João J. Brandão Ferreira
(síntese)
(síntese)

A conferência foi presidida por Adriano Moreira. Sobre a subversão e a guerrilha com que nos defrontámos em África, entre 1961 e 1974-1975, lá se ouviram as mesmas frases recorrentes. Estas ideias, além de constituírem mitos, funcionam como uma espécie de autojustificação psicológica e tranquilizadora de consciências, para quem contribuiu, não se opôs ou se acomodou à vergonhosa retirada de “pé descalço”, com que terminou a nossa centenária permanência naquele continente (e em Timor). Vamos analisar quatro frases feitas.
“Uma guerra subversiva não pode ser ganha”.
Mentira, os ingleses ganharam na Malásia e no Quénia; as guerrilhas lançadas por Castro e Guevara, nas Américas Central e Sul, foram quase todas derrotadas; até os EUA teriam ganho a guerra do Vietname se tivessem tido a coragem e o discernimento de impor a censura nos media. Nós já tínhamos subjugado a guerrilha em Angola e estávamos muito longe de a perder na Guiné e Moçambique.
“Não entendemos ou reagimos aos “ventos da História”.
Os ditos ventos são sempre soprados por quem tem poder em cada época e fartaram-se de soprar contra nós, durante séculos. O ataque, em 1961, foi apenas mais um. Temos, de facto, que estar sempre atentos a tais ventos e responder em função dos nossos interesses, não dos outros. E isso quer dizer agir e lutar dentro das nossas possibilidades e em todos os tabuleiros. Para isso necessitamos de ter Poder. A alternativa a isto é sermos escravos e bananas.
“Os militares garantiram ao poder político o tempo necessário para estes encontrarem uma solução para o conflito”.
Este argumento afigura-se-me tosco e tem uma lógica invertida. Juro que não entendo como isto se faz. Os chefes militares (quando? todos ou alguns?) vão ter com o Governo e dão-lhe um prazo? E como se calcula o tempo considerado suficiente? Dois anos? Cinco anos? Treze anos de guerra em África é muito mas os 80 anos que durou a guerra com os holandeses são aceitáveis? A Guerra da Restauração durou 28 anos: o que teria acontecido se nos tivéssemos cansado ao fim de treze? Isto tem alguma lógica ou aceitabilidade? Quando vão tropas, hoje, para o Afeganistão, ou outro lugar qualquer, o CEMGFA tem uma conversa prévia com o MDN e dá-lhe um prazo?
A um oficial ou sargento do quadro permanente não ficará muito mal estar a “queixar-se” do tempo que dura um conflito? Ele escolheu a profissão e pode ter que combater desde que se forma até que se reforma!
Finalmente, a cereja em cima do bolo: “a solução para a guerra era política e não militar”.
Confesso que entendo este argumento como o mais mirabolante de todos. Sendo a guerra, na máxima clausewitiana, a continuação da política por outros meios, pretenderiam os autores da frase a continuação da guerra através da política? O mais curioso de tudo é que a maioria dos autores deste portento, di-lo com o ar mais sério do mundo e, a seguir, cala-se, como que aliviado depois de ter proferido uma sentença absoluta! Mas, no fundo, o que querem dizer? Que propostas apresentam?
Pois é, afirmar que a solução é política e não militar que dizer tudo e não quer dizer nada… Por definição entrar-se numa guerra ou colocar-lhe um fim, é essencialmente uma decisão política – e, neste particular, anunciar que a decisão da guerra é política e não militar, transforma-se num pleonasmo…
A decisão política sobre um conflito deve ser feita tendo em conta os nossos interesses, não os do inimigo. E sendo comum aceitar-se ser a guerra uma coisa má, existe uma pior, que é justamente perdê-la.
Disse ainda o Prof. A. Moreira (e tem-no repetido amiúde), que os portugueses, desde Afonso Henriques, funcionaram sempre “em cadeia de comando” e isso explica que o povo fosse sempre cumprindo os desígnios nacionais. Eu julgo entender o que o ilustre professor quer dizer (embora nunca o explicite), mas penso que não é a verdade toda. A verdade toda é que essa cadeia de comando foi interrompida, em 1820, para só voltar a ser reposta em 1926 (melhor dizendo, em 1932), tendo-se perdido, novamente, em 1974.
E agora, volta-se à cadeia de comando ou…. a quê?
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