Michael Seufert, Diário Expresso, 26 de Novembro de 2015
25 de Novembro de 1975, Mário Soares não jantou em casa. Nem sequer em Lisboa. Temendo pela vida, cito o site do Partido Socialista, foi com colegas da Comissão Permanente do PS pedir protecção ao brigadeiro Pires Veloso. No Norte, longe das mãos de Otelo Saraiva de Carvalho e de Mário Tomé, respirava-se uma calma que só chegaria à Região Militar de Lisboa depois da dissolução do COPCON e da prisão destes e de outros revolucionários que teimavam em não aceitar o jogo democrático. O Verão Quente terminaria e podia, finalmente, cumprir-se o mais importante desígnio do 25 de Abril: Democracia.
Que 40 anos depois seja o Partido Socialista, que
indicaria o primeiro primeiro-ministro constitucional uns meses depois, a
impedir que o Parlamento português – que exerce o seu mandato graças aos
militares que impediram o golpe a 25 de Novembro de 1975 – assinale esse dia, é
particularmente sintomático dos dias que vivemos. O país está de pernas para o
ar e são o Partido Comunista e o Bloco a ditar o que o PS pode e o que o PS não
pode fazer. Parece que está de facto instituído que são os menos votados a
impor-se aos mais votados.
O que fica por saber é até onde aceitará o PS ir para não
incomodar os seus novos parceiros. Renegou hoje um momento fundador da
democracia e fundamental na história do PS (que dias depois, em 1975, deu uma
violentíssima conferência de imprensa atacando Cunhal e o seu partido). Que
renegará amanhã?
Mas será assim tão importante, tão fundamental, tão
decisivo assinalar o 25 de Novembro? Provavelmente não. Mas é simbólico e
talvez por ser pouco decisivo mostre ainda mais o labirinto em que Costa meteu
o PS. Se a 25 de Novembro de 2015 o PS dá cobertura a Otelo por causa do PC e
ao Major Tomé por causa do Bloco, o que fará nos próximos meses?
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