Crónica moral em jeito de comentário político
N.A.
Quando «nuestro» Primeiro-Ministro (PM) tentou assassinar a língua de Cervantes dizendo que, finalmente, tinha encontrado um parceiro para o tango, os comentadores políticos pensaram que se referia ao novo líder da oposição. Mas não é com Passos Coelho que José Sócrates quer ensaiar passos de dança, porque tem um muito melhor comparsa para o seu tango da tanga a que nos reduziu: o Presidente da República (PR). PM e PR fazem um casalinho perfeito: um diz mata e o outro esfola; um quer uma nova lei e o outro logo a promulga; um lança uma nova medida fracturante e o outro logo a sanciona com a sua suprema autoridade.
Estou em crer que, quem percorrer os jardins do palácio presidencial, certamente encontrará modernas inscrições rupestres, feitas à navalha, no tronco das árvores, com dizeres do género «Aníbal ama Zé», ou talvez apenas a primeira e a última letras do alfabeto, envolvidas por um coração trespassado pela inflamada seta de Cupido. E outro tanto se poderá certamente ver nos jardins da residência oficial de São Bento, onde o canivete do actual inquilino seguramente já imortalizou a sua romântica relação com o PR, com expressões como «Sócrates loves Silva», ou coisa que o valha, mas certamente em inglês técnico, em mau inglês técnico.É verdade que, às vezes, há tensões entre Belém e São Bento, mas mais não são do que arrufos de namorados, tempestades de verão ou nuvens passageiras que toldam por instantes a amorosa relação, mas que nunca a comprometem, até porque o PR e o PM estão unidos, há já quase um lustro, por um casamento político em regime de comunhão de males. Não separe a consciência o que a conveniência uniu.
Por isso, não estranha que, à revelia das suas invisíveis convicções, o PR se tenha disponibilizado tão prontamente para conceder ao seu querido PM o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ainda que, para tal, em vez da bênção nupcial, tenha incorrido na muito justa maldição patriarcal. É certa, porém, a lua-de-mel nas paradisíacas paragens madeirenses, onde o califa local, esquecido já das suas verrinosas críticas ao Senhor Silva e ao Senhor Pinto de Sousa, já se ofereceu para abençoar a casta união política que tanto favorece o seu atlântico feudo. Diga-se de passagem que, quem conta com a bênção do tal omnipotente magarefe insular, não precisa para nada da graça do omnipotente Criador.
Se por detrás de um grande homem, há sempre uma grande mulher, por detrás de um homem pequenino, como é, sem dúvida, o nosso PM, há sempre um homenzinho minúsculo, como é cada vez mais o nosso quase inexistente PR. É por isso que, no nosso Portugal dos pequeninos, a dupla PR-PM está para durar, mesmo apesar dos muitos escândalos deste último e as indignidades do primeiro, de que a menor certamente não terá sido a descortesia de, dois dias depois de despedir o Santo Padre, o contradizer com a promulgação da lei do dito «casamento homossexual».
E o orangotango? – oiço bradar o leitor indignado, com carradas de razão. Bem, o orangotango é o eleitor, se porventura insistir em dar o seu aval a esta macacada, digna por sinal da mais selvagem república das bananas, pois português que se preze e de novo insista nesta dupla de sucesso, mais do que um mero macaquinho de imitação é um autêntico orangotango.
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