«MIG 31» sendo insuflado perto de Moscovo. |
Luis Dufaur (*)
Algumas das mais modernas armas russas puderam ser vistas
e fotografadas num campo perto de Moscovo. Ali, trabalhadores manipulando
tecidos sintéticos verdes e bombas de ar criavam armas impressionantes em
questão de minutos, segundo informou o The New York Times.
O assustador MIG-31 cinza escuro aparecia subitamente
como que do nada com a estrela vermelha nas suas asas. Parecia muito real
sobretudo se fosse visto a 300 metros.
Mas na ex-URSS este truque é o mais velho da guerra. Faz
lembrar o cavalo de Tróia, aliás este mais poético, ou a ordem corânica de
Maomé de os soldados velhos pintarem os cabelos brancos para parecerem
mais jovens e fortes…
A Rússia montou um arsenal de disfarces e trapaças para as suas forças
armadas, dentro do contexto mais vasto da guerra rotulada «maskirovka»
(literalmente = dissimulação, engano).
Veja mais em Maskirovka: a
guerra não-militar que invade e conquista.
Inflando um «camião com mísseis» perto de um «MIG 31» já pronto |
A Maskirovka tem um papel cada vez
mais importante para as ambições geopolíticas imperialistas da «nova-URSS».
«Se estudar as grandes batalhas da História,
perceberá que o uso de trapaças vence sempre», disse o engenheiro militar
Alexey Komarov. «Ninguém vence a jogar limpo».
Komarov supervisiona a venda de armas na Rusbal, ou
Balões Russos.
A empresa fornece ao Ministério da Defesa da Rússia
uma das ameaças militares menos conhecidas nos países que podem ser as suas
futuras vítimas: um crescente arsenal de tanques, jactos e lançadores de
mísseis infláveis.
A Rússia de Putin está a regressar ao cenário
geopolítico, imiscuindo-se na vida política dos países ocidentais, empregando
tácticas escondidas.
Silencia inimigos no exterior, manipula a Igreja
ortodoxa e promove uma fingida contra-revolução conservadora conquistando
pecuniariamente políticos e partidos nos países que quer submeter.
Uma farta rede de trolls, antigas redes de
influência da URSS agora reactivadas e novas agências de notícias, TV ou
Internet difundem falsas informações calculadas para enganar as audiências ou
os internautas no Ocidente.
A «maskirovka» tem que manter o inimigo na
incerteza, jamais admitir as verdadeiras intenções e usar todos os meios, tanto
propagandísticos quanto militares, para conceder aos soldados do país a
vantagem da surpresa, e revestir aos políticos seduzidos do Ocidente de uma
máscara de conservadorismo de data recente.
A doutrina não hesita em apelar à desinformação
política de alto nível e o uso de formas astuciosamente evasivas de
comunicação.
É claro que as armas infláveis se encaixam bem nos
estratagemas da maskirovka.
É um velho recurso para quem está em inferioridade
de condições de combate, mas se é útil contra adversários decadentes, então
vale tudo.
Vídeos no Youtube encarregam-se de mostrar as
fabulosas novas armas que vão prostrar a NATO e os EUA enquanto os operários
enchem de ar sacolas que virarão modernos tanques, aviões, lança mísseis e tudo
o que servir para enganar sobre o verdadeiro potencial bélico russo.
A maior utilidade vem a revelar-se na camuflagem de
ideias através da desinformação. A «nova-Rússia» apresenta-se como religiosa e
conservadora se isso serve para desviar a atenção do adversário, dividi-lo e
levá-lo à confusão e a uma capitulação.
Praticamente todos os grandes movimentos de tropas
russas e soviéticas dos últimos 50 anos, da Primavera de Praga ao Afeganistão,
Tchetchénia e Ucrânia, começaram por um truque simples e efectivo: soldados a
chegar ao local de combate à paisana, explica o jornal americano.
Em 1968, por exemplo, um voo da Aeroflot, a
companhia estatal de aviação soviética, transportando um número desproporcional
de homens jovens e saudáveis, que subsequentemente capturaram o aeroporto de
Praga.
Em 1983, soldados soviéticos disfarçados de
turistas viajaram para a Síria, numa manobra que ficou conhecida como «camarada
turista».
A aparência de misteriosos soldados usando
uniformes camuflados em Cabul, no Afeganistão, e Grozny, na Tchetchênia, serviu
como presságio ao envio de muito mais tropas, em 1979 e 1994.
O tanque T80 ainda não está pronto para enganar satélites americanos |
Foi o caso dos «homenzinhos verdes» na Crimeia a
partir de Fevereiro de 2014, ou do cerne das milícias separatistas «ucranianas»
recrutadas no coração da Rússia ou transportadas directamente de guarnições do
exército russo.
Estes antecedentes preocupam os estrategas e
pensadores clarividentes, nos países vizinhos. Mas não tiram o sono aos
decadentes. Ou aos cúmplices...
A Rusbal não revela quantos tanques infláveis já
produziu, porque os números são sigilosos.
Mas a directora da firma Maria A. Oparina
reconheceu que a produção cresceu muito nos últimos 12 meses. Emprega
integralmente a maioria dos seus operários na costura das armas infláveis, na
sua divisão militar.
«Na guerra, não existem acordos de cavalheiros»,
repete Oparina. «quem tiver os melhores truques sobrevive».
Vladimir Putin sabe bem disso, e paga o
desenvolvimento das «novas armas» para enganar mais os «decadentes» ocidentais.
conferencista de política internacional e colaborador da ABIM
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