Brad Phillips
O leitor que já
tentou chamar a atenção de um jornalista para uma notícia por via telefónica
sabe quão difícil é essa tarefa.
Quando um jornalista
diz «não», a pessoa que está a tentar convencê-lo do outro lado da linha
costuma protestar: «Mas esta questão é importantíssima!» E é provável que seja.
Mas uma coisa é
aquilo que o leitor considera importante e outra coisa muito diferente é aquilo
que O jornalista acha que é notícia.
Por exemplo, hoje em
dia há mais de 33 milhões de pessoas com o VIH em todo o mundo; esta questão é
importante.
Aos olhos de um
jornalista, contudo, essa questão tem hoje a mesma importância que terá amanhã
– a não ser que hoje aconteça qualquer coisa que tenha a ver com o VIH.
Assim, se os médicos
descobrirem uma nova vacina contra o vírus, ou se uma empresa farmacêutica
oferecer medicamentos de graça a um milhão de doentes de VIH em África, a
questão «importante» passa de repente a ser «notícia».
Um porta-voz tem de
compreender o que é que os jornalistas consideram ser notícia. Para fazer
passar uma questão, de «importante» a «notícia», basta muitas vezes
apresentá-la de um ponto de vista
inovador.
Pegue então no
assunto que decidiu propor a um jornalista e veja se ele contém algum (ou
alguns) dos seguintes ingredientes.
E, se ainda não
começou a dar atenção a estes ingredientes, pois é altura de o fazer!
Eis as 11 coisas que, para um jornalista, são notícia
1. Situações de
conflito: um jornalista é um contador de histórias, e qualquer história que se
preze apresenta um conflito. Por exemplo, se a abordagem do leitor for
discordante da abordagem de um concorrente seu, tem mais hipóteses de a sua
história ser notícia do que se as duas abordagens forem concordantes.
2. O local: de uma
maneira geral, as organizações noticiosas cobrem uma área geográfica
específica. É mais provável o jornal de um país cobrir um acontecimento de
menor importância que se passe nesse país do que um acontecimento de maior
importância que se passe no país vizinho.
3. Acidentes: tudo o
que corre mal – uma explosão industrial, um desastre de viação, um tiroteio
numa escola – tem potencial de notícia.
4. Os extremos e os
superlativos: os jornalistas adoram extremos e superlativos: o primeiro, o
último, o melhor, o pior, o maior, o mais pequeno. Se há algum extremo ou
superlativo na sua história, chame a atenção para esse facto, e é provável que
ela venha a ser notícia.
5. A novidade: as novidades
são notícia. Em geral, uma história tem de ser capaz de responder à pergunta:
«E por quê agora?» Uma história que não responda a esta pergunta deixou de ser
notícia e perdeu o interesse.
6. A oportunidade e
a relevância: uma história oportuna, por exemplo acerca de um acontecimento
iminente, é geralmente notícia; igualmente notícia são as histórias com
relevância para a especialidade de cada organização noticiosa.
7. O escândalo: o
deputado que guarda o dinheiro no frigorífico, o corretor que engana os
clientes, o músico de sucesso que assassina a companheira são quase de certeza
notícia.
8. David e Golias:
em muitas histórias, há um «grandalhão» e um «pequenino»; dado que muitos meios
de comunicação consideram que têm a missão de proteger os explorados, o
pequenino é geralmente mais bem tratado que o grandalhão.
9. A incompetência:
o gestor, o político ou a celebridade que só faz asneiras atrai quase sempre o
olhar crítico da imprensa.
10. A surpresa: as
histórias inesperadas são um isco irresistível para os jornalistas. Se o leitor
fizer um estudo e descobrir que os fritos têm afinal enormes benefícios para a
saúde, pode ter a certeza de que os meios de comunicação lhe darão imenso
espaço.
Além disso, fará de
mim um homem feliz.
11. A hipocrisia:
guardei para o fim a minha preferida. Por exemplo, um político que se opõe aos
direitos dos homossexuais e é apanhado com um amante; ou o presidente de um
canil que é apanhado a maltratar os seus cães. Poucas histórias são mais
deliciosas para um jornalista que as de pessoas com poder que fazem o contrário
daquilo que apregoam; e estas histórias quase sempre ocupam os títulos
noticiosos durante dias ou mesmo semanas a fio.
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