Pedro Braz Teixeira
Mais grave do que isso, o choque petrolífero de
Outubro de 1973 ajudou a pôr termo a um período de ouro de crescimento, que
seria seguido pela grande inflação dos anos 70. A redução do potencial de
crescimento que se lhe seguiu, por toda a Europa, travou a forte emigração
portuguesa dos anos 60, que tinha sido uma importante válvula de escape da
nossa economia, bem como uma muito significativa fonte de rendimentos. Pode-se
tentar despejar sobre o choque petrolífero de 1973 muitos problemas de que a
economia portuguesa veio a sofrer posteriormente, mas isso não é inteiramente
honesto.
Um choque externo nunca é apenas um choque externo,
já que temos sempre que considerar a resposta nacional. Só nos casos em que a
reacção nacional tenha sido no sentido de o minimizar poderemos falar sobretudo
num choque externo.
O que fizemos em relação àquele choque petrolífero
foi no sentido de o minimizar? Não, pelo contrário, maximizámo-lo e isso foi
consequência directa do 25 de Abril. Um país que é um grande importador de
petróleo tem de responder a uma subida dos preços desta matéria-prima com uma
desvalorização, uma redução dos salários reais e contracção da procura interna.
Como a política de «escudo forte» era um aspecto
muito valorizado do Estado Novo, os governos do novo regime tiveram um enorme
receio de desvalorizar, com medo de que surgissem saudades do anterior regime.
Por isso a desvalorização do escudo foi adiada da forma mais irresponsável
possível.
Quanto aos salários reais, não só não desceram como
subiram fortemente. Basta recordar a criação do salário mínimo, em 1974, que
foi fixado a um nível tão estratosférico que nunca voltou a ser igualado, em
termos reais, até hoje, apesar dos significativos progressos económicos
registados desde então.
Outra consequência economicamente devastadora da
Revolução dos Cravos foram as nacionalizações, directas e indirectas, decididas
em Março de 1975. Por mais que se critiquem os principais grupos económicos da
altura, pelos benefícios decorrentes do condicionamento industrial, é
impossível pretender que as empresas públicas decorrentes daquelas
nacionalizações, mastodônticas e proverbialmente ineficientes, pudessem
constituir uma alternativa ao dinamismo da iniciativa privada.
Aliás, as nacionalizações e a perseguição aos
dirigentes levaram à fuga de Portugal de alguns dos nossos melhores quadros,
uma fuga de cérebros grave num país com fortes debilidades na formação. O
discurso anticapital também gerou uma relevante fuga de capitais, que a
legislação que a proibia não conseguiu impedir. Por tudo isto, não é
minimamente credível argumentar que o abrandamento da economia se deveu ao
choque petrolífero e não ao 25 de Abril.
O fim da guerra colonial também trouxe um enorme
dividendo de paz, já que as Forças Armadas consumiam 40% do orçamento. Esta
folga terá permitido reforçar o Estado social, então muito incipiente.
A forma como a descolonização foi conduzida pelo
MFA, a favor da URSS e não das populações das ex-colónias, gerou também um
êxodo em massa de retornados, cuja integração foi um autêntico milagre, sem os
conflitos que outros fenómenos semelhantes, mas muito menos expressivos,
envolveram noutros países, nomeadamente em França.
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