segunda-feira, 17 de junho de 2013

O Papa Francisco e o «lóbi gay» no Vaticano
– 10 coisas para saber e partilhar


Jimmy Akin
É certo que o Papa Francisco admitiu a existência de um «lóbi gay» no Vaticano?

Se admitiu, o que é que vai fazer com ele?

O Papa Francisco foi recentemente notícia ao, aparentemente, reconhecer a existência de um «lóbi gay» no Vaticano.  O que foi que disse?

O que é que quis dizer? O que é que vai fazer no futuro?

Eis 10 coisas para saber e partilhar...


1. O que o Papa Francisco disse?

Segundo a imprensa, o Papa disse recentemente:

Na cúria há gente santa, é verdade, há gente santa.

Mas também há uma corrente de corrupção, também há, é verdade.

Fala-se do «lobby gay», e é verdade, está aí… temos de ver o que podemos fazer…

2. Quando e onde o disse?

De acordo com Rocco Palmo:

Estes comentários foram supostamente feitos durante a audiência de uma hora que o Papa concedeu na 5.ª Feira (6 de Junho) a responsáveis da «Confederación Latino Americana y Caribeña de Religiosas y Religiosos» (CLAR).

Uma síntese não assinada do encontro – coligindo uma selecção de citações fortes, mas sem ser uma transcrição integral – foi dada, em exclusivo, e publicada no Domingo à tarde por Reflexión y Liberación, um site dedicado a temas da Igreja e com uma abordagem próxima da teologia da libertação.

Não se tratou, pois, de declarações públicas, o que levanta a questão da sua autenticidade.

3. Mas terá mesmo dito o que dizem que disse?

A minha impressão é que sim. As citações têm muito o aspecto de serem do Papa Francisco, abordam os seus temas típicos, e mostram uma franqueza desarmante que é muito dele.

Além disso, a Sala Stampa do Vaticano fez aquilo que, na gíria do Watergate, se pode chamar uma «confirmação não-confirmativa». Rocco aponta:

Chamado a reagir e comentar, o porta-voz do Vaticano padre Federico Lombardi declarou à CNN que «foi uma reunião privada.

Não tenho comentário a fazer».

ACTUALIZAÇÃO

Está a ser noticiado que o site que originalmente publicou a conversa está a «demarcar-se» da parte relativa ao lóbi gay. Pode ler mais sobre isso aqui.

Com efeito foram acrescentadas algumas nuances, no entanto a demarcação não foi total. Alegadamente a conversa foi transcrita de memória e não a partir de qualquer gravação, por isso diz-se que as expressões «não se podem atribuir ao Santo Padre, com segurança» (o itálico é meu).

Isto não nega ou retira veracidade à história. Não dizem que ele não disse.

Dizem que se baseia na memória e, por tanto, não é 100% fiável (particularmente quanto às palavras exactas), mas não é a mesma coisa que dizer que a afirmação nunca foi feita.

Pessoalmente, sempre imaginei que o relato era baseado na memória e não numa gravação, e dado que a fonte é a memória de várias testemunhas que estiveram presentes, a minha convicção é que a afirmação foi feita, mesmo que persista a interrogação sobre quais as palavras exactas que empregou.

4. O que quis dizer com «lóbi gay»?

Não é claro.

Qualquer grupo considerável de pessoas pode ter pessoas que têm atracção pelo mesmo sexo (SSA – same sex attraction) e uns poucos dentre essas que actuam conduzidos por essa atracção.

Tais pessoas podem ter sabido da existência de outras nas mesmas condições e terem formado uma rede de algum tipo.

Mas uma rede assim não é a mesma coisa que um «lóbi».

Uma rede de conhecimentos só é um «lóbi» quando tenta influenciar decisões de algum modo. Se o que fizessem fosse usar o conhecimento recíproco para obter relacionamentos sexuais, isso não faria deles um «lóbi».

5. O que poderia um «lóbi» tentar fazer?

Um objectivo óbvio de longo prazo seria tentar influenciar o ensinamento da Igreja sobre o comportamento homossexual.

Se é esse o seu objectivo, então não estão a ter grande êxito. A Igreja tem sido muito firme sobre esse assunto.

A Congregação para a Doutrina da Fé publicou vários documentos que abordam o tema mantendo o ensinamento tradicional da Igreja, apesar da crescente oposição cultural.

Também podem tentar influenciar procedimentos como, por exemplo, os relativos à admissão ao sacerdócio de pessoas com orientação homossexual.

Se é isso que pretendem, também aí não tiveram grande êxito.

Pouco depois de ter sido eleito Bento XVI, a Santa Sé fixou como guia que pessoas com orientação homossexual estável e profundamente radicada não devem ser admitidas ao sacerdócio.

