Heduíno Gomes
Plano Inclinado, SIC Notícias, 28 de Agosto de 2010. Indígena convidada (como diria o seu amigo Vasco Pulido Valente): Maria Filomena Mónica.
Contribuição da crânio para o esclarecimento público: pela positiva, zero; pela negativa, foi óptima através da refutação por Medina Carreira dos disparates que largou.
Eis a questão central da sua participação: para este crânio, a chave do problema nacional estaria na mudança da lei eleitoral. Com uns deputados eleitos de outra maneira, verdadeiramente democrática, lá como ela sabe, tudo ficaria resolvido! Genial! E simples!
Ela repetiu obsessivamente esta sua ideia, que deve imaginar tombada de uma inspiração superior, daquelas que só cintilam quando estamos na banheira. Ou então ouviu-a numa sessão da sua tertúlia intelectual.
Ela acredita piamente no sistema democrático – aparentemente de um modo determinista desde que receba as devidas transformações da lei eleitoral – para gerar uma direcção política competente. Ela não percebe que, independentemente do sistema eleitoral dever de facto ser alterado – e deve –, isso em nada garante a resolução do problema. Ela não percebe que a resolução do problema reside essencialmente na existência de uma elite política disposta a entregar-se ao bem comum, organizar-se para tal e, através da acção perseverante, conseguir afastar do poder a rasteira classe política actual (havendo hoje no activo, naturalmente, alguns políticos sérios e competentes com quem Portugal poderia e deveria contar).
Afinal a sociologo-historiadora não consegue interpretar a história!
Mas a intelectual anglo-indígena não se ficou por aqui.
Diz ela em abono desta III República e em crítica ao Estado Novo: «Durante 40 anos, o Francisco Balsemão não poderia fazer o que faz agora.» Pois não, não podia fazer os seus Big Show SIC, mostrar as coelhinhas, vender pornografia, deseducar a juventude, etc.
Afinal a sociologo-historiadora não consegue distinguir liberdade de liberalidade!
Diz ela como prova do terror do Estado Novo: «Eu fui incomodada pela PIDE». Ai sim?! Imagine-se o incómodo causado à heroína! Deve ter sido por andar já então a recolher material para as suas futuras, edificantes e «catárticas» (no seu dizer) memórias.*
Afinal a sociologo-historiadora não consegue compreender a função da PIDE no contexto histórico do decénio de 30 e seguintes e que esta polícia se estava nas tintas para meninas do seu género!
Diz ela, armada em conhecedora de economia, que o Estado Novo fez a maldade do condicionamento industrial: lá teve Medina Carreira de lhe explicar que, no contexto da economia portuguesa da época, o condicionamento industrial estava correcto.
Afinal a sociologo-historiadora não consegue compreender a história económica de Portugal!
Diz ela, dando de barato que Salazar era sério, para a seguir atacá-lo: «No Estado Novo havia um homem que não roubava, que era Salazar.» Um? Ela saberá contar? Ela que pegue na lista dos ministros de Salazar, que conte os ladrões e que calcule a percentagem deles.
Afinal a sociologo-historiadora também não conhece o clima moral no Estado Novo para poder escrever história!
E tem a mania que sabe coisas!
Medina Carreira deu bem conta dela.
Para mim não foi novidade nenhuma o valor intelectual que exibiu. Em 1985 tive a tarefa de ler a tese de doutoramento desta anarco-liberal, versando educação. Além de verificar as modernices da autora e os seus conceitos pedagógicos «progressistas», verifiquei ainda que a sua tese de doutoramento não é uma tese mas uma antítese pois prova precisamente o contrário do que pretende provar sobre o posicionamento do Estado Novo em relação à alfabetização. A então doutoranda arreia no Estado Novo por ser supostamente obscurantista, enquanto vai fornecendo estatísticas da educação que documentam precisamente o grande progresso de alfabetização levado a cabo pelo Estado Novo. Genial! Maria Filomena Mónica é um crânio!
Comenta-se com tristeza o nível dos nossos políticos dominates no sistema. A eles podemos juntar os nossos intelectuais dominates no mesmo sistema. Para sair do buraco, Portugal precisa de uma elite política mas também de uma elite intelectual.
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* VER geracao-rasca.blogspot.com/2006_01_01_archive.html (Lady Mónica na cidade do castelo)
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