terça-feira, 15 de dezembro de 2015


Breve esclarecimento sobre o texto

Misericonsideração


Nuno Serras Pereira, 12 de Dezembro de 2015

Tenho vindo a receber as mais diversas reacções ao artigo que vos enviei intitulado Misericonsideração. Sobre o mesmo direi somente o seguinte:

1. O texto é ficcional;

2. Com ele pretendi, pintando a traços largos, mostrar que a «lógica» que preside à pretensão de conceder a Sagrada Comunhão aos validamente casados pela Igreja que se divorciaram civilmente e também civilmente «recasaram» conduz necessariamente a concedê-la também às personagens cujo drama desenhei em traços breves;

3. Com isto não quero significar que os casos sejam iguais, mas sim que aquele caminho conduzirá inevitavelmente a uma abertura «inclusiva» (como hoje impropriamente se usa dizer na Igreja) que admita a um grande número de pessoas que vivem numa diversidade enorme de situações;

4. A) Alguns opinaram que era um ultraje ao Santo Padre imaginá-lo (não se diz que se trata de Francisco, nem que foi um pronunciamento Magisterial) dizendo que aquela «família» dava um grande testemunho – somente um delírio psicótico ou uma alucinação patológica é que poderia parir tal fantasmagoria pavorosa, disforme, monstruosa; B) Mas, «contra-ataco», dizei-me com toda a franqueza e honestidade: porventura alguém ao longo de 2014 (dois mil e catorze anos) de Catolicismo imaginou a possibilidade de que um Papa, proclamasse aos quatro ventos (neste caso através da comunicação social) o que Francisco advogou, a propósito dos «casados divorciados recasados» numa entrevista em Dezembro do ano passado ao jornal argentino La Nación, a saber: «¿Por qué no pueden ser padrinos? ‘No, fijate, qué testimonio le van a dar al ahijado’. Testimonio de un hombre y una mujer que le digan ‘mirá querido, yo me equivoqué, yo patiné en este punto, pero creo que el Señor me quiere, quiero seguir a Dios, el pecado no me venció a mí, sino que yo sigo adelante’. ¿Más testimonio cristiano que ése?» Como comentei na altura:

Por outras palavras, talvez cruas mas verdadeiras, continuo  a fornicar adulteramente com aquele que não é meu marido, mas o pecado não me venceu. Aliás, transformou-se num modelo de testemunho cristão. Adeus arrependimento, adeus conversão, coisas inúteis e perniciosas, pelos vistos. Um Papa, afirmando isto de pessoas que vivem em estado objectivo de adultério, foi coisa que nunca pensei ouvir (e isto aterra-me ao ponto de pedir ao Senhor que se tem um lugar no Purgatório para mim, me leve antes de que venha a topar com uma decisão nesse sentido). Vive objectivamente em pecado, nele permanece e nada faz para mudar e diz que não foi vencida pelo pecado! E a Santa Igreja confirma-a no seu perverso erro! Se eu fora um demónio, exultaria de alegria … ! É obra!, se não lesse não acreditaria! A não ser, claro, que Francisco subscreva, o que me parece impossível, a heresia de Kasper, em contradição flagrante com as afirmações de Deus feito homem de que é uma injúria dizer que os «divorciados recasados civilmente» vivem em estado de adultério. De facto, só será possível advogar tal tese se se considera que não existem pecados sexuais quando entre adultos e consentidos (o que significaria a rendição da Igreja à revolução sexual); ou então que o casamento civil, e, talvez, a geração de filhos nesse pseudocasamento, têm o mesmo efeito que a Confissão Sacramental e que o Sacramento do Matrimónio. Uma vez que a Doutrina de Cristo na Sua Igreja sempre ensinou que os pecados graves, para os baptizados, exceptuado o perigo de morte iminente, só se perdoam pela Confissão Sacramental, teríamos aqui um novo Sacramento, não instituido por Cristo, mas sim por W. Kasper.;

5. Quando grande parte de católicos, mesmo comprometidos, não se choca, nem estranha, o estado calamitoso das «pregações» contínuas de grandes eminências eclesiais, a elas se habituando e conformando, cuidei que uma «sátira» os despertasse  para a gravidade do que se está a passar. Infelizmente, parece que muitos não o entenderam. E, pela Graça de Deus, assanharam-se contra mim o que me dá uma enorme alegria por poder participar na Cruz de Nosso Senhor;

6. Com isto termino. Atendendo a declarações de várias conferências episcopais, de Cardeais, de bispos designados por este Papa, de alguns teólogos, em particular de não poucos jesuítas, a Igreja deveria dar a Sagrada Comunhão a todos sem excepção – Católicos ou não, uma vez que a Igreja tem de ser inclusiva, não excluindo a ninguém e já que desconhece as intenções do coração de qualquer pessoa e a sua culpabilidade subjectiva, que só Deus pode julgar (exceptuando, claro está, os que Francisco julga, porque se escondem atrás da doutrina para fazerem uso da sua soberba), todas elas podem estar na Sua Graça, pelo que a Sagrada Comunhão a ninguém deve ser negada, mas antes distribuída à toa. Afinal, segundo testemunhos de sacerdotes e amigos que colaboraram de perto com o então Cardeal Bergoglio, seria isso, a crer nas suas versões, que ele recomendaria aos padres que fizessem.





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