«Pai, perdoa-lhes que eles não sabem o que fazem».
Jesus Cristo
O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), dependente do Ministério da Justiça, decidiu não autorizar o rótulo «Memórias de Salazar» com que o Município de Santa Comba Dão pretendia comercializar algum vinho da região.
Não sei se os
promotores da iniciativa têm algum desígnio político/ideológico subjacente à
mesma ou, apenas, pretendem fazer comércio e, ou, promover a terra, etc. A eles
caberá elucidar.
Seja o que fôr
parece um direito normalíssimo num regime político e numa sociedade que se
afirma da mais pura Democracia – mas que deixa, afinal, muito a desejar quanto
à prática.
O que é
pasmoso, porém, é a argumentação vertida como justificação (note-se que não se
invocou qualquer impedimento legal), atente-se: «Podia ofender a consciência
colectiva e fazer perigar a ordem pública».
Ou
seja os senhores do INPI arvoraram-se em censores, lavraram um estatuto de
menoridade mental e cívica, à população e, pelo meio, ainda passaram um
atestado de incompetência às Forças de Segurança.
Partindo do
princípio de que não actuaram como correias de transmissão de poderes fácticos,
mas apenas em função da sua consciência, vamos tentar provar que se devem
preocupar melhor com esta do que com aquela, a que apelidam de colectiva e de
que se confessam estrénuos preocupados e defensores.
Não sabemos em
que estudos de opinião se basearam para opinarem sobre os perigos que impendem
sobre a tal «consciência colectiva» mas, porventura, um dia nos queiram
elucidar.
Meditem bem,
pois se a moda pega poucos dos políticos contemporâneos vão poder, futuramente,
ter o seu nome em qualquer rótulo e anúncio que se invente!…
Não
sei até onde irão os escrúpulos persecutórios do INPI, mas receio que possam lembrar-se de instigar a tutela a
proibir a venda de qualquer objecto que lembre o «feroz ditador», quer seja na
Feira da Ladra ou no mais respeitável antiquário ou, quiçá, a criminalizar quem
tenha em casa, sei lá, um busto ou uma foto de tão perigosa personagem.
Sugiro, por
outro lado, que recomendem à Sociedade Portuguesa de Autores para que qualquer
livro ou filme sobre o… (eu já nem me atrevo a dizer o nome!), não escancare a
carantonha ou o apelido de quem tratamos.
Iria, até, mais
longe: desaconselharia vivamente, sob ameaça de penas eternas, que qualquer
historiador – a não ser aqueles formados na escola do Dr. Rosas – investigue
sobre o dito cujo.
Finalmente a
Conferência Episcopal recomendaria a todos os oficiantes da Santa Missa, que
usassem de uma qualquer fórmula que substituísse o nome do mais ilustre nascido
no Vimioso, aquando das raras missas rezadas em sufrágio da sua alma (o Sr.
Bispo D. Januário estaria, obviamente, dispensado desta fraternidade
apostólica).
Coerência
oblige!
Se
o ridículo e a falta de vergonha matassem, esta gente caía fulminada. Mas estão
vivos e recomendam-se.
Faltas de
vergonha têm-na em abundância, pois quando se permitem estes despautérios,
convivem alegremente, por ex., com a invasão de T-Shirts (e outra memorália), com que se revestiu o peito de muita
da juventude do «Ocidente» com a figura do Che
Guevara – um psicopata ideológico que assassinou, directa e indirectamente,
milhares de pessoas, transfigurado em ícone libertário!
Estranho,
outrossim, que o INPI não se moleste com a enorme estátua do Marquês de Pombal,
que mandou trucidar os Távoras e o Duque de Aveiro, num espectáculo bárbaro que
horrorizou as elites europeias de então.
Como facilmente
podem constatar todos os dias passam por lá milhares de pessoas e não há
notícia de anomalias na consciência colectiva, nem existem polícias a
guardá-la.
E certamente
ainda não repararam que a estátua encima a maior avenida de Lisboa, que se
chama «da Liberdade», quando o Marquês encarna, entre nós, o «Despotismo
Esclarecido»…
Algo de
semelhante se passa com a estátua de estadão com que se agraciou D. Pedro IV,
no Rossio (parece que representa o Maximiliano I, do México, mas isso entra no
capitulo que refere «escrever Deus direito, por linhas tortas»).
