João J. Brandão Ferreira
Deve começar por dizer-se que não foi propriamente a doutrina liberal que desconstruiu o País, mas sim as ideologias e o desentendimento das forças que o enformaram e dominaram. E, também, porque o País não estava preparado para o aceitar.
É necessário elaborar um pouco sobre isto.
A organização que está na base da implantação do liberalismo (e, mais tarde, da República), é a maçonaria.
A maçonaria, conhecida como «especulativa» surge, oficialmente, com a criação da grande loja de Londres, em 1717. Rapidamente se expande por toda a Europa ocidental e, logo de seguida, para o «novo mundo», as américas.
Aparentemente, em Portugal, a 1.ª loja é estabelecida, em Lisboa, em 1734, mas apenas constituída por estrangeiros.
A acção e ideais da maçonaria entraram, rapidamente, em rota de colisão com a Igreja, tendo o Papa Clemente XII, através da encíclica «In Eminentis», de 1738, tornado incompatível o ser católico e mação, sob pena de excomunhão. Esta norma mantem-se em vigor.
Um dos grandes defensores da maçonaria, entre nós, foi Sebastião José de Carvalho e Melo, o todo-poderoso ministro de El-Rei D. José I, que terá sido iniciado, enquanto embaixador na Corte austríaca.
Não é, seguramente, por acaso que o marquês tem a estátua mais imponente, existente em todo o País, que encima a avenida chamada da «Liberdade», encarnando ele a figura do «déspota esclarecido»….
Por via da influência que a Igreja tinha, em Portugal, nessa época, a maçonaria não teve grande expressão, sendo duramente combatida durante a «Viradeira» movimento que se seguiu à coroação de D. Maria I.
São as invasões francesas que implantam, definitivamente, as ideias maçónicas em Portugal, não só porque elas estavam ligadas à revolução francesa e eram transportadas na ponta das baionetas dos exércitos napoleónicos, mas também, por via dos oficiais ingleses que por cá foram ficando.
Foi o general Gomes Freire de Andrade, que combatera ao serviço do imperador francês, como 2.º comandante da Legião Portuguesa e, mais tarde grão-mestre da maçonaria, que foi tido como o cabecilha de um golpe de estado, em 1817, destinado a expulsar a «regência inglesa» de Beresford e obrigar ao regresso da família real, que se retirara para o Rio de Janeiro, em 1807, a fim de não ser capturada por Junot.
Esta tentativa de golpe de estado marca a 1.ª intervenção dos militares na vida política nacional que se prolongou até à última, com o fim do Conselho da Revolução, em 1982.
Contudo, a revolução rebentou novamente no Porto, em 1820, e desta vez teve êxito.
Esta revolução marca a contemporaneidade portuguesa e foi com ela que a maçonaria, na prática, até 1926, tomou conta e marcou os destinos do nosso País.
Da Revolução de 1820, ou Vintista resultou:
— O regresso da Corte a Lisboa;
— A implantação do liberalismo durante 90 anos;
— A independência brasileira – também ela fundada na acção da maçonaria (onde pontuava o notável José Bonifácio de Andrade e Silva);
— A primeira constituição, em 1822;
— A divisão da família real, do exército e armada real e de toda a sociedade, entre adeptos do novo regime e do anterior.
Tudo isto veio a originar uma tremenda agitação política e social que fez o País passar mais de 100 anos em guerra civil, a «quente e a frio», que só estabilizou com a institucionalização do Estado Novo, em 1933.
De facto após a pior guerra civil que em Portugal já houve, e que terminou com a Convenção de Évora-Monte, de 1834, o País estava literalmente destruído e dilacerado.
Sem embargo a agitação continuou: o País partiu-se em «partidos» e a maçonaria dividiu-se em grupos e duas orientações distintas: a francesa e a inglesa.
Estes «Orientes» eram consubstanciados por pessoas de carne e osso, que foram deixando «descendentes».
A maçonaria «francesa» teve um dos seus pilares em Manuel Inácio Martins Pamplona Corte Real, 1.º Conde de Subserra e, depois, no Marechal Duque de Saldanha, João Carlos de Saldanha Oliveira e Daun; na parte «inglesa brilhava D. Pedro de Sousa Holstein, 1.º Duque de Palmela.
Antecederam-lhes pela parte francesa, o 1.º Conde da Barca, António de Araújo e Azevedo e D. Rodrigo de Sousa Coutinho, 1.º Conde de Linhares, pela inglesa.
Os sucessivos desentendimentos vieram a resultar em mais duas guerras civis, a Maria da Fonte, em 1846 e a Patuleia, no ano seguinte.
O País estava a saque!
Nem a relativa estabilidade política e social, e alguma recuperação económica fizeram serenar os ânimos.
Seguiu-se a questão do regime, e não se descansou enquanto não se deitou a monarquia abaixo. Tal ocorreu a 5 de Outubro de 1910.
Com a República o desnorte e os ódios político-sociais atingiram o cúmulo do estupor. Em tudo isto esteve subjacente a agitação vivida nas lojas maçónicas, entretanto ampliadas pela acção bombista da Carbonária.
A situação só começou a serenar depois de 1926, não pelo golpe de estado ocorrido a 28 de Maio – o qual pelo caminho que trilhava iria reverter tudo à antiga, mas porque «por inclinação das rodas celestes», como diria Zurara – foi trazido para a ribalta um homem que conseguiu pôr ordem nas finanças e no caos, e senso nas mentes.
Chamava-se António de Oliveira Salazar.
No cômputo geral desse terrível século, Portugal viu-se despojado da sua parcela territorial e económica mais importante, o Brasil; perdeu a coesão política e social; arranjou uma questão religiosa gravíssima; falhou a revolução industrial e chegou ao 1.º quartel do século XX em banca rota financeira, em desespero moral, com bombas nas ruas e completamente colonizado em termos culturais pela França, e economicamente, pela Inglaterra.
Portugal era um país desqualificado tanto interna como internacionalmente.
Estas as consequências da 2.ª desconstrução história levada a cabo por elites desnacionalizadas num povo crente e impreparado.
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A institucionalização do Estado Novo constituiu um interlúdio de quase 50 anos, em que se conseguiu descolonizar a Nação dos ingleses e franceses; se combateu vitoriosamente a criminosa ideologia comunista e se manteve fascismos vários e o capital apátrida em respeito e contido, nas fronteiras.
O País foi sendo governado sem pressas, em termos de sustentabilidade e mais-valias futuras. Devolveu-se ao povo o orgulho de ser português e voltou-se a ter arrimo de carácter de antanho e a recuperar matrizes e esteios fundamentais da Nação.
Pode-se até considerar que o corporativismo e a representação das chamadas «corporações», na Câmara Corporativa, constituíu uma espécie de regresso à representatividade das populações e ofícios, nas antigas Cortes Gerais.
Mas tudo se esfumou no depois de 25 de Abril de 1974, quando a Nação minada por uma guerra subversiva, que se estendeu à Metrópole e ao Terreiro do Paço, deixou de querer lutar na defesa do seu património e das suas gentes espalhadas por quatro continentes e outros tantos oceanos.
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