terça-feira, 4 de outubro de 2011

A política faz-de-conta do contraterrorismo de Obama

Daniel Pipes
No início de Agosto, com trombetas e tambores, a Casa Branca disponibilizou um documento com directrizes sobre os métodos para prevenir o terrorismo, alegando ter demorado dois anos para ser elaborado. Assinado pelo próprio Barack Obama com a retórica alardeando "a força das comunidades" e a necessidade de "melhorar a compreensão da ameaça que o extremismo violento apresenta", o documento parece anódino.
Mas sob a capa, encontra-se uma abordagem contraprodutiva e perigosa quanto ao contraterrorismo. A importância desse trabalho consiste na sua firme posição no lado errado de três debates distintos sobre o contraterrorismo, com a direita responsável (e alguns liberais sensibilizados) de um lado e os islamitas, esquerdistas e multiculturalistas do outro.
O primeiro debate diz respeito à natureza do debate do problema. A direita responsável aponta para uma imensa ameaça, o islamismo, um movimento ideológico global que provocou cerca de 23 000 ataques terroristas no mundo desde o 11 de Setembro. Os islamitas negam que a sua ideologia gere violência e classificam esses 23 000 atentados como actos praticados por criminosos, loucos ou muçulmanos desorientados. Esquerdistas ocidentais e multiculturalistas concordam, trazendo sua formidável estrutura, criatividade, fundos e instituições para apoiar a negação da responsabilidade dos islamitas.

Peter King
Audiências realizadas este ano pela Câmara dos Deputados dos EUA ilustram esta diferença. Peter King (Republicano de Nova Iorque), presidente da Comissão da Segurança Interna, insistiu em lidar exclusivamente com a radicalização de muçulmanos. O democrata no mais alto posto no partido, Bennie Thompson do Mississipi, é uma excepção. Observa que "há uma variedade de grupos extremistas internos mais predominantes nos Estados Unidos do que os extremistas islâmicos, incluindo neonazis, extremistas ambientais, grupos contrários aos impostos e outros". Ele solicitou que as audiências sejam "um exame de base ampla sobre os grupos extremistas internos, independentemente de suas respectivas bases ideológicas".
King rejeitou o pedido, argumentando que "embora houvesse grupos extremistas e actos aleatórios de violência política através da nossa história, os atentados da Al Qaeda do 11 de Setembro e a ameaça permanente contra a nossa nação da Jihad Islâmica são singularmente diabólicas e ameaçadoras à segurança da América".
Bennie Thompson

