terça-feira, 19 de agosto de 2014


81 maçons «atacam»

cargos autárquicos em 43 municípios


Rui Pedro Antunes, Diário de Notícias, 17 de Setembro de 2013

Eleições. As duas maiores obediências maçónicas nacionais têm mais candidatos do que várias forças políticas inscritas no Tribunal Constitucional. Há 24 «candidatos irmãos» à presidência de autarquias, 20 a vereadores, 31 à assembleia municipal e 6 a juntas de freguesia.

Por muito que os grão-mestres insistam que a maçonaria não se intromete na política, o que é certo é que há forças políticas com menos candidatos às próximas eleições autárquicas do que as duas principais obediências nacionais. São mais de 80 os maçons que vão tentar conquistar cargos autárquicos em 43 autarquias um pouco por todo o País (incluindo ilhas) entre candidatos a presidentes de câmara, vereadores, deputados municipais e presidentes de junta. Há 24 maçons que concorrem mesmo à presidência de autarquias maioritariamente em listas do PS e do PSD, mas também como independentes. Existem igualmente casos em que «irmãos» da mesma loja se enfrentam em listas contrárias dos partidos do «centrão» e favoritas à vitória. Ou seja: PS e PSD podem não ter representantes na gestão da autarquia, mas é quase garantido que a loja maçónica local terá.

A solidariedade maçónica até já fez uma baixa, e logo ao mais alto nível, durante o período eleitoral: levou à demissão do presidente do Conselho Nacional de Eleições (CNE). Tudo começou com a tentativa de impugnação da candidatura de Francisco Moita Flores – que pertence à Loja Acácia do Grande Oriente Lusitano (GOL) – à Câmara Municipal de Oeiras. Os seus opositores alegavam que havia atingido o limite de mandatos e o caso foi – como muitos outros – parar a tribunal.

Até aqui tudo normal, não fosse Moita Flores contratar Nuno Godinho de Matos – advogado de profissão e «irmão» do GOL – para o defender, tendo este confidenciado ao DN que aceitou o pedido sem pensar duas vezes. O problema é que Godinho de Matos (Loja Liberdade e Justiça) era também presidente da CNE e, como não podia deixar de representar o seu amigo e cliente, demitiu-se da presidência da CNE. Godinho de Matos sofreu críticas do seu partido (o PS) por defender e pôr-se em xeque pelo candidato do PSD. Porém, a solidariedade maçónica e a amizade falaram mais forte. Ao DN, Godinho de Matos admite que «o facto de sermos os dois irmãos da maçonaria e sermos amigos há muitos anos pesou muito na minha decisão de o defender». Mas prontamente acrescenta: «A principal razão que me levou a representar Moita Flores foi ver que ele tinha carradas de razão e que alguém estava a querer ganhar eleições na secretaria. Achei incrível e reagi epidermicamente. Decidi defendê-lo sem pensar no problema ético que daí advinha.»

A candidatura à Câmara de Oeiras é, aliás, um campo de batalha entre as duas principais obediências nacionais, o GOL e a Grande Loja Legal de Portugal (GLLP). Candidato do PSD, Moita Flores é do GOL e tem trocado tentativas de impugnação com a candidatura de Paulo Vistas (Isaltino Oeiras Mais à Frente), o delfim de Isaltino Morais, que é figura de proa da maçonaria regular e, embora detido, chegou ser indicado candidato à Assembleia Municipal (foi travado pelo Constitucional). A entourage da candidatura de Paulo Vistas conta até com um antigo adversário de Isaltino e «irmão» da GLLP: Emanuel Martins. O agora administrador de uma empresa municipal em Oeiras foi candidato do PS contra Isaltino, mas aliou-se ao adversário (e «irmão»), tendo perdido confiança dos socialistas.

O PS não fica, porém, sem maçons nas suas fileiras, equilibrando as contas com dois conceituados membros do GOL na disputa pela autarquia. O candidato do PS à Assembleia Municipal de Oeiras é nada mais nada menos que o antigo secretário-geral da UGT João Proença (Loja Montanha), e o mandatário da candidatura é o ex-ministro e figura de destaque do GOL Rui Pereira (Loja Luís Nunes de Almeida).

Estas guerras de forças vão-se repetindo por diversas câmaras. Estão em causa autarquias e lugares importantes. Se ganhassem a contenda, os maçons conseguiriam ter 24 presidentes de câmara, 20 vereadores (incluindo cinco «vices») e 31 deputados municipais (incluindo 10 presidentes). Só em Lisboa, os maçons do GOL e da GLLP tentam conquistar 12 lugares.

