domingo, 25 de janeiro de 2015


Um padre como deve ser

Ele não gostava mesmo de espanhóis...


Numa povoação pequena, mesmo junto à fronteira com Espanha, a Igreja fica cheia para a missa das dez com portugueses, espanhóis, o presidente da Junta, etc.

O padre começa o sermão:

— Irmãos estamos hoje aqui reunidos para falar dos Fariseus... Aquele povo desgraçado como esses espanhóis que estão aqui...

O maior tumulto tomou conta da Igreja. Os espanhóis ofenderam o padre, houve porrada no adro. O presidente da Junta levou as mãos à cabeça e, indignado, foi falar com o padre na sacristia:

— Sr. padre, vá devagar, os espanhóis vêm para este lado, gastam nas lojas, nos restaurantes, trazem euros para Portugal. Não faça mais provocações.

Durante a semana a conversa entre todos era a mesma: o padre e o sermão do domingo. Aquele zum-zum todo foi fazendo com que as pessoas ficassem curiosas e a querer saber mais sobre o que tinha acontecido.

Finalmente, chega o domingo. O presidente da Junta vai à sacristia e fala com o padre:

— Sr. padre, o senhor lembra-se da nossa conversa? Por favor, não arranje nenhum problema hoje, ok? Vem a missa e o padre começa o sermão:

— Irmãos... Estamos aqui reunidos, hoje, para falar de uma pessoa da Bíblia: Maria Madalena. Aquela mulher, prostituta que tentou Jesus, como essas espanholas que estão aqui...

Caldeirada: pancadaria na Igreja, partiram velas nos corredores, chapadas, socos e alguns internamentos no hospital mais próximo que, por acaso, ficava em Espanha. O presidente da Junta foi novamente ter com o padre:

— Sr. padre, eu não lhe disse para ir com mais calma? Se o senhor não amansar, vou escrever uma carta ao bispo e pedir a sua retirada imediata.

Naquela semana, as conversas sobre o sucedido abundavam mais. Ninguém iria perder a missa do próximo domingo, nem que a vaca tossisse...

Na manhã de domingo, o presidente da Junta entra na sacristia com o graduado da GNR e adverte o padre: Sr. padre, não provoque os espanhóis desta vez, senão acuso-o de provocação de tumulto e vai dentro!

A Igreja estava a abarrotar. Quase não se conseguia respirar de tanta gente.

Começa o sermão:

— Irmãos... Estamos aqui reunidos hoje, para falar do momento mais importante da vida de Jesus: a Santa Ceia.

(O presidente da Junta respirou aliviado...)

— Jesus, naquele momento, disse aos apóstolos: esta noite, um de vocês me trairá.

Então João pergunta:

— Mestre, sou eu?

E Jesus responde:

— Não, João, não serás tu.

Pedro pergunta:

— Mestre, sou eu?

E Jesus responde:

— Não, Pedro, não serás tu.

Então Judas pergunta:

— Mestre, soy  yo ?




















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