Gelsomino
Del Guercio, Aleteia, 5 de Janeiro de
2016
Fala a
historiadora Ângela Pellicciari: os maçons estudaram estratégias subversivas
para acabar com o poder eclesiástico
A
Maçonaria tentou destruir a religião em Itália?
Agiu para extinguir a acção e a existência da Igreja católica
naquele país?
Agiu para extinguir a acção e a existência da Igreja católica
naquele país?
A resposta de Ângela
Pellicciari, italiana historiadora do «Risorgimento» e professora de
História da Igreja, é positiva: desde o seu nascimento, a Maçonaria propôs-se
acabar com o poder da Igreja mediante acções subversivas, em geral subtis, que
foram vigorosamente denunciadas e repudiadas pelos papas.
Ângela explica para a
Aleteia: «A Maçonaria moderna nasceu em Londres em 1717. A Igreja emitiu a
primeira das suas centenas de condenações e excomunhões em 1738, com a carta
apostólica ‘In Eminenti’, do Papa Clemente XII. ‘Cheios de certa aparência
afectada de honradez natural’, escreve o Papa sobre os maçons. E o Papa tem
razão: a Maçonaria sempre tem nos lábios a palavra ‘moral’, mas a moral a que
se refere não é a moral revelada».
A perseguição
anti-religiosa
Ângela Pellicciari
destaca uma afirmação feita em 1853 por J.M. Ragon, autoridade da Maçonaria
francesa: «A Maçonaria não recebe a lei; é ela mesma quem a estabelece». E a
historiadora segue em frente: «Pio IX e Leão XIII, os papas que assistem [na
Itália] ao desmantelamento de todas as ordens religiosas católicas (apesar de o
catolicismo continuar a ser a religião de Estado), à perseguição contra bispos
e sacerdotes, à redução da maioria da população [italiana] à pobreza absoluta,
obrigada à emigração massiva, identificam no ódio maçónico e protestante a
origem anticatólica e, portanto, anti-italiana, de tanta violência e
decadência».
Como foi o caso de
França durante a revolução e durante o império do maçom Napoleão, ou ainda na
América Latina, em Portugal e em Espanha, a Maçonaria é uma sociedade
revolucionária que os príncipes apoiam «sem se darem conta de que estão
assinando a sua própria ruína», sentencia a historiadora. «Os papas lançam o
alerta com frequência, mas não são ouvidos. Sob o pontificado de Gregório XVI,
a polícia descobre uma documentação de grande interesse sobre os carbonários
(uma sociedade secreta de derivação maçónica) que mostra como o ódio contra a
Igreja é acompanhado pelo ódio à família».
De facto, o sectário
conhecido pelo pseudónimo de «Piccolo Tigre» [«Pequeno Tigre»] escreve aos seus
companheiros de seita: «O essencial é isolar o homem da família, é fazê-lo
perder os seus costumes […] Quando tiverdes insinuado em alguma alma o desgosto
pela família e pela religião (e uma é quase sempre a continuação da outra), deixai
cair alguma palavra que provoque o desejo de filiar-se à loja [maçónica] mais
próxima […] O fascínio pelo desconhecido exerce sobre o homem tal poder que ele
prepara-se a tremer para as fantasmagóricas provas da iniciação e dos banquetes
fraternos».
A advertência de Pio VII
Em 1821, Pio VII escreve
a propósito dos carbonários: «Eles simulam um singular respeito e um certo zelo
extraordinário pela religião católica», mas «não são nada mais que dardos
disparados com mais firmeza por homens astutos para ferir os incautos; estes
homens apresentam-se como cordeiros, mas são lobos vorazes».
Segundo Pellicciari, um
documento de 1819, conhecido com o nome de «Instrução permanente», ensina aos
carbonários: «Deveis apresentar-vos com todas as aparências do homem sério e
moral. Uma vez estabelecida a vossa boa reputação nos colégios, nas
universidades e nos seminários, uma vez captada a confiança de professores e
estudantes, fazei que procurem a vossa companhia principalmente os envolvidos
na milícia clerical […] Trata-se de estabelecer o reino dos eleitos sobre o
trono da prostituta da Babilónia: que o clero marche sob a vossa bandeira sem
nunca duvidar de estar a marchar sob a das chaves apostólicas».
