segunda-feira, 13 de junho de 2011

O 10 de Junho e os combatentes

João J. Brandão Ferreira
(síntese)
A Comissão Promotora do Encontro Nacional dos Combatentes, organiza uma romagem anual de homenagem aos Combatentes do Ultramar, junto ao respectivo monumento, em Belém, no dia de Portugal. Este ano promoveu, também, uma conferência sob o tema “A Presença de Portugal em África”, ao longo dos séculos, que teve lugar na véspera, na Fundação Gulbenkian.

A conferência foi presidida por Adriano Moreira. Sobre a subversão e a guerrilha com que nos defrontámos em África, entre 1961 e 1974-1975, lá se ouviram as mesmas frases recorrentes. Estas ideias, além de constituírem mitos, funcionam como uma espécie de autojustificação psicológica e tranquilizadora de consciências, para quem contribuiu, não se opôs ou se acomodou à vergonhosa retirada de “pé descalço”, com que terminou a nossa centenária permanência naquele continente (e em Timor). Vamos analisar quatro frases feitas.

“Uma guerra subversiva não pode ser ganha”.
Mentira, os ingleses ganharam na Malásia e no Quénia; as guerrilhas lançadas por Castro e Guevara, nas Américas Central e Sul, foram quase todas derrotadas; até os EUA teriam ganho a guerra do Vietname se tivessem tido a coragem e o discernimento de impor a censura nos media. Nós já tínhamos subjugado a guerrilha em Angola e estávamos muito longe de a perder na Guiné e Moçambique.

Não entendemos ou reagimos aos “ventos da História”.
Os ditos ventos são sempre soprados por quem tem poder em cada época e fartaram-se de soprar contra nós, durante séculos. O ataque, em 1961, foi apenas mais um. Temos, de facto, que estar sempre atentos a tais ventos e responder em função dos nossos interesses, não dos outros. E isso quer dizer agir e lutar dentro das nossas possibilidades e em todos os tabuleiros. Para isso necessitamos de ter Poder. A alternativa a isto é sermos escravos e bananas.

“Os militares garantiram ao poder político o tempo necessário para estes encontrarem uma solução para o conflito”.
Este argumento afigura-se-me tosco e tem uma lógica invertida. Juro que não entendo como isto se faz. Os chefes militares (quando? todos ou alguns?) vão ter com o Governo e dão-lhe um prazo? E como se calcula o tempo considerado suficiente? Dois anos? Cinco anos? Treze anos de guerra em África é muito mas os 80 anos que durou a guerra com os holandeses são aceitáveis? A Guerra da Restauração durou 28 anos: o que teria acontecido se nos tivéssemos cansado ao fim de treze? Isto tem alguma lógica ou aceitabilidade? Quando vão tropas, hoje, para o Afeganistão, ou outro lugar qualquer, o CEMGFA tem uma conversa prévia com o MDN e dá-lhe um prazo?
A um oficial ou sargento do quadro permanente não ficará muito mal estar a “queixar-se” do tempo que dura um conflito? Ele escolheu a profissão e pode ter que combater desde que se forma até que se reforma!

Finalmente, a cereja em cima do bolo: “a solução para a guerra era política e não militar”.
Confesso que entendo este argumento como o mais mirabolante de todos. Sendo a guerra, na máxima clausewitiana, a continuação da política por outros meios, pretenderiam os autores da frase a continuação da guerra através da política? O mais curioso de tudo é que a maioria dos autores deste portento, di-lo com o ar mais sério do mundo e, a seguir, cala-se, como que aliviado depois de ter proferido uma sentença absoluta! Mas, no fundo, o que querem dizer? Que propostas apresentam?
Pois é, afirmar que a solução é política e não militar que dizer tudo e não quer dizer nada… Por definição entrar-se numa guerra ou colocar-lhe um fim, é essencialmente uma decisão política – e, neste particular, anunciar que a decisão da guerra é política e não militar, transforma-se num pleonasmo…
A decisão política sobre um conflito deve ser feita tendo em conta os nossos interesses, não os do inimigo. E sendo comum aceitar-se ser a guerra uma coisa má, existe uma pior, que é justamente perdê-la.
Disse ainda o Prof. A. Moreira (e tem-no repetido amiúde), que os portugueses, desde Afonso Henriques, funcionaram sempre “em cadeia de comando” e isso explica que o povo fosse sempre cumprindo os desígnios nacionais. Eu julgo entender o que o ilustre professor quer dizer (embora nunca o explicite), mas penso que não é a verdade toda. A verdade toda é que essa cadeia de comando foi interrompida, em 1820, para só voltar a ser reposta em 1926 (melhor dizendo, em 1932), tendo-se perdido, novamente, em 1974.
E agora, volta-se à cadeia de comando ou…. a quê?

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