Jacques Chirac com Jérôme Monod |
Não vou aqui referir-me às opções políticas e práticas de Jacques Chirac. Apenas compará-lo, em termos de preparação técnica, cultura geral e cultura política, com a nossa classe política.
Conheci Jacques Chirac em 1985 no contexto do RPR, partido a que presidia, sendo igualmente Presidente do município de Paris. Do que havia a tratar, encaminhou-me para o Secretário-Geral do RPR, o seu próximo colaborador Jérôme Monod, que na altura era também Presidente da Lyonnaise des Eaux, primo do biólogo Jacques Monod, autor do ensaio filosófico Acaso e Necessidade (que, quando foi publicado, deu que falar e que aqui também me abstenho de comentar).
Jacques Chirac, como aliás grande parte dos políticos franceses, quer da esquerda, quer da direita, incluindo Jérôme Monod, eram énarques, isto é, tinham feito o curso da ENA (École nationale d'administration). Esta escola era e é uma das «grandes écoles» de elite francesas, de grande exigência na admissão de alunos, logo à partida uma licenciatura (Chirac já tinha feito o curso noutra escola de elite, o Institut d'études politiques, o famoso, na gíria, Sciences Po, onde regressará mais tarde como professor). E, para entrar na ENA, teve de passar por um exigente exame de admissão, que incluía direito público, economia, finanças públicas, política internacional e cultura geral, com provas escritas de 5 horas... No ano passado, apenas cerca de 5% dos candidatos foram admitidos.
Por essa altura, vi numa sua biografia que era coronel de blindados na reserva. E também a descrição da sua prova oral de admissão à ENA sobre cultura geral. Contava ele que foi interrogado sobre um pintor francês cujo nome não me recordo, para aí do século XV ou XVI, um desconhecido da maior parte das pessoas, talvez como, na generalidade, são os nossos Nuno Gonçalves ou Francisco de Olanda. E ele lá teve de dissertar sobre o pintor...
Posteriormente, já Chirac era Primeiro-Ministro, conheci o seu adjunto para a cultura e comunicação no município de Paris, José Freches, que por acaso havia vivido em Portugal, onde o pai esteve no Liceu Francês. Outro énarque, número 1 do seu curso, com classificação que destronou Giscard d’Estaing, número 1 de outro curso.
Como disse, não aprecio aqui a primordial questão das orientações políticas ou dos valores civilizacionais dos énarques, sejam eles Chirac ou Giscard, Rocard ou Fabius. Apenas, dentro de cada opção política, a instrução dos actores. E, claro que, perante o que lia na sua biografia, não poderia deixar de comparar o nível de preparação de um Chirac e seus colaboradores com o da nossa classe política. Ou seja, o desnível.
E daí a diferença de horizontes e capacidade de servir, mesmo entre a esquerda — a questão importante para o pobre português. Até quando, por cá, as intenções são boas, o que nem sempre acontece.
Desculpem a franqueza.
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