Agostino Nobile
Porque era o sistema económico italiano tão odiado
pelos poderes do sistema Atlântico? Por ser o mais democrático, o mais lógico
e, em última análise, o mais cristão, pois baseava-se na distribuição
equitativa de rendas e riquezas pelas várias classes sociais. Após a Segunda
Guerra Mundial, a Itália era um país totalmente destruído, não havia pão e a
maioria das infra-estruturas tinham sido devastadas. Graças ao governo liderado
pelo partido católico Democrazia Cristiana, nos anos 60-70 a Itália
tornou-se a quarta maior economia do mundo e a lira, a moeda mais estável. A
eficiência do povo italiano e do sistema económico adoptado pelo governo de
inspiração católica, no entanto, causou alguma preocupação para os poderes que
lideravam o sistema económico norte-americano e norte-europeu, chamado de
«Atlântico».
Este sistema era baseado na competição não regulada
entre as empresas e as nações, no pressuposto de que tudo seria ajustado pelo
mercado. Na verdade, não foi assim que aconteceu, porque o sistema Atlântico,
exportado para todo o Ocidente, ao fim e ao cabo criou a crise actual.
Incompetência? Parece que sim. O sistema Atlântico é baseado na
desregulamentação, ou seja, numa economia que se opõe às regras e onde o Estado
(os governos) só pode assistir como um mero espectador. Esta fórmula falhou por
duas razões: a falta de ética económica criou monstros financeiros; o mercado,
ao contrário de como o achavam os defensores do sistema Atlântico, não só não
tem «ajustado» a financia, mas tornou-se uma selva financeira. O
resultado temo-lo à frente dos olhos: aumentos de impostos e
empobrecimento dos cidadãos para encher os cofres dos bancos. Mas afinal,
porque é que os poderes da finança Atlântica se preocuparam tanto com o sucesso
italiano a ponto de o definir como «milagre económico»? (como se fosse um
milagre e não uma escolha económica vencedora). Tal explica-o Ettore Bernabei
no livro-entrevista A Itália do milagre e do futuro (livro já
mencionado no meu artigo anterior). «Nos círculos ocidentais, desde há muito
tempo, não se suportava mais que a Itália, um país liderado por um partido de
inspiração cristã, se tornasse o quarto entre os sete países mais
industrializados do mundo. Esse dado estatístico fez parecer quanto eram
infundadas as acusações, de matriz protestante-maçónica, desde há várias
décadas dirigidas aos católicos de serem incapazes de assegurar o bem-estar e
liberdade dos seus povos. O «milagre italiano» tinha porém desmentido todos
esses preconceitos».
Porque era o sistema económico italiano tão odiado
pelos poderes do sistema Atlântico? Por ser o mais democrático, o mais lógico
e, em última análise, o mais cristão, pois baseava-se na distribuição
equitativa de rendas e riquezas pelas várias classes sociais. O modelo
económico italiano inspirava-se na Doutrina Social da Igreja, que tem as suas
raízes na encíclica Rerum Novarum (15 de Maio de 1891 –
portanto, 26 anos antes da Revolução Bolchevique) do Papa Leão XIII. «O
sucessor de Pedro – escreve-se na introdução do livro – deseja direccionar o
pensamento dos católicos na economia (...) para defendê-los das ideologias
ateístas que circulam na Europa». Assim o sucesso da política económica
italiana teve que ser eliminado de todas as maneiras, caso contrário teria sido
capaz de expandir-se noutros países, retirando o poder económico preponderante
ao sistema Atlântico. Como muitas vezes acontece na história, o primeiro passo
era destruir internamente o equilíbrio social. A quinta coluna, ou os idiotas
úteis, dependendo do ponto de vista de cada um, foram os meios de comunicação e
os intelectuais de esquerda, que nos anos 60/70 deram início a uma campanha
difamatória contra o governo democrata-cristão. Desde os anos 70, as Brigadas
Vermelhas ensanguentaram a Itália durante 25 anos. O seu trabalho criminoso,
que teve como objectivo o abate dos democratas-cristãos, terminou com o
sequestro e assassinato do presidente da Democrazia Cristiana Aldo Moro. Os
meios de comunicação descreveram as Brigadas Vermelhas, de matriz
marxista-leninista, mais ou menos como heróis que lutavam a favor do
proletariado. Na verdade, os juízes que processaram os líderes das Brigadas
Vermelhas não tinham quaisquer dúvidas. As Brigada Vermelhas, como sublinha
Bernabei, eram «conduzidas pela agência Hyperion, que tinha a sua sede em
Paris, sob a fachada de uma escola de línguas, agindo em conexão com a
organização terrorista alemã da R.A.F.A agência Hyperion (...) sendo-lhes
fornecidas armas, provenientes principalmente do Líbano. O objectivo principal
do terrorismo em Itália – continua Bernabei – foi sempre o de criar
dificuldades à Igreja Católica».
Em 2007, o norte-americano Steve Pieczenic no
livro-entrevista Matámos Aldo Moro. A Verdadeira História
do sequestro de Moro, Ed.Cooper, afirmou: «Eu esperei 30 anos para
revelar esta história. Espero que isso venha a ser útil. Sinto muito pela morte
de Aldo Moro, peço perdão à sua família e lamento muito por ele. Acho que eu e
Moro iríamos ficar de acordo, mas tivemos que instrumentalizar as Brigadas
Vermelhas para matá-lo».
Até hoje as palavras do senhor Pieczenic não foram
desmentidas. Moro foi assassinado por interesses políticos, porque os
americanos e os soviéticos eram contrários à abertura que Moro deu ao partido
comunista italiano, para formar um governo de coligação, definido como
«compromisso histórico». Aos motivos económicos somavam-se assim os
geopolíticos. Bernabei, que conhece os documentos dos processos, sublinha: «Foi
calculado que um brigadista vermelho ganhava vários milhões de liras de salário
por mês (uns milhões de liras corresponde a 1 000 euros actuais), além de
alojamento e alimentação, com muitos extras para a ‘dolce vita’».
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