O segundo debate diz respeito quanto à maneira de identificar o inimigo. Os partidos responsáveis e de Direita em geral, conversam sobre o islamismo, a jihad e o terrorismo, assim sendo, o relatório do Departamento de Polícia de Nova Iorque 2007, Radicalization in the West: The Homegrown Threat, (Radicalização no Ocidente: A Ameaça Autóctone) refere-se em sua primeira linha à ameaça "do terrorismo baseado no islamismo". Os islamitas e seus aliados falam sobre qualquer outro assunto - o extremismo violento, Al-Qaeda e as Redes Associadas (apelidada de AQAN), operação de contingência no exterior, desastres causados pelo homem e (o meu favorito) a "luta global pela segurança e o progresso". As forças do multiculturalismo realizaram profundas incursões: Uma inquirição do Departamento de Defesa dos EUA investigou o ataque em massa de 2009 no Ft. Hood realizado pelo major Nidal Hasan, que matou 14 pessoas e, o relatório a respeito, Protegendo a Força, não menciona o nome do terrorista nem reconhece sua evidente motivação islamita.
O terceiro debate diz respeito à resposta adequada. O público multiculturalista, da Esquerda Islamista, encontra a solução na parceria com os muçulmanos, juntamente com a ênfase nos direitos civis, processos justos, sem discriminação, boa vontade e impedimento de retrocesso. A Direita responsável concorda com essas metas, mas considera-as auxiliares à ampla gama de métodos militares e de imposição da lei, tais como espionagem, prisões, longas detenções, rendições, deportação, perseguição e encarceramento.
Nestes três debates encontra-se um relatório iludente da Casa Branca de 4.600 palavras, mal escrito, mal organizado, defendendo veementemente a posição islamita-esquerdista-multiculturalista.
A natureza do problema? "neo-nazis e outros grupos de ódio anti-semitas, de supremacia racial e grupos terroristas nacionais e internacionais".
O nome do inimigo? O papel em si jamais menciona o islamismo. Seu título, Fortalecendo Parceiros Locais para Evitar o Extremismo Violento nos Estados Unidos, evita mencionar até mesmo o terrorismo.
A resposta adequada? "Assim como respondemos às questões de segurança da comunidade [como a violência de gangues, tiroteios em escolas, drogas e crimes de ódio] por meio de parcerias e redes de funcionários do governo, prefeituras, policiais, organizações comunitárias e atores do sector privado, assim devemos abordar a radicalização para a violência e o recrutamento de terroristas por meio de relações semelhantes, aproveitando algumas das mesmas ferramentas e soluções".
Levantar questões de segurança comunitária revela a grave deficiência conceitual que o Los Angeles Times classifica como "implausível". O relatório elogia o "Modelo Abrangente sobre Gangues" do Departamento de Justiça, considerando-o uma estrutura flexível que "reduziu graves crimes relacionados a gangues". Bela notícia na batalha contra as gangues! Mas gangues executam operações criminosas e a violência islâmica é guerra ideológica. Membros de gangues são arruaceiros, os islamitas são fanáticos. Compará-los distorce o problema com o qual estamos lidando. Sim, ambos usam de violência, mas aplicar a técnica de um no outro é o mesmo que pedir aos pasteleiros que aconselhem o corpo de bombeiros.
A frase que começa com Fortalecendo, que reconhece o perigo do islamismo, e fixa-se num pequeno grupo, assevera que a"Al-Qaeda e suas filiadas e partidárias representam a principal ameaça terrorista ao nosso país". Ela ignora os restantes 99 porcento do movimento islamita que nada tem a ver com a Al-Qaeda, como o movimento Wahhabi, a Irmandade Muçulmana, Hizb ut-Tahrir, o governo iraniano, Hamas, Hisbolá, Jamaat ul-Fuqra, sem falar nos assim chamados solitários. A republicana Sue Myrick (republicana da Carolina do Norte) observa correctamente que o documento "levanta mais perguntas.... do que oferece respostas".
As raízes intelectuais do Fortalecimento tiveram início numa iniciativa fundada em 2004 por George Soros, o Promising Practices Guide: Developing Partnerships Between Law Enforcement and American Muslim, Arab, and Sikh Communities (Guia de Práticas Promissoras: Desenvolvendo Parcerias Entre os Agentes da Lei e as Comunidades dos Muçulmanos Americanos, Árabes e Sikh) por Deborah A. Ramirez, Sasha Cohen O'Connell e Rabia Zafar. Esses autores apresentaram a sua visão de forma inequívoca: "As ameaças mais perigosas nessa guerra [contra o terrorismo] estão arreigadas na bem sucedida propagação do medo e do ódio direccionados contra culturas e povos com os quais não estamos acostumados". A ameaça mais perigosa de todas, segundo o comunicado, não é o terror islamita, com os milhares de fatalidades mas sim um suposto preconceito amplamente difundido por americanos contra as minorias. Conforme destaquei em 2004, "O guia pode apresentar-se como ajuda ao contraterrorismo, mas o seu verdadeiro propósito é o de desviar a atenção da segurança nacional para privilegiar algumas comunidades em especial".
Embora o documento inquestionavelmente enfatize os valores constitucionais americanos e a necessidade de se fazer parcerias com os muçulmanos, não diz uma palavra sequer sobre a necessidade de se distinguir entre muçulmanos islamitas e anti-islamitas. O Fortalecimento refina o deplorável facto dos islamitas dominarem a liderança dos americanos muçulmanos organizados e que seus objectivos se identificam mais com os terroristas do que com o contraterrorismo. O temor justificado do republicano King de que o documento da Casa Branca condena a "legítima crítica no que diz respeito a determinadas organizações ou elementos radicais da comunidade muçulmana americana", algo imperativo para que se possa distinguir amigos de inimigos.
Realmente, a disposição da administração Obama em fazer parceria com muçulmanos que rejeitam a ordem constitucional explica as exultantes respostas das organizações islamistas a este documento. O Council on American-Islamic Relations (Conselho de Relações Americano Islâmicas), uma organização de fachada que apoia o terrorismo, tece elogios ao referido documento como "objectivo e holístico", o Conselho Muçulmano de Relações Públicas de mesma linha, considerou-o "muito útil".
Em contrapartida, Melvin Bledsoe, pai do convertido ao islamismo Carlos Bledsoe, que em 2009 alvejou e matou um soldado no centro de recrutamento militar em Little Rock, Arkansas, disse o seguinte: "Enquanto escamotearem, nunca irão resolver o problema". Ed Husain do Conselho de Relações Exteriores classificou-o de "pouco preocupante", tendo sido concebido principalmente com o intuito de "não ofender os muçulmanos".
Em suma, uma organização ligada a terroristas extasia-se quanto ao faz de conta da política contraterrorista da administração, enquanto o pai lutuoso de um terrorista desconsidera-o com escárnio. Isso nos diz tudo.
E agora, o que fazer com a consagração de um estudo ornamentado como política nacional? Não há atalhos: aqueles que desejam uma genuína política de contraterrorismo precisam actuar para afastar a esquerda e os multiculturalistas do governo.

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