Luís Lemos
D. Manuel Clemente foi entrevistado na SIC Notícias pelo conhecido venenoso António José Teixeira (14.12.2013). As perguntas do venenoso do antro do Balsemão visavam sempre arrancar a D. Manuel Clemente respostas do género das que seriam dadas por Bento Domingues ou outro parecido. Mas D. Manuel Clemente não procedeu assim. Contudo, certas das suas respostas merecem algumas observações.
Solução para a crise: sol na eira e chuva no nabal
Sobre a crise económica que Portugal vive, D. Manuel Clemente, tal Robin dos Bosques, sugeriu que se deveria tirar mais aos ricos para distribuir pelos pobres. E, por outro lado, em resposta a uma pergunta saca-rolhas do venenoso, mostrou saber que os grandes, se são apertados, fogem para outros países, gerando cá mais desemprego.
Ora bem, a solução – pensamos nós – está em D. Manuel Clemente pedir a São Pedro para resolver a contradição: pôr sol na eira e chuva no nabal.
E porque não uma salada de políticas «cristãs»?
Dizia D. Manuel Clemente, sem se comprometer, que o cristianismo inspira e depois os próprios católicos encontrarão a fórmula política concreta para praticar o bem.
Deduzimos nós que poderá ser deste jeito.
O Alfredo, que é católico, é CDS, partido que até já se disse democrata-cristão. Mas, independentemente ser CDS, o Alfredo é um liberal. O liberalismo foi a fórmula política concreta para praticar o bem inspirado no cristianismo.
O Antunes, que é católico, é PSD, partido que até tem nas suas hostes vários católicos. Mas, independentemente ser PSD, o Alfredo é um liberal. O liberalismo foi a fórmula política concreta para praticar o bem inspirado no cristianismo.
O Ambrósio, que é católico, é PS, partido que até tem um ramo católico. Mas, independentemente ser PS, o Ambrósio é um socialista. O colectivismo foi a fórmula política concreta para praticar o bem inspirado no cristianismo.
E ficamos por aqui, pois poderíamos ir mais longe.
Afinal, que será isto mais do que transportar para a política cristã o subjectivismo?
E quanto à relação causa-efeito, também tem que se lhe diga: os princípios são os mesmos mas os resultados podem ser opostos.
(Limitamo-nos a demonstrar pelo absurdo o absurdo da tese em questão, e desde já nos antecipamos a declarar que a solução não é a Igreja formar um partido da Igreja. Aliás, dirigido por certos padres, seria pior a emenda do que o soneto. Na realidade, deveriam e poderiam de facto ajudar. Mas, como são na realidade, se não atrapalharem já ajudam).
Meias-palavras
D. Manuel Clemente defendeu a vida desde a concepção até à morte natural e opôs-se ao aborto. Mas fê-lo por meias-palavras, gaguejou, não quis contradizer frontalmente as teses implícitas nas perguntas do entrevistador.
D. Manuel Clemente opôs-se à «ideologia do género». Mas fê-lo por meias-palavras, sem clarificar a sua natureza anticristã. Perdeu uma boa ocasião para esclarecer algum do seu povo, que bem precisa. Aliás, já no texto da Conferência Episcopal Portuguesa sobre o assunto é deixada uma porta aberta ao feminismo dourado, que vem a dar na mesma coisa dessa «ideologia do género».
D. Manuel Clemente já recebeu o Prémio Pessoa das mãos do inimigo. Por este andar, irá receber outros prémios e honrarias. Assentam bem a um pastor católico.
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