Viseu é um dos exemplos em que há dois «irmãos» da mesma loja em candidaturas distintas. Tanto o candidato do PSD à presidência da autarquia, Almeida Henriques, como o candidato do PS à Assembleia Municipal, Ribeiro de Carvalho pertencem à Alberto Sampaio, a loja maçónica do GOL instalada em terras de Viriato.

Na Figueira da Foz, a história das batalhas maçónicas repete-se. O candidato do PSD, Miguel Almeida (Loja Madrugada), enfrenta nas urnas Carlos Monteiro (Loja Coerência), que é o actual vice-presidente da autarquia e volta a ser o n.° 2 na lista do PS à autarquia. Os socialistas contam ainda com João Moura Portugal, que pertence à GLLP, e José Guedes Correia, do GOL, como candidatos a vereadores.


Além de Lisboa, existem ainda outras grandes autarquias «atacadas» por maçons. No Porto, Ricardo Almeida surge bem posicionado como candidato a vereador na lista de Luís Filipe Menezes, contando com o apoio do «irmão» de obediência e mandatário da candidatura: o ex-líder da JSD Pedro Duarte. Carlos Carreiras, em Cascais, João Nunes em Loures (GOL, Loja liberdade e Justiça), Manuel Machado, em Coimbra (GOL, Loja a Revolta), Almeida Henriques, em Viseu, Moita Flores, em Oeiras, Júlio Meirinhos (vice-grão-mestre da GLLP), em Bragança, Elísio Summavielle (GOL, Loja Sympatia e União), em Mafra, ou Fernando Anastácio (GOL, Loja Utopia) em Albufeira mostram que os candidatos da maçonaria concorrem em autarquias grandes e que, muitos deles, são os mais bem posicionados para vencer.

«Irmãos» concorrem a lugares na capital

São pelo menos 12 os maçons que concorrem a lugares autárquicos em Lisboa, que sempre teve uma tradição de ter «irmãos» na gestão. A cidade, que até já teve dois presidentes de câmara maçons (Aquilino Ribeiro Machado e João Soares), terá provavelmente agora pelo menos um vereador bem colocado. As candidaturas dos dois maiores partidos – António Costa, pelo PS, e Fernando Seara, pelo PSD – têm, curiosamente, maçons na mesma posição: o sexto lugar, que é perfeitamente elegível, pelo menos para quem vencer as eleições de 29 de Setembro.

Do lado da candidatura laranja trata-se de Cal Gonçalves, da Loja Prometeu (GLLP), que até já esteve na autarquia como chefe de gabinete de Carmona Rodrigues, que, embora «profano» (não-maçon), recebeu nessa altura uma distinção maçónica da maçonaria regular. Já do lado do PS, o «candidato da maçonaria» é Duarte Cordeiro, que, ao contrário da esmagadora maioria dos socialistas maçons, não é do GOL, pois pertence à mesma obediência de Cal Gonçalves: a GLLP.

Duarte Cordeiro é, aliás, da mesma loja de Rui Paulo Figueiredo, que é o venerável mestre da loja e vice-presidente da obediência, sendo também o primeiro nome do PS na lista à Assembleia Municipal de Lisboa (AML). Rui Paulo Figueiredo só fica atrás de Helena Roseta na lista à AML – primeira da lista que entra na «quota» da plataforma de cidadãos que a arquitecta dirige – tendo a companhia dos «irmãos» Diogo Campos Rodrigues, Manuel Lage, Miguel Teixeira, Ricardo Saldanha e José Manuel Rosa do Egipto, este último como suplente. O PSD aqui perde na contenda tendo apenas Rodrigo Gonçalves da Silva como candidato à AML, embora posicionado num relevante quarto lugar.


Há ainda quatro candidatos a presidentes de juntas de freguesia do concelho de Lisboa que são maçons. O social-democrata Nuno Jordão (Loja Nova Luz, da GLLP) é candidato a presidente da junta de freguesia da Ajuda. Por sua vez os golistas Miguel Coelho (Loja Liberdade e Cidadania) e Dimas Pestana (Loja Século XXI), candidatam-se às juntas de Santa Maria Maior e Santo António, respectivamente.

Também do Grande Oriente Lusitano é o músico Carlos Mendes, que, embora não seja candidato, é o mandatário da candidatura do Bloco de Esquerda à Câmara de Lisboa, liderada por um dos líderes do partido: João Semedo. Independentemente de quem vença a corrida aos órgãos autárquicos na capital, é certo que haverá maçons nas sessões da assembleia e do executivo.






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