Ora, Pedro de
Bragança, enquanto Príncipe Herdeiro, traíu o Rei (que, por acaso, era seu pai)
e a Nação, ao revoltar-se e consumar a secessão do Brasil, que era a maior
parcela do território nacional.
Passados uns
anos e muitos milhares de mortos e outras desgraças, depois, veio a ser coroado
Rei de Portugal e lá está na sua estátua, sem que a consciência colectiva (e os
pombos) sofra minimamente com isso.
E se
estão tão preocupados com «decência» – presumo que seja disso que se trata –
porque não se empolgam contra o triste espectáculo da homenagem feita pelo PCP,
no último congresso, à memória de Álvaro Cunhal, um estalinista ferrenho que,
durante décadas, andou a defender os interesses de uma potência estrangeira, a
URSS, inimiga figadal do nosso país?
E chamam-lhe «patriota»
e «defensor dos trabalhadores»?
Como se atrevem
ao despudor de falarem, agora, em Independência Nacional quando se referem à «Troika»?
Há por aí algum
Partido que queira homenagear o Cristóvão de Moura e o Miguel de Vasconcelos?
E por falar em
consciência (ou moral) colectiva, digam lá óh senhores do INPI, se espreitarem
uma sessão da Assembleia da República e outra da «Casa dos Segredos», às vezes
não sentem dúvidas sobre qual é qual?
Numa época de
desenfreado «Relativismo Moral», desnorte político e corrupção infrene, aquilo
que mais vos preocupa é um rótulo com a palavra «Salazar»?
V. Excelências
não se enxergam, pois não?
*****
Bom,
vamos partir do princípio, que cremos correcto, de que não se deve dar
dignidade pública a quem não a merece por uma questão de higiene cívica e
moral.
A avaliar pelo
que se disse e fez à figura de Salazar, o homem deve habitar no mais profundo
dos infernos!
Retiraram o seu
nome de ruas e praças; apearam-lhe as estátuas (quando não as destruíram à
bomba – isto sim, um problema de ordem pública), mudaram cavilosamente o nome
de uma ponte que mandara construir (e que ele, na sua sabedoria, previu),
chamando-lhe 25/4 – quando foi inaugurada a 6/8 – assassinaram-no politica e
moralmente; apostrofaram-no no discurso público e nos livros da Escola,
enterrando-o na mais vil das valas comuns.
Não contentes
com tudo isto até querem riscar o seu nome dos rótulos do vinho, de que ele,
por sinal, foi um pequeno produtor! Será que entrámos no reino da paranoia?
Não deixa de
ser estranho, tudo isto – e aqui sim, entra a consciência colectiva – quando
ele foi um homem de origem humilde, que subiu a pulso, sem gozar do favor de
ninguém e ter chegado ao Poder sem lutar por ele, mas a pedido de outrem.
Saneou
as finanças em menos de dois anos (sem ajuda do FMI nem do BCE) e equilibrou o
orçamento durante 40 anos, garantindo uma das moedas mais fortes e respeitadas
do mundo e acumulando enormes reservas de ouro e divisas.
Recebeu
um país falido, moralmente esfrangalhado, em guerra civil permanente (entre
1921 e 1925 rebentaram, só em Lisboa, 325 bombas)[1] –
herança de 90 anos de liberalismo falhado e 16 anos de republicanismo jacobino,
serôdio, absolutamente pavorosos – e, em poucos anos tirou a Nação da lama e o
Estado da sarjeta, em que se encontravam. E quando por esse mundo fora, se
empregava o termo «portugalizar» com um significado dos mais infamantes!
Que lavagem ao
cérebro foi feita à população para se ter chegado à falta de consciência
histórica actual?!
Como
se pode compreender e aceitar tanto desvario mental e cobardia moral?
*****
Porque será,
então, que um governante que nunca perdeu uma batalha política em toda a sua
vida - excepção feita para a perda inestimável dos sagrados territórios de Goa,
Damão e Diu, que só não se podem considerar cativos da escabrosa invasão da
União Indiana, em 18/12/1961, porque um desvairado governo português a
reconheceu «de Jure», em 1975 – ganhou, aparentemente, tanta inimizade e ódio?
Vejamos, em termos pessoais:
Ele roubava?
Era pedófilo? Batia na governanta (já que nunca casou)? Drogava-se?
Embriagava-se? Esteve envolvido nalgum escândalo? Mentia? Tinha outros vícios?
Era corrupto? Cobarde? Formou-se ao domingo?
