Heduíno Gomes
A
propósito do recente congresso do Bloco de Esquerda, ocorrem algumas reflexões
sobre o facto de uma esquerdalha que já não se usa ter conseguido uma posição
tão importante nos meios de comunicação e mesmo no Parlamento. Isso deve-se à
conjugação das suas 3 fontes de alimentação.
A primeira fonte de alimentação
do BE, ou sua base social, é a pequena-burguesia e média-burguesia
urbanas, radicais de esquerda e abastadas.
Basta
observar pela televisão os seus congressos para ver que tipo de pessoas lá
estão sentadas ou se passeia pela entrada: barbudos de ar rancoroso, muitos
deles ainda a sonhar com o Maio de 68 e o 25A, meninas chiques emancipadas e
outras menos meninas e mais frustradas, revolucionários de salão fazendo
lembrar certas personagens de Nélson Rodrigues, uns frágeis a enfeitar e gente
assim. Toda esta nata da revolução, com alguma experiência de organização
proveniente de anteriores militâncias na extrema-esquerda, constitui a espinha
dorsal da organização. E certamente bastante endinheirada pois a propaganda
gigantesca que fazem não é barata.
A segunda fonte de alimentação
do BE, ou sua muleta, é o PS. Na
esperança de abrir brechas no PCP, a máquina do PS instalada nos media lançou
o BE e continua a levá-lo ao colo. A operação não resultou lá muito bem, pois o
PCP possui uma base social própria e organização sólida, que resistem ao BE e
vão definhando apenas à medida que se verifica o seu envelhecimento sem a
correspondente renovação da sua base. Por outro lado, com o radicalismo
pequeno-burguês do BE, o próprio PS se viu fustigado: voltou-se o feitiço
contra o feiticeiro. Mas, para o PS, o seu investimento no BE pode vir a dar
frutos numa possível coligação, para obter maioria parlamentar, se, entretanto,
o BE se adaptar ao poder ou então não vier a extinguir-se.
A terceira fonte de alimentação
do BE, ou sua retaguarda de organização, é a rede transversal de
invertidos.
Como
é sabido, o BE possui no seu interior uma forte representação de invertidos,
uns assumidos, outros não. Quem melhor poderia dar o mote e fazer o trabalho de
preparação ideológica para a decadência moral e jurídica do que o BE? Assim, os
invertidos disseminados pelo PS e PSD não podem deixar de ver com bons olhos o
BE, como seu próprio motor, motor das causas «fracturantes».E
depois, mesmo estando nesses partidos, da simpatia ao apoio, mesmo que
discreto, vai um passo. Por vezes, o apoio às causas do BE (& associados)
até toma dimensões de escândalo. Foi o caso do desastrado então Grão-Mestre do
GOL António Reis, como membro da comissão para a comemoração do centenário da I
República, criada por Sócrates, ao ter feito questão de incorporar no seu
programa a «normalização» dos anormais, no caso os chamados «casamentos» entre elas
e elas e entre eles e eles.
Assim
se compreende que o BE faz parte de várias estratégias, todas concorrendo para
o apoiar porque a todos esses ou essas lhes convém.
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