domingo, 6 de abril de 2014

A verdadeira história de Aristides Sousa Mendes


O embaixador Carlos Fernandes é um homem de elevada cultura e detentor de um currículo impressionante. Diplomata de carreira, foi também professor universitário e tem uma vasta obra publicada. Conheceu Aristides Sousa Mendes e, cansado de ler e ouvir tão abundantes como mirabolantes fantasias a seu respeito, decidiu escrever o livro «O Cônsul Aristides Sousa Mendes. A Verdade e a Mentira» para repor a verdade histórica, sem deixar de evidenciar a sua simpatia pessoal por Aristides. O jornal Diabo foi recebido em casa do embaixador e entrevistou-o.

O Diabo – O seu livro está a ter um grande sucesso?


Embaixador Carlos Fernandes – Sim, é notável. Mal saiu tive imensos telefonemas e pedidos de livrarias. A primeira edição esgotou rapidamente. A segunda edição estará disponível esta semana. Muita gente me tem contactado para saber onde pode adquiri-lo. Normalmente indico a Livraria Apolo 70, em Lisboa, mas já tive pedidos de outras livrarias. Isso significa que as pessoas têm interesse no tema... As pessoas andavam adormecidas. O português é assim, anda calado até que um dia explode. Ninguém quer ondas e deixa andar, até que há um dia em que as pessoas dizem que «a galinha é gorda demais».

O seu livro é principalmente uma contestação ao livro de Rui Afonso?
Exactamente. É um livro de História, completamente imparcial (se alguém achar que não é, que me diga que eu corrijo), não é a favor de ninguém, nem contra ninguém. Também não me meto na vida privada do Aristides – acho que as pessoas não se devem meter na vida privada dos outros – até porque ele teve uma vida muito complicada.

Conheceu Aristides Sousa Mendes, como era a sua relação com ele?
Nada me move contra o Aristides, pelo contrário. Conheci-o num período muito difícil da vida dele e depois ajudei dois dos seus filhos. Um, o Geraldo, a quem fiz a prova escrita de concurso para o Ministério, mas ele não era capaz. Nem ele nem o filho do secretário-geral, que estavam juntos. O Rui Afonso diz que o filho foi perseguido. O filho do secretário-geral também foi? Também ajudei outro filho, o Sebastião, em Nova Iorque.

Há quem ponha Aristides Sousa Mendes
como uma questão de esquerdas e direitas... 
Quem vir a coisa assim vicia a solução à partida. Até porque ele era da extrema-direita. Era monárquico da extrema-direita e por isso foi para Vigo como cônsul político. Há uma carta dele, que eu publico em anexo no livro, em que ele se gaba de ter perseguido os políticos vencidos no 28 de Maio. É triste, essa carta... Nunca ninguém a publicou.

Como foi possível a construção do mito de Aristides Sousa Mendes?
Eles pensavam, naturalmente, que ninguém apareceria a contar a verdade.
Mas deviam saber que eu não poderia ficar calado.






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