sexta-feira, 2 de julho de 2010

Caso PT: não têm pátria


Heduíno Gomes


Que falta nesta cidade? ................................. Verdade
Que mais por sua desonra ................ ............ Honra
Falta mais que se lhe ponha .......................... Vergonha.
                          O demo a viver se exponha,
                          por mais que a fama a exalta,
                          numa cidade, onde falta
                          Verdade, Honra, Vergonha.
Quem a pôs neste socrócio? ........................ Negócio.
Quem causa tal perdição? ........................... Ambição
E o maior desta loucura? ............................. Usura.
                                        Gregório de Matos (1636-1695), Epílogos



Não são portugueses nem espanhóis, nem italianos nem abexins.

Uns são ideologistas liberalóides, perfeitos alienados de manuais abstractos onde o mercado é um deus.

Outros são tecnocratistas imbecis, passo o pleonasmo, que não vislumbram além do teclado da máquina de calcular.
Outros estão cegos do lucro especulativo, vendendo-se por um punhado de euros.
E outros estão a soldo.

Invocam o espectro do proteccionismo – que todos os outros estados, camuflada ou abertamente, praticam.
Invocam a liberdade do mercado – que nenhum outro estado realmente pratica, que nenhum estado moderno e nacional pode praticar perante a concorrência global.
Invocam as regras da União Europeia – que nem a Espanha nem nenhum outro respeita nos concursos públicos.
Invocam que negócio não é política, não é defesa nacional, não é interesse nacional – pois claro, por isso mesmo é que certas áreas devem ser reserva exclusiva do Estado e noutras, não sendo reserva exclusiva, o Estado tem de estar fortemente presente.
Invocam «alternativas» «geniais» à aplicação do direito e obrigação do Estado português – ridículas, demagogia, areia para os olhos.
Invocam que as empresas públicas são albergue de gente de mau porte – e acham que a solução para esse problema está em atirar fora o bebé com a água do banho.

Afinal, quando uns banqueiros, no momento da primeira oferta castelhana, falavam ou insinuavam «patriotismo», era só para Castela subir o preço da traição. A complementar, temos uma direcção de um PSD – que conta com a participação desses banqueiros nas despesas da próxima campanha eleitoral – a tomar uma «inteligente» posição de fundo: na pessoa do Coelho e do Relvas, eventualmente os seus elementos mais desajeitados (adjectivo extremamente benévolo), a dizer que não, que sim, antes pelo contrário. Um Coelho que, perante todas estas evidências, tudo pretende privatizar, incluindo a Caixa Geral de Depósitos, o único instrumento que resta ao Estado para apoiar a economia nacional.

Eles não têm pátria.

Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável



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