Posta a questão
ao contrário, conhece-se algum aleijão moral, que colidisse com os 10
Mandamentos da Lei de Deus ou com a lisura com que nos devemos comportar em
sociedade?
Em termos políticos:
Foi
incompetente? Não defendeu sempre a individualidade e identidade de Portugal?
Traíu o seu País? Desertou de algum combate? Não defendeu sempre os interesses
portugueses sem tergiversar, e só esses? Deixou que algum país ou instituição
tivesse afrontado Portugal e ficasse sem resposta?
Mandou matar alguém? (Não venham com essa do Delgado, pois não há provas nem é
crível); Quis entregar o país a organizações secretas internacionalistas? Havia
algum organismo do Estado que não pagasse a horas? Algum se endividou?
Não dava o
exemplo? Acaso dizia uma coisa hoje e outra diferente, no dia seguinte, com o
maior dos à-vontades? Fez promessas que não cumpriu? Lembram-se de alguma gaffe
pública? Desbaratou alguma vez os dinheiros públicos? Inventou alguma «PPP»?
Nacionalizou algum banco – e respectivo buraco financeiro - com o dinheiro dos
contribuintes?
Não desenvolveu lenta, mas sustentadamente, todo o país?
Não melhorou a
Indústria, o Comércio, a Agricultura, a Pesca, as Minas, a Marinha Mercante, as
Forças Armadas, as Artes, a Educação, a Justiça, enfim, todos os sectores da
vida nacional, tanto na Metrópole como no Ultramar? (Foi pouco, dizem, digamos
que foi parcimonioso e equilibrado, gastando o que se podia com a riqueza
criada e sem estar enfeudado ou dependente de ninguém!).
A
lista podia continuar.
De que se acusa
então, o excelente e sério, Professor de Coimbra, de uma integridade rara e à
prova de bala, que se alcandorou à categoria de estadista de nível
internacional chegando a ser apelidado de «Le
sage de l’ Occident»?[2]
Pois acusa-se o
Homem de não ser «democrata»! Coisa que ele, aliás, sempre assumiu e nunca
contestou.
Mas também
parece que D. João II foi um excelente Rei e não consta que tenha sido
democrata…
E, já agora,
desde quando é que ser «democrata» é garantia de se ser bom em seja o que for?
Bem
lhe chamou, José Hermano Saraiva, na sua derradeira entrevista televisiva, de «Ditador
Santo». Opinião de certo modo corroborada
por seu irmão António – um reconhecido e respeitado intelectual - e arrependido
comunista – que disse de Salazar, e cito: «Salazar foi, sem dúvida, um dos
homens mais notáveis da História de Portugal e possuía uma qualidade que os
homens notáveis nem sempre possuem: a recta intenção».[3]
Creio
que esta foi, até hoje, a mais conseguida síntese sobre Salazar.
Por tudo o que
se disse e o muito que ficou por dizer, se pode concluir que a campanha
constante e doentia, da maioria dos círculos políticos e mediáticos, contra o «Botas»,
como depreciativamente lhe chamam – vejam que até aproveitam a sua parcimónia
económica no calçar, para o tentarem desprestigiar – apenas reflete um
incontrolável medo e pavor por alguém que jaz em campa rasa, por sua vontade,
há 44 anos.
Medo e pavor da
sua memória e exemplo, que não conseguem apagar e desmerecer.
Não lhes chegam
aos calcanhares e sabem disso.
E muitos têm
ainda, medo e pavor de que o rol extenso de crimes, traições, incompetências,
sujidades morais e alarvidades várias, que cometeram – tudo, aliás, em nome dos
princípios democráticos, sempre invocados – apareçam cada vez mais recortados
como condenáveis, obscuros e mesquinhos face à luz que emana da obra de um «ditador».
Parafraseando o Cristo, «Pai tem cuidado ao
perdoar-lhes, pois eles sabem bem o que fizeram e continuam a fazer»…
PS. Se quiser mostrar a sua indignação e o ridiculo envie email para o INPI atm@inpi.pt
PS. Se quiser mostrar a sua indignação e o ridiculo envie email para o INPI atm@inpi.pt
[1] Ver relatório do Comandante da PSP de Lisboa, em
1925, Coronel Ferreira do Amaral.
[2] «O sábio do Ocidente». Ver Boletim Geral do Ultramar, Ano 41, nº 482 (Ago. 1965), p.27-35.
[3] Semanário «Expresso», de 12/04/1989
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