quinta-feira, 12 de novembro de 2015
Diz-me com quem andas...
José António Saraiva, Sol, 9 de Novembro de 2015
Há vários Partidos Socialistas – como há vários Partidos Sociais Democratas e vários Cê-Dê-Esse...
O PS de Soares era um, o de Sampaio era outro, o de Guterres outro ainda, o de Sócrates também – e o de António Costa idem.
No tempo de Guterres, o PS – que se reclamava da «terceira via» – era um partido situado ao centro, rejeitando quaisquer entendimentos com o PCP.
Lembro-me de conversar com Guterres sobre este assunto na Versalhes, quando ele ainda estava na oposição; à minha pergunta sobre por que não fazia uma frente de esquerda com o PCP para ganhar as eleições, ele rejeitou vigorosamente a ideia, dizendo que isso seria fatal para o PS.
Nessa altura o PS era dirigido por pessoas dialogantes ao centro, que consideravam o Partido Comunista um partido antidemocrático.
No tempo de Sócrates as coisas mudaram.
Não ideologicamente, pois o PS continuou rigorosamente ao centro.
Aliás, Sócrates sempre elogiou Guterres, chegando a dizer-me que era «a pessoa mais inteligente» que ele conhecia.
A grande mudança no PS foi ao nível das pessoas que passaram a rodear o líder.
Armando Vara, José e Paulo Penedos, Rui Pedro Soares, Vítor Escária, etc., criaram um núcleo à volta de Sócrates que rapidamente estabeleceu relações de cumplicidade com empresários e banqueiros, facilitando os negócios.
Havia também uns ideólogos, como Augusto Santos Silva e Silva Pereira, mas o núcleo que verdadeiramente decidia era o outro, como é possível constatar pelas conversas telefónicas.
Aliás, Santos Silva ou Silva Pereira não deviam saber metade do que era discutido no círculo próximo do líder.
Agora, com a subida de António Costa ao poder, as pessoas voltaram a mudar no PS.
Já não são os moderados e dialogantes do tempo de Guterres.
Já não são os negociantes duvidosos do tempo de Sócrates.
São uns trauliteiros que não respeitam algumas regras elementares.
É inadmissível que António Costa não tenha estado na posse do novo Governo.
Para lá da guerra das palavras, há uma coisa que se chama «urbanidade» e regular relacionamento institucional.
As pessoas que hoje rodeiam Costa transmitem uma imagem que não se coaduna com a de um partido moderado.
Vejam-se as recorrentes tiradas de Carlos César, o presidente do partido, e comparem-se com o que dizia Almeida Santos ou mesmo Maria de Belém.
Veja-se a linguagem terrorista usada por João Galamba ou Capoulas Santos, e compare-se com a dos dirigentes do tempo de Guterres.
Vejam-se as intervenções de Ferro Rodrigues, que mesmo na posse como segunda figura do Estado não foi capaz de evitar uma postura agressiva e rezingona, totalmente contrária ao espírito da função, com indiretas ao Presidente da República.
Vejam-se as caras de todos à saída das reuniões com o Presidente da República: as expressões de António Costa, Carlos César, Ana Catarina Mendes, Ferro Rodrigues…
Friso mais soturno era impossível.
Não foi por acaso que um certo tipo de pessoas rodeou Guterres, outro tipo rodeou Sócrates e outro ainda rodeia Costa.
António Costa é o espelho daquelas pessoas que o rodeiam – ou vice-versa.
Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.
O grupo que acompanha Costa não engana ninguém.
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