefe da Força Aérea para definir melhor as prioridades e ser rigoroso no planeamento da acção?

Será que não se vê ao espelho, ou o mesmo saiu-lhe numa tombola da antiga feira popular?

Acaso o gabinete jurídico do Estado-Maior devia ter ido pedir pareceres a escritórios de advogados, similares ao seu? Porventura o Director de Finanças devia ter apostado numa «Swap»? Ou o Comandante da Logística, para asfaltar as pistas, devia ter recorrido a uma parceria público-privada? Sim, diga lá?

Sabe qual era a prioridade que deviam definir? Esta: os senhores nunca mais alapavam o cóccix no «Falcon 50», até pagarem o que devem, o que teria já levado a muita poupança e á economia da última viagem que fez a Moçambique, tendo o desplante de fazer vir a fragata que combate a pirataria na Somália, ao porto de Pemba, para a visitar e tirar umas fotos com os jornalistas!

Finalmente, Sr. Ministro, gosta de desafios? Ei-lo que fica: porque não corta os 36% que o CEMFA referiu, ao orçamento do seu gabinete e melhora a gestão, redefinindo as prioridades? Aceita?

Dir-me-á, ainda, o que pretende que as chefias digam em público: mentiras? Que está tudo bem (outra mentira)? Que agradeçam ao governo os grandes melhoramentos conseguidos (idem)? Ou porventura se congratulem com as reformas vitalícias (e secretas) dos políticos?

O que já não é nada óbvio é que um desqualificado para a função, que nem recruta foi, tivesse o desplante de admoestar o Comandante Aéreo Nacional, publicamente e perante formatura das suas tropas.





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