Um campo onde podem ter tido algum êxito é através da influência sobre a trajectória de casos individuais – p. ex. ajudando-se reciprocamente, procurando mutuamente a subida na carreira, procurando colocar os seus membros em posições de influência, procurando trazer pessoas que conhecem fora para dentro do Vaticano, e actuando para colocar homossexuais em posições influentes fora do Vaticano.

6. Que dimensão tem o «lóbi gay»

Como dissemos, qualquer grupo considerável de pessoas tem dentro de si pessoas que sentem atracção por pessoas do mesmo sexo (SSA), assim como qualquer grupo considerável de pessoas inclui uns poucos que serão alvo de alguma tentação.

Se o grupo for de tamanho suficientemente considerável, haverá sempre alguém que cede à tentação.

O Estado da Cidade do Vaticano emprega cerca de 2.000 pessoas, e num grupo com essa dimensão, é inevitável que haja pessoas com SSA, incluindo algumas que actuaram ou actuam nesse sentido.

«Quantos» é uma pergunta interessante, mas não há grande maneira de saber.

Em todo o caso, não devemos assumir que seja um número massivo.

Afinal, o Papa Francisco disse:

«Na cúria há gente santa, é verdade, há gente santa.»

Depois, anotou:

Mas também há uma corrente de corrupção, também há, é verdade.

Esta «corrente de corrupção» é, aparentemente, na sua perspectiva, menor do que o grupo de pessoas santas.

Então, aparentemente dentro da «corrente da corrupção», acrescentou:

Fala-se do «lóbi gay», e é verdade, está aí…

Isto sugere que o «lóbi gay» pode ser apenas uma parte da «corrente de corrupção», que em si pode ser pequena em comparação com o grupo muito maior de pessoas santas que trabalha na cúria.

Portanto, não devemos entrar em pânico.

7. «Onde é que eu já ouvi isto antes?»

Um possível membro do «lóbi gay» foi tirado do armário pelos media italianos em 2007.

Foi rapidamente demitido das suas funções.

Mais recentemente, na esteira do escândalo VatiLeaks, o Papa Bento nomeou uma comissão de três cardeais para realizar uma investigação, e nas vésperas do recente conclave a imprensa italiana começou a relatar que a comissão tinha encontrado provas de «lóbi gay» dentro do Vaticano.

Na época, havia rumores de que este lóbi teve alguma coisa a ver com a renúncia do Papa Bento XVI.

Observadores do Vaticano pensam que é improvável que tenha tido qualquer papel directo.

O Papa Bento XVI indicou que a sua renúncia se devia à falta de energia necessária para governar a Igreja do modo que ele pensava justo, e não há razões para duvidar disso.

É possível, porém, que os resultados da investigação dos cardeais tenha sido um factor que contribuiu para a convicção de que fazia falta um Papa com maior vigor para enfrentar a magnitude dos desafios que se apresentam.

8. Onde teve o Papa Francisco informação sobre o «lóbi gay»?

Provavelmente, encontrou-a nas 300 páginas do relatório que se diz ter sido preparado pela comissão de cardeais criada por Bento XVI.

Antes do conclave, havia dúvidas sobre se os resultados do relatório seriam partilhados com os cardeais eleitores.

O relatório completo, ao que parece, não foi, mas o relatório foi  aparentemente entregue ao Papa Francisco, após a sua eleição, e é sem dúvida uma das suas fontes de informação.

9. E agora, o que é que vai acontecer?

Estamos para ver. Segundo os comentários que ele próprio fez:

«temos de ver o que podemos fazer…»

O simples facto de ter feito estes comentários pode ser visto como um primeiro passo para resolver a situação.

Ao fazer estes comentários, o Papa Francisco pode ter previsto que acabariam por se tornar públicos, e pode ter pretendido que fosse como uma espécie de tiro de aviso ao «lóbi gay».

Por outras palavras: amigos, basta. Comecem a tirar o cavalo da chuva.

Isto pode ser entendido tanto quanto à actividade sexual ilícita por membros da rede como qualquer tentativa de influenciar a partir dela.

Mas há mais coisas que podem ser feitas.

10. Que mais se pode fazer?

Não é de esperar (em circunstâncias normais) que a Santa Sé venha publicamente demitir os membros desta rede, indicando a razão, tendo em conta a vaga de publicidade negativa que isso iria causar.

No entanto, pode bem decidir desmontar a rede removendo ou reafectando os seus membros, sem declarar publicamente as razões.

O facto de o Papa Francisco estar a preparar uma grande limpeza interna e provavelmente uma reestruturação da Cúria Romana (os departamentos que o ajudam a governar a Igreja) seria uma excelente oportunidade para executar esse plano.





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