Com a devida vénia, dou
divulgação ao testemunho do Dr. José Ribeiro e Castro, ex-presidente da
Comissão de Negócios Estrangeiros da Assembleia da República, no seu blogue «Avenida
da Liberdade»:
A questão de
Olivença é uma delicada pendência dormente nas relações luso-espanholas. É, não
– era! Um alcaide «voluntarioso» do lado espanhol resolveu chutar o tema para
as primeiras páginas dos jornais. E inevitavelmente para a primeira linha da
política. Agora, procura dobrar a língua, mas o mal está feito e o seu gesto
tem tudo menos de inocente.
Nos últimos anos, o
ambiente melhorava: com apoio das autoridades regionais extremenhas, a
autarquia de Olivença abrira-se à revelação das raízes portuguesas, recuperando
e reafirmando traços identitários na toponímia histórica das ruas e em
festivais anuais de matriz portuguesa. Simultaneamente, com algum pragmatismo,
dos dois lados da fronteira, descobriam-se formas imaginosas de tornear
dificuldades políticas, a fim de responder às necessidades das populações - por
exemplo, no dossier de reabilitação de uma ponte de acesso à vila. Este
desanuviamento revelava grande sentido prático e era um processo inteligente,
que procurava andar para diante sem ferir o alto melindre político da questão.
As autoridades locais e regionais espanholas pareciam interessadas em avivar a
especial identidade de Olivença, até para a singularizar na região como pólo
específico de procura turística, e circunscrevendo o processo a traços de
identidade cultural, sem entrar obviamente pelo delicadíssimo - e
potencialmente explosivo - plano político.
Estávamos nós postos
neste sossego, quando o «enérgico» alcalde Bernardino Píriz aterra em
Olivenza e resolve reabrir a Guerra de las Naranjas. Desde há semanas que
éramos altertados para a provocação que congeminou. Até que o PS e autarcas
locais do lado português - a meu ver, bem - resolveram agarrar no assunto. Além
do disparate político monumental, a iniciativa do novo alcaide oliventino
interrompe esforços positivos que os autarcas alentejanos vizinhos conhecem bem
e estavam a acompanhar e apoiar.
«Festejar» a Guerra
das Laranjas em Olivença é uma coisa de flagrante mau gosto. Seria um pouco
como a Rainha Isabel II ir celebrar a Gibraltar o Jubileu de Diamante no
próximo mês de Junho.
José Ribeiro e
Castro
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