quarta-feira, 26 de março de 2014

Os problemas dos Portugueses


António Marques Bessa

A qualquer observador descomprometido parece que o grave problema em Portugal anda à volta dos GAY. Outros dirão que roda sobre os imigrantes que vêm de todas as partes do Mundo, deletérios, mal falando a língua, doentes e pedintes. Outros ainda dirão que a questão reside nos ciganos que distribuem droga, têm Mercedes e recebem grandes subsídios, arrancados à custa de ameaças às serventuárias do Serviço Social, que vão no meio deles fazer inquéritos às suas necessidades para atribuir uns euritos aqui e ali. Alguns, observando a onda de pobreza encapotada em Portugal, dirão que o problema está aí: caem no meio da miséria mais sórdida (fome) famílias inteiras enquanto outros se banqueteiam com o dinheiro público e outros ainda recebem os mais diversos subsídios para fazer nada de nada. Dentro dos problemas não existentes como sérios, podem ainda destacar-se mais alguns: o racismo que parece galopar nos bairros sociais, o crime violento com morte e balada para um funeral, os políticos com assento na Assembleia que parecem baralhados e com uma aptidão violenta para os negócios mais ou menos legais, a organização dos advogados apostada em dificultar a vida a Lei.

Torna-se premente perceber que estes não são problemas verdadeiros e que derivam do eco que lhes dão os meios de comunicação de massa, a começar pela televisão. A acreditar nela, agora, os portugueses estariam interessados em oferecer perfumes caros e refinados, carros de alta cilindrada e mais humildemente comer bacalhau do Lidl. Ninguém acredita nisso. Porque é que têm de acreditar no resto dos outros problemas?

Quais são os problemas verdadeiros?

Criar riqueza pela produção. Este é um problema que não foi resolvido nunca desde Dom Manuel até aos dias de hoje. As conquistas, as descobertas, os ciclos da Índia, do Brasil e da África, tornaram esse um problema para resolver agora. E agora não se resolve porque toda a gente entende que entrou no ciclo prateado da Europa. Eles que paguem – entenda-se. Eles que resolvam. É o Deus dará. Mas não vai dar e aí reside a falência do Estado de dez milhões de patetas alegres sem terem razão para andar alegres.

Resolver o défice. Este problema também é antigo e só conheceu um intervalo de solução quando os emigrantes mandavam divisas para Lisboa e o Estado tinha controlado as despesas ao mínimo. Vê-se hoje o contrário: o défice galopa, isto é, não anda a trote. Todos sacam da mesma teta da República e ela já está inerme, magríssima, e tem pouco leite.

Educar e Civilizar o Povão. Talvez uma tarefa impossível de qualificação de gente inqualificável que vemos nos aeroportos, nas cidades onde chegamos e que nos envergonham quando vemos que continuam uns pacóvios como saíram daqui. Não vale virar a cara para o lado e dizer que somos assim. Porcos, mal-educados, sebentos, barulhentos, ruidosos, exibicionistas, palermas e inoportunos. Basta de gente do Terceiro Mundo, como se disse no 25 de Abril que éramos. Talvez fosse bom um programa educativo sério, sem tantas burocracias estúpidas, sem tantos papéis a preencher, sem tanta má educação consentida, sem tanta estimulação à preguiça, a má formatação da mente e a tolerância do intolerável. Os professores são a ponte que conserva o saber desde o tempo de Platão. Que querem fazer sem eles? Uma burocracia que vai ensinar em lugar deles? A burocracia só pode estupidificar, criar regras dentro de regras e o Povão não gosta de regras, como se vê no Futebol.

Qualificar o Território que habitamos. É extremamente doloroso ver o que se faz por todo o lado, destruindo a paisagem, construindo em leitos de rios, em terrenos de terra deslizante, em baixios. Ordenamento do território? Aonde existiu? Valorização da paisagem e da geografia humana, mas a sério, não aos bochechos – é do que se precisa. Vigiar para que não se destrua a floresta e as praias e não se polua à vontade. Não é que as florestas estão cheias de casas de «cantoneiro» abandonadas? Essa vigilância e cuidado não poderia ser transferida para quem recebe subsídios para não fazer nada?

Criar Ciência. Isso faz-se em poucas universidades e centros. Porém, o estímulo é para os atletas de Circo que ganham milhões. Os cientistas que podem salvar vidas e mudar o modo de vida terão algumas centenas. Então para quê tanto discurso sobre a Ciência se não há dinheiro para a pagar? Se tudo não passa de uma farsa falsificada em relatórios à Fundação da Ciência e Tecnologia, que também entra na dança do faz de conta, metendo para isso cientistas estrangeiros nas avaliações de percursos científicos. E quem são eles? Na verdade, encontrei-me com alguns destes em diversos sítios. Não emito opinião, mas não os convidava para almoçar comigo. Fazer Ciência é silencioso, tem custos altos, e é por isso que os Nobel europeus costumam sair de uma fundação alemã, antigamente denominada Kaiser Guilherme II. E agora, Max Planck. Sem alardes ou foguetes, ganham o que há a ganhar.

As questões ociosas. São as que as que ocupam os políticos, porque eles são e constituem um entrave a que se resolvam os problemas reais do país que existe. A Assembleia não é o País, é um país a fazer de conta para 10 milhões. São Paulo, Nova Iorque e muitas outras cidades do Mundo têm a mesma população. Alguém creditará que terão tanta gente sem fazer nada a não ser a «nobre» arte de praticar a política de todas as maneiras ínvias, querendo que nós pensemos que o país-cidade é uma potência muito respeitada «lá fora»? Quem foi «lá fora», desde novo até agora, sabe que não nos ligam nada. E essa é que é a realidade, quer se goste, quer se embrulhe em açúcar para este Natal.





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