Há duas maneiras de agir contra a propagação da SIDA em África:
distribuir preservativos e fazer o que a Igreja Católica faz.
Inês Teotónio Pereira, Expresso
A primeira é fácil mas ineficaz: distribuir preservativos é o mesmo que tratar com água uma gangrena ou tentar curar um cancro com aspirinas. Os resultados estão à vista e não são precisos mais argumentos. Combater a SIDA em África à custa dos preservativos, é como disputar com uma bisnaga um duelo de pistola: é estúpido.
A Igreja Católica sabe disto melhor que ninguém: é única instituição que verdadeiramente sabe do que fala porque trabalha no terreno, conhece os casos, as pessoas, as aldeias, as cidades, a miséria, os costumes e as crenças. Trabalha com todos, não só com os católicos, e em todos os países, que são quase todos anticatólicos. E trabalha no terreno há década e décadas: antes do Bairro Alto lisboeta ter nascido, já a Igreja tinha percebido a dimensão da tragédia.
Enquanto a Igreja trabalha no terreno, o pessoal do mundo civilizado tem insultado a Igreja Católica porque o Papa - este, o anterior, o anterior ao anterior e todos os outros - não mandaram distribuir preservativos como quem distribuí leite num campo de refugiados. E não o acusaram, por exemplo, de ser ineficaz no combate, nada disso: acusaram a Igreja de ser cúmplice. E porquê? Porque a Igreja, optou, imagine-se, por estar com as pessoas, viver com elas, dar-lhes formação sobre a sexualidade, apoia-las antes, durante e depois da doença e tratar cada caso como um caso. Uma trabalheira. E considerou sempre que o preservativo, no meio desta trabalheira, é apenas um recurso, não é uma doutrina.
Esta semana fez notícia o que o Papa disse numa entrevista que resume a estratégia de combate: "A mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias. (...) Pode haver casos pontuais, justificados, como por exemplo a utilização do preservativo por um prostituto, em que a utilização do preservativo possa ser um primeiro passo para a moralização, uma primeira parcela de responsabilidade para voltar a desenvolver a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer tudo o que se quer. Não é, contudo, a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade".
Uma trabalheira.
1 comentário:
Sem mais..., parabéns Inês pelo teu óptimo artigo. Defacto, a Igreja trabalha no terreno e tem um experiência de contacto com os povos, milenar..., enquanto que estes estultos do preservativo, acima de tudo, estão ao serviço de interesses de indústria do ramo, porque não passam de mercenários, de lacaios!
Temos muitos políticos que são iguais!
M. Lima
Enviar um comentário