«Enterraremos a Igreja»
Os carbonários
pretendiam infiltrar-se no clero. Em 18 de Janeiro de 1822, o «Piccolo Tigre»
escreveu aos filiados da região italiana de Piemonte: «Servindo-vos do pretexto
mais fútil, mas nunca político ou religioso, criai vós mesmos, ou ainda melhor,
fazei com que sejam criadas por outros, associações que tenham como fim o
comércio, a indústria, a música, as belas- artes. Reuni num lugar qualquer,
inclusive nas sacristias e nas capelas, os vossos seguidores que ainda não
sabem de nada; ponde-os sob a guia de um sacerdote virtuoso, conhecido, mas
crédulo e fácil de enganar; infiltrai o veneno nos corações eleitos,
infiltrai-o em pequenas doses e como que por casualidade; a seguir, vós mesmos
vos surpreendereis com o vosso êxito».
Alguns anos mais tarde,
o «primo» Vindice sintetiza assim o objectivo dos carbonários: «Começamos uma
corrupção em grande escala, a corrupção do povo através do clero e a do clero
por o nosso meio, a corrupção que, sem dúvida, nos levará um dia a sepultar a
Igreja».
«Segredo, juramento,
nenhum escrúpulo no uso de qualquer meio (porque, para eles, o fim justifica os
meios), calúnia, mentira, homicídio, são as armas a que as associações secretas
recorrem para levar os seus planos a termo», afirma a especialista. O juramento,
em particular, acompanha todos os avanços nos graus maçónicos. No momento da
entrada na loja como aprendiz, o candidato jura assim: «Prometo não revelar
jamais os segredos da Livre Maçonaria; não dar a conhecer a ninguém o que me
será exposto, sob pena de me cortarem a garganta, me arrancarem o coração e a
língua, me rasgarem as entranhas, cortarem o meu corpo em pedaços, queimarem-no
e reduzirem-o a pó a ser espalhado ao vento para execrada memória e eterna
infâmia».
A denúncia dos papas
Começando por Clemente
XII, todos os papas denunciam com firmeza, coragem, patriotismo e mediante
análises filosóficas e históricas detalhadas os propósitos revolucionários das
lojas que, exaltando a «liberdade», procuram a liberdade apenas para si
próprias, formando dentro dos países uma espécie de «Estado no Estado», que
dita por lei todos os aspectos da vida pública.
Em 1864, pouco depois do
mérito «grandioso» que as lojas atribuem a si mesmas por terem desencadeado o
maior ataque contra a Igreja católica na sua pátria de eleição (Roma e a
Itália), os artigos 3 e 7 das constituições da Maçonaria italiana estabelecem:
«Art. 3. Sua finalidade [da Maçonaria] directa e imediata é concorrer
eficazmente à realização progressiva destes princípios na União, para que se
tornem gradualmente lei efectiva e suprema de todos os actos da vida
individual, doméstica e civil»; «Art. 7. A última meta dos seus trabalhos é a
de reunir todos os homens livres numa grande família, que possa pouco a pouco
suceder a todas as seitas fundadas na fé cega e na autoridade teocrática, todos
os cultos supersticiosos, intolerantes e inimigos entre si, a fim de construir
a verdadeira e única igreja da humanidade».
«Personificação
permanente da revolução, [a Maçonaria] constitui uma espécie de sociedade ao
contrário, cujo fim é um predomínio oculto sobre a sociedade visível e cuja
razão de ser consiste na guerra contra Deus e a sua Igreja», escreve Leão XIII
em 1902, pouco antes de morrer.
«A firme condenação da
Igreja contra a Maçonaria», conclui Pellicciari, «contra todo o tipo de
maçonaria vale até hoje, como recordou explicitamente o cardeal Ratzinger na
declaração sobre a Maçonaria, de 1983».
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