terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O homem de hoje é considerado apenas
na perspectiva biológica, alerta o Papa

Dos jornais

O Papa Bento XVI disse que o homem de hoje é considerado apenas em chave biológica, como se fosse um mero «capital humano» ou «recurso» de uma «engrenagem produtiva ou financeira» devido à indiferença à relação mais importante do ser humano: a relação com Deus.
Assim referiu o Santo Padre esta manhã no seu discurso aos participantes da assembleia plenária do Pontifício Conselho Justiça e Paz. Nele o Papa afirmou que «embora a defesa dos direitos tenha feito grandes progressos no nosso tempo, a cultura de hoje, caracterizada, entre outros, por um individualismo utilitarista e um economicismo tecnocrático, tende a desvalorizar a pessoa».
«Isto vem concebido como um ser ‘fluído’, sem consistência permanente. Apesar de estar imerso numa rede infinita de relações e de comunicações, o homem de hoje paradoxalmente parece sempre um ser isolado, porque indiferente a respeito da relação constitutiva do seu ser, que é a raiz de todos os outros relacionamentos, a relação com Deus».
O Papa denunciou logo que «o homem de hoje é considerado chave predominantemente biológica ou como ‘capital humano’, ‘recurso’, parte de um sistema produtivo e financeiro que o domina».
«Se, por um lado, se continua a proclamar a dignidade da pessoa humana, por outro, novas ideologias – como aquela hedonística e egoísta dos direitos sexuais e reprodutivos ou aquela de um capitalismo financeiro desregulado que prevalece na política e desconstrói a economia real – contribuem para considerar o trabalhador e o seu trabalho como bens ‘menores’ e a minar os fundamentos naturais da sociedade, especialmente a família».
O Santo Padre afirmou ademais que «na realidade, o ser humano, constitutivamente transcendente a respeito dos outros seres e bens terrenos, tem uma liderança real que o coloca como responsável de si mesmo e da criação. Concretamente, pelo Cristianismo, o trabalho é um bem fundamental para o homem em vista da sua personalização, da sua socialização, da formação de uma família, a contribuição para o bem comum e para a paz».
«Por isso mesmo, o objectivo do acesso ao trabalho para todos é sempre prioritário, também nos períodos de recessão económica», acrescentou.
«A partir de uma nova evangelização da sociedade pode derivar um novo humanismo e um renovado empenho cultural e projectivo. Esta ajuda a destronar os ídolos modernos, para substituir o individualismo, o consumismo materialista e a tecnocracia, com a cultura da fraternidade, da gratuidade e do amor solidário», disse.
«Jesus Cristo resumiu e cumpriu os preceitos de um novo mandamento: ‘Como eu vos amei, assim amais também vós uns aos outros»; aqui está o segredo de cada vida social plenamente humana e pacífica, e da renovação da política e das instituições nacionais e mundiais. O beato Papa João XXIII motivou o empenho para a construção de uma comunidade mundial, com uma correspondente autoridade, movendo-se pelo amor, e precisamente o amor para o bem comum da família humana», recordou o Pontífice.
«Assim lemos na Pacem in terris: ‘Existe uma relação entre os conteúdos históricos do bem comum de um lado e a configuração dos Poderes públicos do outro’. A ordem moral, isto é, como exige a autoridade pública na convivência para a implementação do bem comum, por consequência exige também que a autoridade para tal campo seja eficiente».
A Igreja, precisou o Papa Bento, «certamente não tem a tarefa de sugerir, do ponto de vista jurídico e político, a configuração concreta de uma tal ordem internacional, mas oferece a quem tem a responsabilidade por esses princípios de reflexão, critérios de julgamento e orientações práticas que possam garantir o quadro antropológico e ético em torno do bem comum».
«Na reflexão, no entanto, deve-se ter em mente que não se deve imaginar um superpoder, concentrado nas mãos de poucos, que dominaria sobre todos os povos, tirando proveito dos mais fracos, mas que toda a autoridade deve ser entendida, antes de tudo, como força moral, faculdade de influir segundo a razão, isto é, como autoridade de propriedade, limitada pela competência e pelo direito», concluiu o Pontífice.
 

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